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PLÁSTICOS

Laboratório dentro da fábrica

Prumo atende a 150 empresas e mostra bons resultados após um ano

Ao atingir a marca de 150 micro e pequenas empresas atendidas, o Projeto de Unidades Móveis (Prumo) contabiliza, depois de um ano e quatro meses, os bons resultados da transferência de conhecimento tecnológico para o setor de processamento de plásticos. Peças sem defeito, ajustes de matéria-prima e a eliminação de erros operacionais são alguns dos benefícios auferidos por dezenas de empresários que estão agora mais aptos a enfrentar o mercado nacional e a conquistar espaço na pauta de exportações.

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que opera o programa, entre empresários atendidos pelo Prumo, mostra alguns dos principais resultados conquistados como aumento da lucratividade, diminuição da devolução de pedidos, conquista de clientes mais exigentes e possibilidade de substituição das importações. O mesmo levantamento revela, ainda, aumento de 25% no processamento de matérias-primas, de 29% no faturamento e de 18% no número de empregos.Lançado em março do ano passado, o projeto inova ao levar às empresas um laboratório móvel, dentro de um furgão, com instrumentos para teste e processamento de vários experimentos úteis para as indústrias do setor de transformação de plástico do Estado de São Paulo. As unidades móveis são operadas por um engenheiro e um técnico em plástico.

O Prumo é resultado de um acordo de parceria assinado entre IPT, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Instituto Nacional do Plástico (INP), com o apoio da FAPESP, por meio do Programa de Inovação Tecnológica Universidade-Empresa (PITE). A Fundação financiou a compra de dois furgões e dos equipamentos para os laboratórios. O Sebrae subsidia 70% do atendimento, que custa R$ 2.900,00, restando 30% ao empresário, ou R$ 900,00. Pensando em facilitar a vida dos empresários que não podem pagar de uma vez pelos serviços do Prumo, o Sebrae decidiu parcelar o pagamento. Desde o início deste ano já é possível receber a visita do Prumo e pagar os 30% em quatro parcelas. A divulgação do projeto entre as indústrias ficou com o INP.

Custo menor
As unidades móveis estão preparadas para realizar 19 ensaios, com equipamentos de última geração. São testes de extrusão, absorção de água e vários de resistência, à flexão, ao rasgamento, à tração e à compressão. Alguns deles, até o início das operações do Prumo, eram acessíveis somente para empresas de grande porte, em razão do alto custo.

O projeto, além de promover ajustes necessários nas empresas, está funcionando também como porta de entrada para as diversas áreas de atendimento mantidas pelo IPT. O instituto tem a fama, entre os pequenos e microempresários, de ser uma instituição voltada somente às grandes empresas, cobrando preços elevados pelos serviços. “Com o Prumo, o IPT assumiu uma nova postura e saiu para ajudar o empresário no seu ambiente de trabalho”, afirma Vicente Mazzarella, 67 anos, diretor técnico do IPT e idealizador do projeto. Para ele, as atividades realizadas pelo Prumo conseguiram mostrar aos participantes as vantagens da atualização tecnológica.

Mazzarella planeja a ampliação do projeto para outras áreas da indústria. Se tudo der certo, ele gostaria de ver atendidos setores como mobiliário, couro e calçados, tratamento de superfície, cerâmica e de transformação de borracha. “A expansão dos serviços do Prumo ajudará no processo de aprimoramento tecnológico desses setores”, afirma.

Uma das dificuldades do Prumo atualmente é convencer seu público-alvo da importância de receber esse tipo de serviço. “Temos de mudar alguns conceitos arraigados na mentalidade do nosso empresário e isso não é fácil”, afirma Paulo Dacolina, diretor-superintendente do INP. Para ele, o processo é lento, mas mostra bons resultados.

Ajustes para ampliação
Para aumentar o número de empresas atendidas, o INP fechou, no início deste ano, acordo com 12 distribuidores da indústria de resinas petroquímicas no Estado de São Paulo. O objetivo é conseguir custeadores para os 30% do custo do atendimento, que hoje cabe à empresa. “Cada distribuidor fica com uma cota de 20 empresas e paga a parte que caberia a elas”, afirma. Segundo Dacolina, o INP investiu neste primeiro ano cerca de R$ 40 mil para divulgar o projeto. Quem já recebeu o atendimento do Prumo não se arrepende. O empresário Jorg Stegmann, 43 anos, proprietário da Aquaterra, em Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo, é um deles. Stegmann procurava uma maneira de verificar se o produto que fabrica tinha um nível de qualidade igual para atender os clientes mais exigentes. A empresa fabrica barcos, peças de playgrounds e canoas. Os materiais utilizados na produção são o plástico reforçado e a fibra de vidro.

