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BIODIVERSIDADE

Um prêmio para o Biota-FAPESP

É o Henry Ford de Conservação Ambiental como iniciativa do ano

Uma vitória pela biodiversidade. O programa Biota-FAPESP, o Instituto Virtual da Biodiversidade, ganhou, em 24 de novembro, o Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental na categoria “Iniciativa do ano em conservação”. Esta foi a quarta edição do evento, resultado de um trabalho conjunto entre a Ford Brasil e a Conservation International do Brasil (organização não-governamental com sede em Belo Horizonte). O Prêmio Henry Ford tem como meta incentivar trabalhos que se destaquem na implantação de projetos de conservação da natureza e da qualidade de vida, servindo de modelo para todo o país. A premiação (reconhecida como uma das mais importantes da área) abrange tanto iniciativas de organizações quanto de pessoas, distribuídas em quatro categorias. Os projetos vencedores recebem US$ 10 mil.

A escolha do Biota-FAPESP levou em conta as dimensões inéditas do programa, considerado o mais ambicioso na área ambiental já realizado no Brasil. “É uma iniciativa que envolve um amplo esforço de integração da comunidade científica”, reconhece Heloísa de Oliveira, coordenadora de projetos da Conservation International do Brasil e responsável pela organização do Prêmio Henry Ford. O Biota-FAPESP tem como objetivo mapear e analisar o conjunto da fauna e da flora do Estado de São Paulo, o que abrange todas as formas de vida, desde os microrganismos até os seres mais evoluídos. Isso representa um universo de 250 mil quilômetros quadrados, território maior do que a Grã-Bretanha.

O prêmio foi entregue em cerimônia realizada em Recife (PE) com a presença do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho. Da parte dos organizadores, estavam presentes Martin Inglis e Antônio Maciel Neto, respectivamente presidente da Ford América do Sul e da Ford Brasil, e Roberto Cavalcanti, presidente da Conservation International do Brasil. Recebeu o prêmio, pela FAPESP, Rogério Meneghini, coordenador adjunto da diretoria Científica da Fundação.

Rede virtual
O Biota-FAPESP foi lançado em março deste ano. O programa veio ao encontro de uma série de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil após a realização da ECO 92 (em especial a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Agenda 21), que preconizam o uso sustentável dos recursos naturais e um novo modelo de desenvolvimento. Multidisciplinar, o programa é integrado por dezenas de projetos temáticos articulados entre si. O Biota-FAPESP não tem sede fixa, congregando mais de 200 pesquisadores paulistas por meio da Internet (www.biotasp.org.br). Sua proposta é formar um amplo banco de dados virtual sobre a biodiversidade paulista. Essas informações serão utilizadas para a elaboração de políticas públicas de conservação e uso sustentável dos recursos ambientais do Estado de São Paulo.

“Estamos montando um sistema que vai nos permitir tomar decisões com base em informações, o que não era feito”, diz o biólogo Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-FAPESP. “Isso aumenta a capacidade da população de participar em decisões que dizem respeito à sua qualidade de vida”, afirma.São Paulo possui uma das mais ricas biodiversidades do país, caracterizada pela variedade de ecossistemas. Isso se deve ao fato de o Estado estar localizado numa zona de transição entre a região tropical e a subtropical. Inúmeros aspectos da biodiversidade paulista, no entanto, permanecem ignorados. O que é agravado pelo isolamento a que muitas vezes se vêem submetidos os pesquisadores.É nesse sentido que o esforço do Biota-FAPESP é saudado.

“As pesquisas sobre biodiversidade sempre eram realizadas em separado”, diz o biólogo João Paulo Capobianco, coordenador do Instituto Socioambiental. “Mas agora, pela primeira vez, um programa cria a oportunidade de termos um volume de recursos dirigido a pesquisas dentro de uma proposta comum”, afirma o biólogo. Ele assinala a importância do banco de dados que está sendo organizado na Internet. “São informações essenciais que estarão disponíveis para a sociedade”, diz. “Isso é um avanço. No Brasil, quase sempre o trabalho do pesquisador fica na estante da biblioteca”, afirma.

