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Opinião

O papel das academias

Realizou-se de 6 a 11 de setembro, no Rio de Janeiro, a 6a Conferência Geral da Academia de Ciências do Terceiro Mundo (TWAS), presidida pelo prof. José Israel Vargas, também ministro da Ciência e Tecnologia. A pedido do governo, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou o evento e foi igualmente responsável pelo “Inter-Academy Panel”, que reuniu 23 das mais importantes Academias do mundo. O tema central foi o papel da Ciência e a responsabilidade dos nossos cientistas em promover um desenvolvimento sustentável.

A reunião reforçou nossa convicção de que não basta a ABC possuir em seus quadros os melhores cientistas do país. É preciso engajá-los nos estudos dos grandes temas multidisciplinares (saúde, educação, energia, meio ambiente etc.), considerados essenciais para o desenvolvimento nacional.

Ciência e conhecimento baseado em Ciência e Tecnologia são os grandes propulsores das mudanças na sociedade moderna, também chamada de Sociedade do Conhecimento. O que distingue os países do primeiro mundo é o uso regular dos instrumentos e ações que a Ciência e Tecnologia oferecem. É necessário, conseqüentemente, mudar nossa cultura e vencer uma certa incredulidade que eles também podem e devem ser utilizados em nosso país, tanto pelo setor público como pelo privado.

Para isso, é necessário reforçar o nosso sistema de C&T com a participação importante da Ciência e da Educação. Nada mais justo, por isso, do que priorizar-se a universalização da educação básica. Equívoco seria contrapor essa prioridade àquela que merece o ensino superior e a Universidade, onde se formam os recursos humanos responsáveis por todos os níveis educacionais e pelo funcionamento do sistema de C&T.

Há desafios que os cientistas brasileiros, igual ao que ocorre em outros países, estão enfrentando: 1. Preservar a liberdade e criatividade, essenciais à ciência básica e atender as necessidades da sociedade para o desenvolvimento; 2. Expandir amplamente a base científica nacional – o que é necessário – e participar de projetos especiais com grande relevância sócio-econômica.

Para eles, não há uma resposta simples nem definitiva; a regra de ouro é manter permanente interação com os setores público e privado, contribuindo para a formulação das políticas nacionais de C&T. Para isso, o local privilegiado é o recentemente criado Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT), presidido pessoalmente pelo Presidente da República. Lá estão representados os agentes que poderão colaborar para: 1. Elevar o nível educacional; 2. Conciliar liberdade de pesquisa com necessidades de desenvolvimento; 3. Aumentar a competitividade e a participação do setor produtivo e 4. elevar a porcentagem do PIB em C&T.

Finalmente, deve ser acentuado que os documentos produzidos pela ABC sobre os grandes temas de C&T nacionais, e que fornecerão ao governo e à sociedade subsídios para elaborar políticas corretas que melhor atendam aos interesses nacionais, deverão sempre ter características objetivas e rigor científico, assegurando a credibilidade conquistada pela ABC.

Eduardo Moacir Krieger é médico, diretor da Unidade de Hipertensão do Incor, presidente da Academia Brasileira de Ciências e membro do Conselho Nacional de Ciências e Tecnologia

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