Para atingir seu objetivo era necessária uma série de ensaios para testar os processos industriais e métodos utilizados. Foi quando descobriu que o IPT tinha um serviço móvel que ia até as empresas. Stegmann decidiu inscrever-se para receber a visita do Prumo. “Até então eu pensava que os serviços do IPT eram voltados somente para grandes projetos e proibitivos para o tamanho da Aquaterra”, conta. Em três dias de trabalho, os técnicos do IPT traçaram parâmetros e fizeram algumas correções de rota na Aquaterra. “Agora sinto-me seguro com relação ao grau de qualidade dos meus produtos, conferido pelo IPT”, comemora Stegmann, que nas horas de folga pratica iatismo. Ele conta que fornecedores e clientes da sua empresa ficaram surpresos com a presença do IPT na Aquaterra. “As pessoas ficam bem impressionadas quando se fala em busca de melhorias tecnológicas”, diz.

Segundo ele, a presença do laboratório móvel no chão de fábrica facilitou a equação de diversas questões que surgem na rotina diária. “O acompanhamento dos processos de colagem, pintura, resistência e métodos foi crucial para os bons resultados obtidos”, avalia. A Aquaterra tem 30 funcionários e faturou no ano passado R$ 1,5 milhão. Para este ano, a expectativa é de crescimento de 25%, atingindo cerca de R$ 2 milhões.

Novo universo
Agora, Stegmann vislumbra vôos mais altos: o mercado externo. Com a segurança de estar com tudo ajustado, a empresa passa por um estudo de viabilidade técnica, referente à primeira fase do Programa de Apoio Tecnológico à Empresa Exportadora (Progex), desenvolvido pelo IPT. “A partir do trabalho do Prumo, estou descobrindo um novo universo de negócios”, conta Stegmann.

Segundo a diretora adjunta de projetos especiais do IPT, Mari Katayama, o Prumo resolve com sucesso alguns dos principais problemas técnicos enfrentados pelos empresários, que dificultam a exportação. “Apesar de não ter como meta principal a exportação, o Prumo melhora a qualidade e a produtividade, ao mesmo tempo que contribui para reduzir custos de produção, criando, assim, um potencial exportador”, diz. Mari relata que o Prumo desperta interesse de outros estados e poderá ter sua metodologia disponibilizada em outros pontos do País.

Certamente, existem muitas empresas em situações críticas que, com o apoio do Prumo, desenvolvem melhor seus negócios. Foi o caso da Mebuki, Guarulhos. No ano passado, faltando 15 dias para o início da Feira Internacional da Indústria da Construção (Feicon), o empresário Jairo Uemura sentiu que o investimento de R$ 150 mil, feito para o lançamento de um kit para banheiro, estava ameaçado. “Não tínhamos a menor noção da origem do nosso problema”, afirma, hoje, o empresário aliviado. O kit para banheiro da Mebuki, feito com um tipo de plástico, o ABS, e acrílico, consumiu várias noites de todos os envolvidos e, mesmo assim, a qualidade não agradou. “Tínhamos tentado de tudo e a única saída era abandonar o projeto”, lembra Uemura.

Kits sem defeitos
Na visita que fez à Feira Internacional do Setor de Plástico em São Paulo (Brasilplast), o empresário ficou sabendo da existência do Prumo e logo fez a inscrição. “Fomos a primeira empresa a ser atendida pelo programa”, gaba-se ele. Em três dias de ensaios e análises, os técnicos conseguiram resolver os “misteriosos” problemas que afligiam o empresário. Foram feitas mudanças na temperatura e na velocidade de injeção do plástico, entre outros detalhes. Os equipamentos foram ajustados e os primeiros kits sem defeitos começaram a sair da linha de produção a tempo de serem expostos na Feicon. “Fizeram grande sucesso”, lembra Uemura.

