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Ciência e Indústria, uma parceria possível

Está definitivamente implantado no Brasil um novo modelo de desenvolvimento tecnológico, pelo qual as instituições acadêmicas e o setor empresarial realizam trabalhos conjuntos, com resultados proveitosos para ambos. No dia 26 de maio último, no Salão Nobre da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ficou claro que há interesses convergentes e conquistas conjuntas aproximando essas duas forças tradicionalmente distantes, mas fundamentais para o desenvolvimento do país.

Naquele dia, a FAPESP promoveu, na Fiesp, o seminário “A FAPESP e a Inovação Tecnológica”, quando apresentou, para uma platéia de cerca de 200 pesquisadores e empresários, o funcionamento e os resultados iniciais dos dois programas da Fundação que incentivam a pesquisa de novos produtos ou processos industriais: o Programa de Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), implementado a partir de abril de 1995, e o Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), lançado em junho do ano passado.

Na mesa, conduzindo o encontro, estavam o secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Flávio Fava de Moraes, o vice-presidente da Fiesp, Max Schaeffer, os empresários José Mindlin e Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, diretores respectivamente do Departamento de Tecnologia e Departamento de Micro e Pequena Indústria da Fiesp, o presidente do Conselho Superior da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e o diretor presidente, o diretor administrativo e o diretor científico da Fundação, respectivamente Francisco Romeu Landi, Joaquim José de Camargo Engler e José Fernando Perez, o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Eduardo MoacyrKrieger, e o diretor da Escola Politécnica da USP, Antônio Massola.

No Salão, estavam expostos pai-néis com informações relativas a 27 dos 31 projetos de pesquisa aprovados e já em andamento no âmbito do Programa de Parceria para Inovação Tecnológica e aos 31 projetos aprovados na primeira rodada do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas. Nesses dois programas a FAPESP já aprovou recursos da ordem de R$ 6 milhões.

As pesquisas que se desenvolvem em parceria vão, por exemplo, da caracterização de antígenos de cisticercos para o desenvolvimento de reagentes diagnósticos para cisticerco se humana à produção de cilindros de aço rápido para laminação de tiras a quente; da construção e operação de usina piloto para recuperação de Gálio a partir do Licor de Bayer à produção de soro e vacina botulínicas, envolvendo empresas como a Biolab-Mérieux, a Aços Villares, a Companhia Brasileira de Alumínio e a Solvay Saúde Animal.

Os projetos que se desenvolvem nas pequenas empresas envolvem pesquisas que visam da produção de hormônio do crescimento humano pela tecnologia do DNA recombinante ao desenvolvimento de um sistema computacional para análise de lesões cutâneas ou de um eletrocardiógrafo de baixo custo associado ao um microcomputador, passando pela fabricação de produtos de quartzo fundido.

“A FAPESP decidiu semear, mas semear em terreno fértil”, disse José Fernando Perez, em sua palestra sobre os dois programas. “Esse modelo atingiu a maturidade, o que nos torna otimistas de que podemos dar uma contribuição ainda mais efetiva ao desenvolvimento do parque industrial de São Paulo.”

De portas abertas
Ao abrir o evento, o vice-presidente da Fiesp, Max Schaeffer, classificou o sistema de incentivo à inovação tecnológica criado pela FAPESP como “uma das mais efetivas iniciativas adotadas nesse campo”. Em seguida, acrescentou que, desse modo, “a FAPESP assume um papel extremamente importante como parceira do empresário, no esforço para proporcionar à indústria um salto de qualidade, condição para o desenvolvimento”. Depois de destacar que o país não tem sido capaz de implementar, com a urgência necessária, “políticas que incentivem a geração tecnológica própria, fator determinante do poder de competição das empresas e do desenvolvimento”, Max Schaeffer ressaltou a atuação da Fiesp nessa área, especialmente por meio do Senai e do Departamento de Tecnologia da Federação. E mostrou o interesse em prosseguir na busca cooperada por tecnologias próprias.

“Estamos de portas abertas, oferecendo a colaboração da nossa estrutura técnica”, disse ele, salientando, ainda, a prioridade dada pela FAPESP às empresas de pequeno porte, as que enfrentam as maiores dificuldades, a despeito de sua importância para o país. O diretor titular do Departamento de Tecnologia da Fiesp, José Mindlin, ressaltou o “fato novo” que a reunião na Fiesp mostrava, isto é, a associação de três setores funda mentais para o país – empresas, instituições de pesquisa e universidade – em um trabalho conjunto de desenvolvimento. “A soma de esforços que esses três setores fazem é muito maior do que a soma aritmética,” disse. E acrescentou: “Creio que todos estamos felizes no dia de hoje, porque é um momento excepcional.

