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Educação

Um programa para a melhoria do ensino público

A FAPESP está lançando um novo programa que poderá produzir, a médio prazo, efeitos benéficos sobre as pesquisas e as reflexões no campo da educação, e, principalmente, impactos extremamente positivos sobre o ensino público de primeiro e segundo graus, em São Paulo, a depender do aproveitamento de seus resultados pela rede pública. Trata-se do Programa de Pesquisas Aplicadas sobre a Melhoria do Ensino Público no Estado de São Paulo .

O programa, para o qual serão alocados recursos iniciais de R$ 5 milhões, vai financiar, como seu nome indica, pesquisas aplicadas sobre problemas concretos de ensino, com duração de até quatro anos, a serem desenvolvidas em parceria entre pesquisadores ligados a instituições de pesquisa do Estado de São Paulo e profissionais vinculados a determinada escola pública. A parceria deverá estar estabelecida desde a elaboração do projeto, uma vez que se pretende que ele reflita, efetivamente, preocupações nascidas da própria realidade cotidiana das escolas.

“A pretensão da FAPESP não é apenas viabilizar o diagnóstico de problemas que afetam o ensino público, mas também a implementação de medidas para a superação desses problemas”, diz o diretor científico da Fundação, professor José Fernando Perez. “Temos, portanto, em mente um sistema de pesquisa/ação, em escala piloto, experimental, com uma presença significativa do pesquisador dentro do ambiente onde se desenvolve o projeto, refletindo e agindo sobre a realidade concreta, guiado por uma metodologia de pesquisa bem definida”, acrescenta.

O programa foi elaborado, segundo o professor Perez, a partir de proposta do Conselho Superior da FAPESP, apresentada por ocasião do lançamento, no final do ano passado, de um outro programa que implica parceria e a articulação de pesquisadores com outro grupo profissional alheio a instituições de pesquisa -o de Inovação Tecnológica, que envolve empresários. Trata-se, assim, de mais uma inidativa que reflete a atual preocupação da Fundação em induzir pesquisas que atendam a notórias demandas do desenvolvimento sócio-econômico. “Neste caso do ensino público, aliás, a manifestação do Conselho Superior traduzia uma preocupação difusa da comunidade científica”, comenta o diretor científico da Fundação.

Pré-projetos e outras inovações
Dada a partida para a formulação. do programa, inclusive com a sugestão do Conselho Superior para que fossem ouvidos pesquisadores e professores de escolas públicas, antes que se chegasse a sua forma definitiva, a diretoria científica realizou uma série de reuniões com profissionais das áreas visadas. E desses encontros saiu a proposta inovadora de que pesquisadores que tivessem alguma interação com escolas públicas encaminhassem pré-projetos à FAPESP, que poderiam contribuir para a própria definição do programa.

“O surpreendente foi que, apesar da divulgação restrita das nossas intenções, recebemos quase uma centena de pré-projetos, que foram extremamente úteis para o detalhamento das linhas do programa. Surpreendente para nós foi, também, o grau de interação que existe entre pesquisadores de diversas áreas interessados em educação e escolas públicas”, observa o professor Perez. Os pré-projetos apresentados, quando orientados para o segundo grau, focalizaram com muita intensidade problemas ligados ao ensino das ciências, e aqueles voltados para o primeiro grau revelaram uma atenção toda especial com o ensino de português e de matemática. “Mas nos chegaram propostas de todas as áreas, inclusive artes e educação física”, diz ainda o diretor científico da Fundação.

Sobre esse material muito rico, o programa pode ser estruturado com várias novidades, em relação à prática mais usual da FAPESP. Assim, por exemplo, além dos ítens que normalmente são financiados em projetos de pesquisa tradicionais, como equipamentos, material de consumo e eventuais serviços de terceiros, nesse programa a FAPESP poderá financiar também infra-estrutura no próprio lugar alvo do trabalho de pesquisa, ou seja, a escola. Isso significa a possibilidade de investir na reforma de laboratórios, na instalação de equipamentos de informática e ligação com a Rede Acadêmica do Estado de São Paulo (Rede ANSP) , na instalação de equipamentos de vídeo, bibliotecas etc. Uma outra inovação significativa é que a FAPESP concederá bolsas aos docentes da escola pública que estejam participando dos projetos, “até para viabilizar e valorizar sua participação”.

Com tais aberturas, os projetos certamente serão dispendiosos, o que faz prever que, na primeira fase, o novo programa terá fôlego para financiar, com os R$ 5 milhôes alocados, algo entre 15 e 20 prójetos em todo o Estado de SãoPaulo. “Certamente, dentro do mar de lágrimas que afeta o ensino público de primeiro e segundo graus, isso parecerá uma gota d’água, mas representa, para a FAPESP, um investimento significativo”, diz o professor Perez. Mais importante, ainda, segundo ele, é perceber, nessa iniciativa, a possibilidade que existe de transferência dos resultados obtidos numa experiência piloto, para uma escala ampla, o que evidentemente já pertence ao âmbito da política educacional.

Prazos definidos
Já formalmente aprovado pelo Conselho Técnico Administrativo da FAPESP, o novo programa tem definidos os prazos para encaminhamento das propostas. O primeiro prazo é 9 de fevereiro próximo, quando os interessados terão que dar entrada a anteprojetos na Fundação (mesmo que na fase de elaboração do Programa tenham apresentado pré-projetos). Esses anteprojetos serão avaliados quanto ao mérito e à conformidades às diretrizes do programa.

Os responsáveis pelas propostas aprovadas nessa primeira seleção, serão, então, convidados a apresentar, até o final de abril, projetos definitivos, bem detalhados. Neles terão de estar claramente definidos a pesquisa que se pretende fazer, a estratégia de atuação prevista no ambiente, os resultados esperados e os critérios para a avaliação do grau de sucesso obtido do ponto de vista do aperfeiçoamento do ensino público. Selecionados, até o final de maio, os projetos que serão apoiados pela FAPESP, eles deverão ser efetivamente iniciados, no mais tardar, no início do segundo semestre letivo de 1996.

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