Pesquisas em andamento
O Biota-FAPESP já compreende 15 projetos temáticos formalmente aprovados. Eles abrangem assuntos como a diversidade de peixes do Alto Rio Paraná, a conservação dos ecossistemas aquáticos de São Paulo, a utilização sustentável da biodiversidade vegetal do cerrado e da Mata Atlântica, a prospecção de novas drogas e estudos sobre as bacias hidrográficas do Estado. Mais sete propostas de projetos temáticos estão em fase final de avaliação, além de 16 propostas enquadradas na fase de tramitação do programa.

“Este ano marca a implantação do primeiro conjunto de projetos temáticos que compõem o Biota-FAPESP. Os pesquisadores se dedicaram a adquirir os equipamentos e a viabilizar a infra-estrutura para o desenvolvimento das pesquisas”, diz Carlos Alfredo Joly. O biólogo destaca os avanços iniciais: “Os projetos aprovados no início de 1999 já estão apresentando os primeiros resultados”.

É a situação das pesquisas sobre a fauna de água doce, que estão contribuindo para a ampliação do conhecimento sobre a biota paulista. “Nestes poucos meses, já foram encontradas novas espécies para a ciência”, afirma Joly. No caso dos trabalhos que têm como meta viabilizar o uso sustentável de produtos da biota paulista, Carlos Joly aponta o projeto sobre a diversidade química de plantas nativas de mata e cerrado. “Sua equipe está prestes a alcançar o estágio de patentear uma nova droga a partir de uma planta nativa de São Paulo”, diz.

As primeiras contribuições para a definição de políticas ambientais, por sua vez, também estão registradas. Um dos projetos forneceu dados para a definição das áreas de cerrado que serão compradas pela CESP, como parte das medidas compensatórias pelos danos ambientais causados com o enchimento do lago de uma hidrelétrica. “A escolha foi realizada com base no estudo que está sendo feito sobre os remanescentes do cerrado do Estado de São Paulo”, diz Carlos Alfredo Joly.

A expectativa é que novas abordagens sejam incorporadas ao Biota-FAPESP. “Existe ainda uma concentração de projetos na área de Biologia”, reconhece o coordenador, creditando isso à significativa participação de especialistas da área na implantação do programa. Os projetosde Biologia somam 13 dos 15 já aprovados e recebem R$ 6,9 milhões, de um total de R$ 8,5 milhões já aprovados para o programa. As outras duas áreas contempladas são as de Saúde e Química, com um projeto cada. “Agora, é a hora de trabalhar com projetos que investiguem os aspectos sociais e econômicos relacionados à biodiversidade paulista. Eles são essenciais para o estudo de políticas de uso sustentável”, diz Joly.

Outro fruto do Biota-FAPESP é a publicação dos sete volumes da série Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: Síntese do Conhecimento ao Final do Século XX. Os livros reúnem toda a informação disponível sobre a biota paulista, material que serviu de base para a formulação do programa. A coleção está integralmente disponibilizada na Internet (www.biotasp.org.br/publi).

Em defesa do meio ambiente

O Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental foi criado em 1996 por meio de uma parceria entre a Ford Brasil e a Conservation International do Brasil. A iniciativa teve como inspiração a versão européia do Prêmio Henry Ford, criada há 15 anos. Seu objetivo é encorajar projetos de proteção do meio ambiente, assim como aqueles ligados ao uso sustentado de recursos naturais no Brasil. O prêmio é oferecido em quatro categorias: Conquista individual, Negócios em conservação, Ciência e formação de recursos humanos e Iniciativa do ano em conservação. O concurso é aberto a pessoas, entidades comunitárias, organizações não-governamentais, empresas privadas, centros de pesquisa e agências governamentais.

A edição de 1999 do Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental teve 100 propostas inscritas nas quatro categorias, a maioria de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. O júri foi integrado por Eric Stoner (da Agência para o Desenvolvimento Internacional do Governo dos EUA/USAID), Jader Marinho (Universidade de Brasília) e Geraldo Wilson (Universidade Federal de Minas Gerais).

