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Carta do editor | 34

Demanda X Indução

Historicamente, boa parte das agências de fomento à pesquisa iniciou suas atividades pelo atendimento puro e simples das solicitações dos pesquisadores. A aplicação dos recursos das agências refletia, assim, com grande proximidade, o pensamento dos próprios pesquisadores a respeito do que era importante investigar, em cada área do conhecimento, a cada tempo.

Sem dúvida, é dificil estabelecer com rigor o que determina o interesse de um pesquisador por dado problema científico ou tecnológico, ou mesmo por um campo específico de conhecimento. As motivações resultam de uma interação complexa de talento, inclinações, gostos, valores familiares, ambiente educacional, formação, circunstâncias de vida, etc, etc. As escolhas refletem simultaneamente o indivíduo no que lhe é mais radicalmente pessoal, em particular quando se trata de pessoa especialmente talentosa e criativa, e a sociedade da qual ele é parte integrante.

Ora, tudo isso constitui uma espécie de background sobre o qual eram e são ainda montadas as solicitações de recursos dos pesquisadores às agências de fomento à pesquisa, enquanto suas determinações mais imediatas são os papers lidos, os contatos com outros pesquisadores, as visitas a laboratórios, o envolvimento com a sociedade, em síntese, um conjunto de fontes de informação que estimula solicitações em determinadas linhas de pesquisa.

Gradativamente, em paralelo ao atendimento da demanda espontânea, também chamada demanda de balcão, as aplicações de recursos das agências, em anos mais recentes, começaram a se encaminhar para o financiamento de programas mais complexos, e que assumidamente imprimiam uma direção prévia às solicitações dos pesquisadores. São os chamados programas de indução.

Os programas de indução podem seguir duas linhas básicas de orientação: ou definem a área do conhecimento na qual se desejam pesquisas ou definem um determinado setor social para o qual devem confluir projetos, sem restrição a áreas de conhecimento.

Hoje, a principal crítica que se faz quando uma agência privilegia a demanda espontânea é que ela não atende prioritariamente o interesse nacional ou beneficia projetos desvinculados do interesse nacional. No caso da demanda induzida, a crítica vai no sentido de que a definição de prioridades acaba por empobrecer o desenvolvimento do conhecimento, não o tornando harmônico e quase sempre privilegiando o setor tecnológico em detrimento do científico.

Tivemos, no passado, uma ênfase na demanda espontânea, que hoje está sendo transferida para a induzida, em conseqüência de uma necessidade do desenvolvimento social e econômico por que passa o mundo.

A FAPESP tem se preocupado em apoiar equilibradamente as duas vertentes. A demanda de balcão continua tendo um grande peso, sem restrições de qualquer ordem para qualquer projeto de mérito que seja apresentado à Fundação. Os programas de indução, contudo, ganham uma grande força, dirigindo-se a áreas estratégicas para nosso desenvolvimento. Exemplares nesse sentido são o Programa de Apoio ao Ensino Básico, o de Inovação Tecnológica e, mais recentemente, o Genoma-FAPESP, o Programa de Políticas Públicas e o de Centros de Ciência, Tecnologia e Difusão. A sabedoria, parece-nos, consiste em saber equilibrar os pólos do sistema.

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