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Política de saúde

Uma estratégia de controle da AIDS

A Secretaria Estadual da Saúde e a FAPESP podem unir esforços para traçar prováveis cenários futuros da AIDS no Estado de São Paulo e, articuladas a eles, políticas estratégicas para o controle da doença. Um passo importante nesse sentido foi a reunião realizada na sede da Fundação, no dia 12 de junho passado, em torno do cientista Yves Souteyrand, da Agence Nationale des Recherches sur le Sida (Agência Nacional de Pesquisas sobre a AIDS), órgão do governo francês.

A platéia de cerca de 30 pessoas que ouviu o pesquisador incluía o Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, José da Silva Guedes, o diretor presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, e pesquisadores das várias áreas de investigação científica da AIDS ligados a instituições paulistas, além de alguns do Rio de Janeiro, Minas Gerais e do Chile.

Souteyrand fez uma detalhada apresentação do amplo trabalho prospectivo realizado na França sob sua coordenação, entre 1994 e 1996, para traçar os cenários possíveis da AIDS naquele país, até o ano de 2010. As informações que ele forneceu eram justamente os subsídios que a Secretaria da Saúde precisava para decidir sobre a viabilidade da elaboração de um projeto semelhante ao francês, em São Paulo.

A Secretaria e a Fundação têm um acordo amplo de cooperação para induzir pesquisas em problemas prioritários de saúde pública no Estado, entre eles, produção de vacinas, doenças emergentes e reemergentes, hemoterapia, AIDS, saúde mental e saúde bucal. Além disso, têm o propósito de envolver os pesquisadores das várias instituições paulistas ligadas à investigação científica no campo da saúde com o planejamento da política de saúde pública do Estado, em especial naquilo que ela depende de C&T.

O Secretário José da Silva Guedes disse, após a apresentação de Souteyrand, que é importante que o financiamento à pesquisa na área de saúde deixe de atender somente a demanda espontânea dos pesquisadores e volte-se também para os problemas definidos como prioritários pelo Estado. “Entre eles, há temas da maior importância científica, como a AIDS, que exigem um programa de pesquisas de longo prazo. Essa questão do tempo, aliás, torna fundamental nossa parceria com a FAPESP, uma instituição que pode garantir a estabilidade de processos de investigação científica, sempre mais longos que o tempo de uma gestão de governo”.

O professor Francisco Landi, por sua vez, observou que a FAPESP investe cerca de 25% de seus recursos para pesquisa nas áreas de Saúde e Medicina. “‘É possivel estimular determinadas linhas de pesquisa para que tais investimentos sejam mais eficientes do ponto de vista social do que já são”.

Cenários possíveis
Em sua palestra, Yves Souteyrand revelou detalhes do processo de envolvimento de dezenas de pesquisadores com o projeto prospectivo sobre AIDS bancado pelo governo francês, e mostrou de que maneira, com o concurso desses especialistas, pôde-se chegar a cinco prováveis cenários da doença no ano de 2010, com toda sua caracterização social e científica.

O cenário da existência de um tratamento estabilizador da doença, que aumentaria em muito o período assintomático da doença nos portadores do HIV, foi apontado como “muito provável”. Já o da existência de uma vacina eficaz e sem efeitos colaterais foi definido como “muito pouco provável”, assim como o da desilusão catastrófica. Os cenários de cura completa e “cada um por si” foram definidos como “pouco prováveis”, enquanto o de epidemia assumida ganhou a classificação de “provável”.

A França, segundo Souteyrand, gasta 7 bilhões de francos ou US$1,4 bilhão com AIDS. Cerca de 80% desses gastos referem-se a custos de hospitalização, ficando o resto para dividir entre prevenção, pesquisa, tratamentos ambulatoriais etc. O gasto equivale a mais ou menos 1% do orçamento público francês para a saúde, que é da ordem de 650 bilhões de francos ou US$130 bilhões (o orçamento brasileiro estimado para 1997 é de US$ 20 bilhões).

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