Na categoria “Conquista individual”, o prêmio coube a Maria Tereza Jorge Pádua, presidente da Fundação Pró-natureza de Brasília, escolhida por seu trabalho de criação e consolidação do sistema de unidades de conservação do país, com destaque para a região amazônica. A categoria “Negócios em conservação” foi vencida pela empresa Mata’Dentro Ecoturismo Aventura, de Brotas-SP. Criada por cinco universitários em 1992, a empresa é considerada uma referência em ecoturismo no Brasil. Por sua vez, a categoria “Ciência e formação de recursos humanos” premiou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, de Santa Teresa-ES. Criado em 1949 pelo professor Augusto Ruschi, o museu é considerado o mais importante centro de formação de recursos humanos no campo conservação biológica do Espírito Santo.

O que já está sendo pesquisado

O Biota-FAPESP está aberto a novas inscrições (acesso pelo site do programa) de propostas de projetos temáticos. As pesquisas devem abordar aspectos da biodiversidade paulista, integrando-se ao conjunto do programa. A lista a seguir relaciona os 15 projetos já aprovados pelo Biota-FAPESP:

– Consolidação do Sistema de Informação do Programa Biota-Fapesp e o Estudo da Viabilidade do Desenvolvimento de um Sistema Geográfico de Informações para o Programa, coordenação de Carlos Alfredo Joly (Unicamp).
– Diversidade de Peixes de Riachos e Cabeceiras da Bacia do Alto Rio Paraná no Estado de São Paulo, coordenação de Ricardo Macedo Corrêa e Castro, da USP de Ribeirão Preto, e Naércio Menezes, do Museu de Zoologia da USP.
– Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Vegetal do Cerrado e da Mata Atlântica: Diversidade Química e Prospecção de Novas Drogas, coordenação de Vanderlan da S. Bolzani, da Unesp de Araraquara, e Maria Cláudia Marx Young, do Instituto de Botânica.
– Diversidade das Interações entre Vertebrados Frugívoros e Plantas da Mata Atlântica, coordenação de Wesley R. Silva, da Unicamp.
– Diversidade de Zooplâncton em Relação à Conservação e Degradação dos Ecossistemas Aquáticos do Estado de São Paulo, coordenação de Takako Matsumura Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos.
– Viabilização da Conservação dos Remanescentes do Cerrado Paulista, coordenação de Marisa Dantas Bittencourt, do Instituto de Biociências da USP.
– Conservação e Utilização Sustentável da Biodiversidade Vegetal do Cerrado e Mata Atlântica: os Carboidratos de Reserva e seu Papel no Estabelecimento e Manutenção das Plantas em seu Ambiente Natural, coordenação de Marcos Buckeridge, do Instituto de Botânica.
– Reconhecimento dos Ácaros de Interesse Agrícola do Estado de São Paulo e de seus Predadores, coordenação de Gilberto de Moraes, da Esalq-USP.
– Diversidade de Mamíferos no Estado de São Paulo, coordenação de Mario de Vivo, da USP de Ribeirão Preto.
– Ecologia Molecular e Taxonomia Polifásica de Bactérias de Importância Ambiental e Agroindustrial, coordenação de Gilson Paulo Manfio, da CCT/Fundação André Tosello.
– Flora Ficológica do Estado de São Paulo, coordenação de Carlos E. de M. Bicudo, do Instituto de Botânica/SMA.
– Levantamento da Fauna e Aspectos da Biologia de Macro Invertebrados de Água Doce dos Principais Mananciais do Estado de São Paulo, coordenação de Cláudio G. Froehlich, da USP de Ribeirão Preto.
– Diversidade de Espécies e de Interações em Plantas e Insetos: Inventários Centrados em Recursos, coordenação de Thomas Michael Lewinsohn, do Instituto de Biologia da Unicamp.
– Conservação da Biodiversidade em Paisagens Fragmentadas do Planalto Atlântico, coordenação de Jean Paul W. Metzger, do Departamento de Ecologia Geral (IB) da USP.
– Estrutura e Funcionamento de Bacias Hidrográficas do Estado de São Paulo: Bases para Manter a Biodiversidade, coordenação de Luiz Antonio Martinelli, do Cena (USP).

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