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Carta do editor | 29

Pesquisa orientada para a sociedade

É cada vez menor a fronteira que separa a pesquisa básica da pesquisa aplicada. Esta divisão era clara, no passado, quando se elaboravam modelos em que elas eram vistas como etapas distintas, no máximo, algumas vezes, complementares. O clássico modelo – pesquisa básica (r) pesquisa aplicada (r) desenvolvimento – era adotado sem discussões. Hoje, os limites já não são tão nítidos. As vacinas desenvolvidas no Instituto Butantan, o relógio atômico desenvolvido no Instituto de Física da USP, campus de São Carlos, e a rede de radares meteorológicos implantada no Estado são exemplos dessa profunda integração.

O que mudou? Na origem mais remota daquilo que aciona e move a atividade científica está, desde sempre, um traço intrínseco à natureza humana: o desejo de conhecer, decifrar e dominar o desconhecido. Em paralelo, e cada vez mais à medida em que as sociedades vão se tornando mais complexas, a atividade científica se torna também o instrumental capaz de dar respostas às suas necessidades. Em nossos dias – de mudanças rápidas e de intensa competitividade – veio se somar a indispensável necessidade do desenvolvimento econômico.

Em artigo publicado na edição No. 22 do Notícias FAPESP, o secretário de Governo e Gestão Estratégica, Antônio Angarita, fez uma interessante distinção entre os modelos indiano e japonês de desenvolvimento científico como pré-requisito do desenvolvimento econômico. O primeiro enfatizando a ciência básica, o segundo, a ciência aplicada. Em nosso entender, mais do que contrapor um modelo ao outro, o que deve ser buscado no Brasil é o equilíbrio entre os dois modelos, tendo sempre em mente que a Ciência e a Tecnologia devem estar a serviço da sociedade e do interesse do país. E o equilíbrio pressupõe tanto priorizar a Educação, como formadora de recursos humanos, quanto estimular a aproximação entre os cientistas e os setores empresarial e governamental.

Nesta edição, o articulista da seção Opinião, Dr. José Goldemberg, ao analisar a questão dos cortes de bolsa do Governo Federal, assinala não só a importância de que seja restabelecido o seu número, como, também, de que se efetivem investimentos na infra-estrutura laboratorial, indispensáveis para viabilizar as pesquisas e assegurar a formação de competentes profissionais. E dá ênfase à aproximação entre o setor de pesquisa e o setor produtivo. Aí, vale destacar o trabalho da FAPERGS e da UFRGS, em parceria com o Sebrae do Rio Grande do Sul, o trabalho da FAPESP, com os seus programas de inovação tecnológica e, agora, o novo PADCT assinado com o Banco Mundial, essencialmente nos moldes de plataformas tecnológicas e projetos cooperativos (veja seção Notas, nesta edição). Essa questão, inclusive, é abordada com bastante rigor pelo Dr. Goldemberg, em artigo na revista Science, edição de 20 de fevereiro último.

Na FAPESP, temos aprovado inúmeros projetos de grande interesse científico e, simultaneamente, com impacto no desenvolvimento econômico, como os citados no início deste editorial. São uma feliz combinação de geração de conhecimento, formação de recursos humanos e suporte ao desenvolvimento tecnológico. Inversamente, na lista dos projetos de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas aprovados encontram-se apenas temas de conhecimento de ponta, em que a pesquisa básica se aproxima da aplicada.

O melhor exemplo, porém, desse modelo integrado de desenvolvimento de C&T é o Projeto Genoma-FAPESP. Ele é de fato um grande programa de formação de recursos humanos, envolvendo universidades públicas e privadas, institutos de pesquisa e empresas privadas, em todo o Estado. Simultaneamente, gera-se uma tecnologia de grande importância, ainda não dominada pelos nossos cientistas. E tudo isto direcionado à solução de um problema de enorme importância para a economia paulista e brasileira.

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