A FAPESP é uma das melhores instituições que o Brasil possui, um núcleo de resistência e seriedade que resistiu a todas as pressões políticas. Defendo a tese de que ela deve ser considerada intocável em seus objetivos. É motivo de grande orgulho a FAPESP estar aqui. Só posso dar as boas vindas. “O secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Flávio Fava de Moraes, ex-reitor da USP e ex-diretor científico da FAPESP, historiou a ação da Fundação no desenvolvimento científico e tecnológico do Estado, salientando, inclusive, que esse desenvolvimento pode ser dividido em duas etapas: antes e depois da existência da instituição.

“Desde 1962, quando iniciou suas atividades, a FAPESP tinha um desafio a cumprir, que era a formação de recursos humanos qualificados, atendendo às demandas de formação dos nossos jovens e, também, de apoio quase individualizado aos pesquisadores que já tinham alguma competência”. O passo seguinte da Fundação foi, simultaneamente, patrocinar projetos especiais de longo alcance e, em seguida, agregar os pesquisadores do Estado em torno de projetos temáticos.

“Mais do que isso, no entanto, ela incrementou a iniciativa de inovações tecnológicas no âmbito das próprias instituições de pesquisa e na procura de parcerias”, assinalou Fava, para em seguida acrescentar: ” É preciso que os investimentos realizados se traduzam em produtos e, principalmente, na satisfação das demandas sociais, que o desenvolvimento científico e tecnológico pode proporcionar”.

Adam Smith e as fábricas
Na visão do presidente do Conselho Superior da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, o desafio brasileiro atual é “transformar ciência em riqueza”. Em seu pronunciamento, ele lembrou que o trabalho conjunto entre a comunidade acadêmica, o governo e as empresas é essencial para atender às exigências de desenvolvimento tecnológico e da competitividade industrial. “Temos que incorporar ciência, incorporar conhecimento aos produtos e às atividades da empresa, no nosso país”. Ainda há, porém, um longo caminho a cumprir. No Brasil, lembrou Brito Cruz, não passa de 9.000 o total de cientistas e engenheiros trabalhando em pesquisa e desenvolvimento nas empresas.

A Coréia do Sul, que também procura ocupar espaços no cenário econômico internacional, embora com um terço da população, tem mais de 60.000 cientistas e engenheiros incorporando tecnologia aos produtos, nas empresas. Um dos resultados dessa diferença é que a Coréia registra cerca de 900 patentes por ano nos Estados Unidos, enquanto o registro do Brasil está em torno de 60. Brito Cruz disse, em seguida, que há dois caminhos que levam ao desenvolvimento tecnológico industrial.

O primeiro é a interação entre universidades e instituições de pesquisa, apontado pelo programa de parcerias. O outro, viabilizado com os planos dirigidos especificamente às pequenas empresas, é o estímulo à atividade de pesquisa dentro das indústrias, com seus próprios cientistas. Brito Cruz disse ter percebido essa estratégia de desenvolvimento lendo o economista inglês Adam Smith, que viveu entre 1723 e 1790.

Em sua obra clássica A Riqueza das Nações, de 1776, Smith defendia a necessidade de inovação tecnológica, que deveria ocorrer dentro das fábricas, a partir dos homens que trabalham com as diretor- máquinas. Para o presidente da Fundação, Francisco Romeu Landi, a exposição com painéis sobre os projetos de inovação tecnológica em andamento são uma demonstração de que no Brasil se faz pesquisa de primeiro mundo. “A pequena empresa pode não ter capital, mas com certeza tem capacidade de inovação”.

“A FAPESP assume um papel extremamente importante como parceira do empresário, no esforço para proporcionarà indústria um salto de qualidade, que é a condição para o desenvolvimento.”
Max Schaeffer

“É preciso que os investimentos realizados se traduzam em produtos e, principalmente, na satisfação das demandas sociais que o desenvolvimento científico e tecnológico pode proporcionar.”
Flávio Fava de Moares

“Eu considero a FAPESP uma das melhores instituições que o Brasil possui; é um núcleo de competência e de seriedade, que resistiu durante todos esses anos a todas as pressões políticas. Defendo a tese de que ela deve ser considerada intocável em seus objetivos”
José Mindlin

“Temos que incorporar ciência, incorporar conhecimentos aos produtos eàs atividades da empresa no nosso país.”
Carlos Henrique de Brito Cruz

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