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Estratégias

Uma briga pela Internet

No começo de julho, 120 líderes de publicações e de biomedicina reuniram-se em Nova York para discutir o efeito da Internet sobre as revistas científicas. Não demorou muito para se desentenderem, porque os dois grupos têm visões muito diferentes sobre o futuro: o primeiro prevê que as empresas privadas vão continuar fazendo as publicações mais legíveis e confiáveis, e o outro, que os cientistas logo abandonarão as publicações tradicionais para partilhar seus resultados diretamente com outros pesquisadores, via Internet.

Segundo a Science de 14 de julho último, as sementes desse debate foram lançadas há 16 meses, quando Harold Varmus, então diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), e o geneticista Patrick Brown, da Universidade de Stanford, lançaram um plano radical para um arquivo biomédico e uma publicação correspondente, antecipando-se aos que seriam bancados pelos NIH. A partir daí, o alcance da venture de publicação eletrônica dos NIH – agora chamada PubMed Central – vem sendo reduzido e o arquivo público tem demorado para deslanchar.

David Lipman, diretor do Centro para Informação de Biotecnologia dos NIH, que está dirigindo o PubMed Central, relatou no encontro que seu pessoal está fazendo francos progressos na colocação de artigo son-line a partir das 20 publicações que aceitaram, até agora, fornecerpapers para o arquivo. Mas sua equipe “se chocou com problemas técnicos”, disse ele, em especial com um dos mais ilustres contribuintes, o Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Segundo a Science, essas dificuldades não desencorajaram Vitek Tracz, diretor da editora londrina Current Science Group. Em maio, Tracz – cuja empresa patrocinou o encontro de Nova York – iniciou sua própria publicação na Internet, a Central BioMed, que dará acesso gratuito a autores e leitores.

Apesar de Tracz dizer que não tem nenhum plano comercial para oCentral BioMed , ele pretende usá-lo para ganhar credibilidade junto aos cientistas e, dessa forma, desenvolver outras publicações e serviços noticiosos lucrativos. Reação pesada no encontro de Nova York teve Pieter Bolman, presidente da Academic Press de San Diego, Califórnia, que classificou os esquemas de publicação gratuita de utópicos, a ponto de lembrar trabalho de “acadêmicos sem ter o que fazer” ou “armação comunista”. Colocar todos os dados da pesquisa biomédica num único arquivo aberto é “procurar problemas”, disse, porque é pedir que os editores existentes abram mão de seus arquivos e “cometam suicídio econômico”.

As publicações não o farão, previu Bolman, a menos que sejam forçadas pelo governo.Bolman elogiou uma alternativa, uma venture chamada CrossRef, iniciada por uma editora e lançada em junho. Ainda este ano, ela vai abrigar um índice eletrônico com links para 3 milhões de arquivos em 4 mil publicações. Diferentemente dos usuários do PubMed Central, os do CrossRef, na maioria dos casos, terão de pagar uma tarifa para obter um texto completo. Enfurecido, Brown disparou contra os “parasitas” que recebem o trabalho de cientistas de graça, levam uma eternidade para publicá-lo e cobram dos leitores um alto preço por um produto que freqüentemente pioram ao editar.

Terminou exortando os cientistas a darem seu apoio a iniciativas gratuitas como o PubMed Central. Apesar de os participantes do encontro terem divergido fortemente sobre o modo como a Internet vai afetar a atividade editorial, todos pareceram concordar com o comentário de Varmus de que a experiência da publicação eletrônica mal começou e de que “estamos navegando para um porto distante” com ventos que às vezes favorecem e outras dificultam o avanço.

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