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Carta do editor | 35

Como enfrentar os desafios tecnológicos impostos pela globalização

Realizou-se na FAPESP, no dia 3 de setembro, um seminário sobre Inovação Tecnológica, por ocasião do Encontro entre o Fórum Nacional dos Secretários para Assuntos de Ciência e Tecnologia e o Fórum das Fundações de Amparo à Pesquisa do Brasil. O seminário destinava-se a organizar os muitos conceitos existentes sobre o assunto para uma tomada de posição dos dois Fóruns. Buscou-se discutir o processo de globalização e suas conseqüências tecnológicas para o desenvolvimento sócio-econômico brasileiro. Ao lado disso, discutiu-se como melhorar os processos de formação de recursos humanos e como transferir o conhecimento obtido nas universidades e centros de pesquisa, ou mesmo conhecimentos produzidos no exterior, para as nossas empresas.

Como nos prepararmos para o enfrentamento que o mundo capitalista propõe ao Brasil? Como dar condições para que a nossa sociedade possa encarar esse capitalismo tão cheio de artimanhas, que propõe a abertura total do comércio entre os países, reduzindo o mais possível as tarifas alfandegárias, mas, ao mesmo tempo, se cuida com proteções tarifárias e não tarifárias (normas, metrologia, qualidade etc)?

Informou-se, por exemplo, que os Estados Unidos possuem 44 mil autoridades, aplicando 89 mil normas que regulam suas compras na América Latina e no Caribe. Além disso, naquele país, o Estado exerce seu grande poder de compra, definindo que vários produtos só podem ser adquiridos de produtores norte-americanos. A questão chega a ponto de estados norte-americanos darem preferência a produtos de empresas do próprio estado.

Mostrou-se também que o Brasil inova pouco e patenteia menos ainda, chegando a alguns números absurdos. Enquanto a Coréia do Sul obteve 2.773 patentes, entre 96 e 97, no mercado norte-americano (o melhor mercado do mundo e, por isso mesmo, o mais disputado), o Brasil registrou apenas 68, e a maior parte feita por uma única empresa, a estatal Petrobrás. Mesmo no Brasil, o registro de patentes de residentes no exterior (leia-se, empresas internacionais) é em número muito maior que o de residentes no país.

Aceita-se claramente que o maior esforço de desenvolvimento deve estar nas empresas. A inovação tecnológica é o principal fator para a competição internacional aberta ou para a disputa de nichos de mercado. E a inovação ocorre particularmente nas empresas, valendo destacar o papel das pequenas empresas. Criar estímulo às empresas, na forma de incentivos fiscais ou subsídios feitos diretamente, constitui uma importante base para a inovação e, por isso, para o desenvolvimento. Recursos públicos precisam ser dirigidos nesse sentido.

O desenvolvimento de um país deve ser buscado de forma harmoniosa, considerando-se todas as frentes de conhecimento, das clássicas às mais promissoras para o próximo século, como a biotecnologia, as tecnologias da informação e novas fontes de energia. Tecnologias clássicas e emergentes devem ser associadas para explorar áreas nas quais o país tem claras vantagens competitivas, sem o que, até mesmo nessas áreas, estaremos futuramente adquirindo tecnologia desenvolvida no exterior.

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