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Pesquisa Espacial

Evento na FAPESP reúne cientistas da NASA e de universidades paulistas

A FAPESP sediou, no dia 29 de setembro passado, encontro entre cientistas da NASA e pesquisadores paulistas. Os cientistas norte-americanos vieram falar sobre as linhas de pesquisa previstas para serem realizadas na Estação Espacial Internacional (ou International Space Station – ISS) e a participação brasileira.

Na abertura do encontro, o diretor presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, destacou a importância daquela reunião, classificando-a como uma oportunidade de os cientistas brasileiros ampliarem suas informações sobre o desenvolvimento de pesquisas no espaço, e mais especificamente na ISS. E salientou que um dos objetivos do evento era motivar cientistas e engenheiros paulistas a engajar-se nessas pesquisas, que poderão ter apoio da Fundação.

A ISS é uma estação voltada exclusivamente para a realização de pesquisas científicas e o início de seu funcionamento está previsto para o ano 2002. E embora a sua construção esteja sendo conduzida pelas agências espaciais dos Estados Unidos, Canadá, Rússia, Europa e Japão, outros países poderão utilizar suas instalações de pesquisa para realizar experimentos próprios. O Brasil, cuja participação está sendo conduzida pela INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é um deles.

Estiveram presentes ao encontro na FAPESP o coordenador do INPE, Volker Kircchoff, e pesquisadores de diversas universidades paulistas principalmente das áreas de Biologia, Farmacologia, Engenharia, Física, Química e Ciências da Terra e Espaciais. Atuaram como coordenadores dos debates os professores José Maria Saiz Jabardo, da Escola de Engenharia da USP/São Carlos Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Unicamp, Cláudio Riccomini, do Instituto de Geociências da USP, e Glaucius Oliva, do Instituto de Física da USP/São Carlos.

A pesquisa na ISS
A primeira palestra do encontro coube ao cientista John-David Bartoe, que fez uma ampla introdução sobre a ISS e o plano de pesquisas da NASA na Estação. Inicialmente, ele assinalou os principais objetivos desse plano: estabelecer um programa inédito de pesquisa em microgravidade nos campos da biologia, química e física gravitacional; estabelecer um ponto favorável, acima da atmosfera, para observação da Terra e do cosmos; promover o investimento do setor privado no uso do espaço, de forma a que os conhecimentos obtidos ali tenham aplicações terrestres; desenvolver um programa de bancos de testes em engenharia e operações espaciais, envolvendo o setor industrial, possibilitando o estudo de tecnologias para futura exploração do espaço; investigar alterações biomédicas de seres humanos vivendo e trabalhando no espaço; e unir as comunidades do mundo através da cooperação do governo, do setor acadêmico e privado, para revolucionar a técnica de exploração e desenvolvimento da fronteira espacial.

Para alcançar todos esses objetivos, as pesquisas na Estação Espacial Internacional deverão concentrar-se em três grandes áreas: Ciência da Microgravidade, Ciência da Vida Espacial e Ciência da Terra e do Espaço. A primeira compreende campos específicos da Física, Química, Biologia e Engenharia, como o dos Fluidos, da Combustão, dos Materiais, da Cultura de Tecido Celular e da Cristalização de Proteínas. A segunda abrange os campos da Biologia Gravitacional e da Vida Humana, e a terceira, diversos campos da Geociências, além de Meteorologia, Sensoriamento Remoto, etc.

De acordo com o cientista Neal Pellis, que falou sobre pesquisas na área da Biologia Celular, a grande vantagem de se realizar experimentos em ambiente de microgravidade é a possibilidade de estudar a Também para Patton Downey, que tratou do tema cristalografia de proteínas, a vantagem de célula de maneira redimensional, sem que ela sofra qualquer tipo de modificação estrutural. Segundo ele, os trabalhos desenvolvidos no espaço poderão auxiliar no combate a doenças como câncer de mama e cólon e diabetes, entre outras. experimentos no ambiente espacial é que os cristais se ordenam em perfeita ordem, permitindo o conhecimento exato de sua estrutura e facilitando estudos como o da difração de Raios-X.

Outros três cientistas – Howard Ross, Donald Gillies e Dean Eppler – falaram respectivamente sobre a importância de pesquisa em ambiente de microgravidade no campo dos Fluidos e dos Materiais, e sobre os estudos que serão feitos na área das ciências Espaciais e da Terra, como monitoração das variações atmosféricas e químicas, variações sazonais e temporais no ozônio atmosférico e outros gases, variações na irradiação solar, acompanhamento de mudanças na vegetação, uso e cobertura da terra, etc.

“A ISS sobrevoará 75% da superfície habitada da Terra e 95% da população do planeta. O Brasil deverá ser visualizado uma órbita por dia, com uma passagem média de 7 a 13 minutos. Os tempos de passagem variam de 1 a 17 minutos, dependendo da orientação da posição da Terra com o país e o campo de visualização de um determinado instrumento”, destacou Dean Eppler.

No caso específico da Biologia Gravitacional, John-David Bartoe relacionou algumas alterações verificadas com freqüência durante vôos espaciais, sempre em decorrência da microgravidade, como as mudanças nas atividades cardiovasculares, os distúrbiosde equilíbrio, e os problemas ósseos e musculares: a eficiência muscular do indivíduo tende a diminuir, o mesmo acontecendo com a sua densidade óssea, que se reduz 1% ao mês. “O vôo espacial oferece a oportunidade única para investigações controladas do papel da gravidade nos processos fisiológicos básicos”, disse ele.

Capacidade da ISS
Para realizar essas pesquisas, a Estação Espacial Internacional, que terá a extensão de um campo de futebol, disporá de laboratórios de pesquisa de microgravidade, quatorze plataformas de observação do espaço, janela para pesquisas relacionadas à visualização da terra e sensoriamento remoto, serviços de processamento de dados e comunicações para operar os instrumentos durante os experimentos. Além disso, a ISS contará com a presença constante de tripulação especialmente treinada para realizar atividades de Pesquisa e Desenvolvimento e uma rede mundial em terra para operações de aquisição, distribuição e arquivamento de dados.

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