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Opinião

Novo desafio

Não há mais dúvida de que uma nação moderna já é, e será por muito tempo, definida pelo equilíbrio e pela pujança do seu desenvolvimento econômico-social. Mais do que essa rotineira afirmativa, é inquestionável que tal conquista é absolutamente dependente da sua própria competência geradora em Ciência e Tecnologia. Este setor, considerado como base sedutora e eficaz do saber, do poder e da riqueza, talvez seja o único e relevante solucionador das autênticas necessidades exigidas pela humanidade.

Mesmo em países desenvolvidos, habituados a investir em Ciência-Tecnologia-Educação, e em particular nos menos desenvolvidos como o Brasil, é cada vez mais freqüente e contundente as dúvidas, reclamos e acrimônia sobre se estão sendo convincentes os benefícios sociais decorrentes desses investimentos. É verdade que essas manifestações, muitas vezes, são oriundas de setores políticos e tecnoburocratas consagrados como manipuladores contábeis dos recursos públicos que, apesar de usufruírem cotidianamente dos avanços técnico-científicos, são incompetentes para visualizarem o conhecimento agregado, além de menosprezarem a comunidade científica como “casta da ociosidade privilegiada”, dissociada da verdadeira realidade.

Tornou-se repetitiva e aborrecida as inúmeras exemplificações que precisam ser dadas para demonstrar a impropriedade daquelas falácias. O atestado inequívoco do bom desempenho brasileiro é dado por conceituados órgãos internacionais interessados em identificar e localizar as principais vanguardas do sistema, mediante indicadores de qualificação dos mais rígidos. Como mero exemplo, pode-se citar a recente hierarquia publicado em 1997, pelo Science Watch, classificando o Brasil no 18 lugar entre os 30 principais países do mundo na produção científico-tecnológica (à frente de países como Áustria, Noruega, Grécia, Hungria, Argentina, México, entre outros).

Mas todas as críticas, quando pertinentes, são indispensáveis para que não ocorra a perniciosa acomodação e o perigoso comprometimento do futuro. Este está vinculado à excelência inovadora de nossa atuante comunidade, associada à seriedade e capacidade gestora das respectivas lideranças. Nesta complexa equação para o desenvolvimento, inúmeras e exitosas ações foram cuidadosa e gradativamente efetivadas pela FAPESP durante seus 36 anos de atividades. A mais recente e ousada, o Programa de Pesquisas em Políticas Públicas, merece um destaque especial, face ao enorme desafio a que submete todos os setores mais diretamente envolvidos nessa relevante questão: Governo/Comunidade Científica/Demandas da Sociedade.

No Estado de São Paulo está a maior e mais qualificada reserva de capital humano do Brasil (mesmo comparada aos países latinoamericanos) responsável, pelo menos, pela metade da sua produção científico-tecnológica e por quase 70% das titulações de mestrado/doutorado. Possui também a maior e mais atualizada infra-estrutura de serviços, equipamentos, bibliotecas e insumos necessários para a execução de projetos de pesquisa científico-tecnológica em todas as áreas do conhecimento.

Basta recordar que, nestes últimos cinco anos (1994-98), o Estado de São Paulo executou o maior plano de investimentos em infra-estrutura e projetos de Ciência e Tecnologia de sua história, sendo R$ 1,155 bilhão (um bilhão cento e cinqüenta e cinco milhões) oriundos exclusivamente da FAPESP. Se São Paulo tem gente qualificada e meios para desenvolver Ciência e Tecnologia, esta nova etapa do Programa de Pesquisa de Políticas Públicas procura, sem inventar a originalidade, aumentar o dever pessoal pela ação coletiva de nossa pesquisa interdisciplinar em temas problemáticos e que demandam urgente solução com máximo benefício social.

Inicia-se uma nova etapa, que comprova a contínua e obrigatória reflexão da FAPESP para mais uma ação pioneira e referencial. Certamente não precisará de açodamento para ser justitificada, pois sua premissa básica é estar comprometida com o sucesso do nosso futuro.

Flávio Fava de Moraes é secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, membro do Conselho Superior da FAPESP e ex-reitor da USP.

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