Hoje, os kits são comercializados em todo o Brasil e exportados para EUA, Argentina, Uruguai e Caribe. Em um ano, eles passaram a representar cerca de 30% do faturamento da Mebuki, que no ano passado atingiu R$ 2,5 milhões. A Mebuki fabrica ainda assentos sanitários, bóias, descargas suspensas e sementeiras para o setor agrícola.

“O pequeno e microempresário têm muito medo de abrir a sua empresa para organizações que tenham, de alguma maneira, ligação com o governo”, observa Uemura. O motivo é a desconfiança em ver sua empresa esmiuçada em relação aos impostos, à tecnologia e aos produtos que ele considera segredos industriais. Na realidade são preconceitos sem paralelo com as funções do Prumo.Antes de ter acesso ao Prumo, Uemura conta que se julgava um dos maiores especialistas em plástico na face da Terra. “Eu acreditava ter o domínio absoluto do assunto e a realidade mostrou-se bastante diferente”, confessa. Hoje, Uemura não dá um passo na área tecnológica sem fazer consultas aos especialistas do IPT.

Produtos de qualidade
A Mebuki tem, atualmente, 65 funcionários. Com o sucesso do kit para banheiro e um novo lançamento ainda neste ano, a empresa espera aumentar o faturamento em 40%. “Estamos criando produtos de qualidade voltados para as classes C e D, que são muito malservidas”, diz Uemura. Além de fazer correções nos processos industriais, a equipe do IPT também esclarece dúvidas dos trabalhadores envolvidos no processo. O contato direto com os proprietários e seus funcionários faz parte da rotina do engenheiro Walmir Hiroharu Wada, que acompanha uma das unidades móveis do Prumo.

Ele está no projeto desde o início e diz que os problemas apresentados pelas empresas geralmente são de fácil solução. Ele lembra, porém, que a resistência dos empresários às mudanças necessárias é muito grande. “No primeiro contato alguns ficam temerosos quanto à eficácia do trabalho, mas depois que enxergam os resultados passam a confiar no nosso trabalho e tornam-se até bons amigos”, afirma Wada, que visitou cerca de 50 empresas espalhadas por todo o Estado. “Já fui visitar empresa instalada até numa granja desativada”, diverte-se.

Principiante no ramo
Outro bom exemplo do atendimento prestado pelo Prumo é a Plásticos Bom Pastor, situada em Santo André, que tem como uma das sócias a empresária Nanci Rodrigues Correa. Ela preocupava-se com a variação de peso apresentada por um frasco plástico de cinco litros, produzido pela sua empresa, além da pouca experiência dos seus funcionários. Principiante no ramo de plásticos, Nanci e sua família, por meio do Sebrae, descobriram o Prumo. Fez inscrição e em 48 horas a origem do problema do produto foi determinada. “Era a qualidade da matéria-prima”, diz ela. Algumas das soluções apontadas para a Plásticos Bom Pastor foram adicionar 10% de uma resina para dar estabilidade à massa plástica e ajustar o método de injeção. “Conseguimos reduzir em 18% o uso de matéria-prima e aumentar a produtividade em 20%”, conta Nanci, formada em Letras.

Para ela, a ida do IPT à sua empresa foi um divisor de águas. Além de resolver os problemas técnicos, eles aplicaram um treinamento para todos os funcionários da empresa, que atualmente emprega dez pessoas e produz brinquedos, peças para a indústria automotiva e para outros setores. No ano passado, a empresa faturou R$ 350 mil e neste ano, a expectativa é de aumento de 30%. Para isso, fizeram também um investimento de R$ 100 mil na aquisição de mais três máquinas sopradoras, usadas. “Estamos seguros para dar passos mais firmes após a visita do Prumo”, diz Nanci.Mazzarella conta que, neste primeiro ano, o projeto mostrou sua viabilidade técnica e excelentes frutos. “A nossa grande surpresa é que os resultados práticos ultrapassaram todas as expectativas iniciais.”

PERFIL
Vicente Mazzarella
é engenheiro metalurgista, formado pela Escola Politécnica da USP. É pós-graduado em Metalurgia Física pelo Instituto de Tecnologia de Carnegie, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, e em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas.

Projeto
Prumo – Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas; Modalidade Parceria para Inovação Tecnológica (PITE); Investimento R$ 94.847,00 e US$ 253.992,00, da FAPESP, e R$ 1.182.000,00, do Sebrae, por meio do Programa de Apoio Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (Patme), IPT e INP.

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