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Humanidades

Uma nova metodologia de ensino para deficientes auditivos

Uma nova metodologia para a alfabetização de deficientes auditivos, que utiliza os avançados recursos da multimídia, está sendo desenvolvida por uma equipe de pesquisadores e professores coordenada pelo professor Fredric Michael Litto, da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo é melhorar o aproveitamento escolar e o desempenho desses alunos, tanto em classes especiais quanto em escolas comuns, especialmente quanto à leitura e à escrita.

O trabalho, que teve início em fevereiro passado na Escola Municipal de Ensino para Deficiente Auditivo Anne Sullivan, localizada no bairro do Morumbi, zona sul da capital paulista, envolve sessenta pessoas, entre pesquisadores da USP e professores, e integra o Programa de Pesquisas Aplicadas sobre a Melhoria do Ensino Público, da FAPESP, que está investindo R$ 142 mil nesse projeto.”A metodologia que ainda está sendo utilizada nas escolas, com os deficientes auditivos, é totalmente defasada.

Os alunos aprendem as palavras isoladamente, associando-as a objetos, e não são capazes de construir frases com fluidez e nível de semântica mais complexos”, diz Litto. E ele exemplifica:”Os professores mostram um copo aos alunos e fazem com que eles associem a palavra copo ao objeto que estão vendo. Só que isso não permite que o aluno consiga formar frases ou inserir a palavra que aprendeu em um contexto com um certo nível de complexidade”.

O novo método de ensino faz uso do computador e dos recursos de multimídia, como hipertextos (documentos não seqüenciais), CD-ROMs, softwares especiais para deficientes auditivos, vídeo-lasers, e fotografias, entre outros. “Todos esses recursos permitem que o aluno adquira novos níveis de compreensão e, ao mesmo tempo, possa acompanhar a velocidade com que as novas tecnologias estão se impondo no mundo atual”, diz o coordenador do projeto.

O professor Litto explica que a facilidade que o computador apresenta é que o aluno tem a possibilidade de navegar em diferentes espaços conceituais (palavras, imagens, textos, sons), aprofundando-se nas áreas em que ele tem mais dificuldade ou interesse.

“O objetivo é alfabetizá-lo de uma maneira mais complexa, sempre inserindo as palavras aprendidas em seus diversos contextos”.

Metodologia e tecnologia
Todo o desenvolvimento da pesquisa gira em torno da criação de uma “midiateca”, ou seja, uma biblioteca multimídia, à qual os cerca de 400 alunos da Escola tenham total acesso. Ela compreende a formação de um banco de dados sobre deficiência auditiva, para referenciamento de pesquisa, que será utilizado para desenvolver novos materiaisdidáticos para deficientes em fase de alfabetização. Segundo o coordenador técnico do projeto, Márcio Ueno, esse banco de dados consiste no primeiro levantamento bibliográfico completo para referenciamento de pesquisa sobre deficiência auditiva no país. Cerca de 200 títulos de livros já foram levantados, além de brinquedos didáticos. A midiateca possuirá, também, um centro de documentação, que vai reunir livros, CD-ROMs, fotografias, vídeos-lasers, etc.

“A midiateca vai servir como um ambiente de aprendizagem muito mais rico do que a sala-de-aula convencional”, comenta Litto. “O professor terá à sua disposição um leque de material, que ele deverá organizar, permitindo que o aluno seja capaz de fazer o seu próprio trabalho”.

Em paralelo à implantação da midiateca, estão sendo feitos dois estudos: um sobre a metodologia, ou linhas teóricas que embasarão a produção do material didático, e outro sobre tecnologia, ou seja, os diferentes recursos e meios a serem utilizados no processo de ensino.

“O programa da FAPESP nos ajudou a tirar o projeto do papel, porque já vínhamos pesquisando o assunto e trabalhando nessa nova metodologia de ensino para deficientes auditivos há dois anos, mas sem recursos para viabilizá-lo”, diz Márcio Ueno.

Para a instalação da midiateca da Escola, a Câmara do Comércio Americana, localizada na vizinhança, cedeu material e mão-de-obra para a construção de uma sala adicional no prédio escolar, porque neste não havia espaço disponível para todo o material que está sendo adquirido.

Professores pesquisadores
Além de ajudar os alunos e a Escola Anne Sullivan, segundo o professor Litto, o programa vai ensinar aos professores como utilizar essa tecnologia. “Nós queremos passar para esses professores a experiência na área de pesquisa, sem fazer com que eles fiquem dependentes da universidade, mas que possam continuar o trabalho sozinhos”.

O coordenador geral do projeto faz questão de destacar que, apesar das dificuldades, os professores estão muito estimulados. “Temos certeza de que esse projeto vai continuar mesmo depois que terminarmos o nosso trabalho”, acrescenta. Os pesquisadores da USP esperam, ainda, que essa nova metodologia de ensino sirva como modelo para outras escolas que ainda utilizam o método tradicional de alfabetização de deficientes auditivos.

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