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EVENTO

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Anunciados marcos e novas metas da pesquisa científica

O governo do Estado de São Paulo e a FAPESP anunciaram, no dia 4 de janeiro, a conclusão do seqüenciamento genético da bactéria Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico, e do mapeamento dos mais de 80 mil genes da cana-de-açúcar. Os dois projetos – Genoma Xanthomonas e Genoma Cana – iniciam a sua segunda fase, quando serão realizadas análises funcionais dos genes, com o objetivo de encontrar tanto a cura para o cancro cítrico como soluções para melhorar a qualidade da cana-de-açúcar produzida no país.

Na cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes, também se comemorou a marca de 1 milhão de seqüências de genes expressos em tumores, obtida pelo Projeto Genoma Humano do Câncer, o dobro da meta inicial. Na mesma solenidade, o diretor-científico da FAPESP, José Fernando Perez, comunicou o lançamento do programa Consórcios Setoriais para a Inovação Tecnológica (ConSITec) e a integração da rede eletrônica acadêmica de alta velocidade de São Paulo, Advanced ANSP, à rede Internet 2 mundial. Essa conexão permitiu que participasse da cerimônia, de Washington e pela Internet, Steve Goldenstein, da National Science Foundation (NSF), a principal agência de fomento à pesquisa nos Estados Unidos, responsável pela aprovação da interligação com a rede Internet 2. (ver reportagens nas páginas 16/17).

“A história da vida econômica brasileira está registrada de maneira sui generis“, afirmou o governador Mário Covas. “Há sempre um fator predominante, às vezes por um período curto: a borracha, no caso do Amazonas, e o café, no caso de São Paulo. Na realidade, esta visão não é verdadeira.” De acordo com o governador, aqueles que associam o desenvolvimento de São Paulo ao café não se dão conta de que, no Estado, a ciência e a tecnologia sempre tiveram um significado especial, afirmou, mencionando a atuação da FAPESP como um exemplo dessa vocação paulista para a produção do conhecimento. Participaram da cerimônia o vice-governador, Geraldo Alckmin, os secretários de Ciência, Tecnologia e do Desenvolvimento Econômico, José Aníbal, da Saúde, José da Silva Guedes, da Agricultura, João Carlos de Souza Meirelles; o presidente da FAPESP Carlos Henrique de Brito Cruz, o deputado Vanderlei Macris, presidente da Assembléia Legislativa, reitores e pesquisadores de diversas instituições.

Genoma Xanthomonas
O mapeamento da bactéria Xanthomonas citri consolida a liderança do Brasil na área de genética de pragas agrícolas. A bactéria, causadora do cancro cítrico, ataca os pomares, causando prejuízos anuais de R$ 110 milhões à economia paulista. Em 1999, por exemplo, a doença foi responsável pela redução de 25% no total de caixas de laranjas produzidas, comprometendo a exportação do suco de laranja e subtraindo divisas ao país. “E a queda da produção também derruba o emprego no campo e na indústria extratora de suco”, completa Ana Cláudia Rasera da Silva, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo e uma das coordenadoras do projeto, junto com Jesus Ferro, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal. Até agora, a única forma de controle conhecida é a erradicação das plantas doentes, lembra Ferro.

Os pesquisadores da rede ONSA (Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos), criada pela FAPESP, concluíram, com o apoio do Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitros), o seqüenciamento genético dos 5,175 milhões de nucleotídeos da Xanthomonas em 14 meses, tempo considerado recorde. Contribuiu para isso a experiência adquirida no seqüenciamento da Xylella fastidiosa, causadora da Clorose Variegada de Citros (CVC), o primeiro realizado pela equipe. “No caso da Xylella , os 14 laboratórios realizaram o seqüenciamento dos seus 2,6 milhões de nucleotídeos em 24 meses. No da Xanthomonas, gastou-se a metade do tempo para mapear um genoma que tem o dobro do da Xylella“, afirmou Ana Cláudia. Em janeiro, o Projeto Xanthomonas inicia a segunda fase. “Realizaremos a análise funcional do gene para encontrar a cura para o cancro cítrico”, prevê a pesquisadora.

Genoma Cana
Os mais de 200 pesquisadores dos 60 laboratórios envolvidos no Projeto Genoma Cana identificaram os 80 mil genes que compõem a cana-de-açúcar um ano antes do prazo previsto. “A cana tem oito cópias de cada cromossomo e é difícil de manipular. Identificamos 53 mil genes únicos, responsáveis pela resistência da planta a pragas e calor e sua adaptação ao solo. Esse conhecimento vai permitir a utilização de tecnologias para desenvolver variedades de plantas mais resistentes e mais produtivas”, disse Paulo Arruda, coordenador do projeto.

O Genoma Cana, o maior projeto de análise dos genes expressos em plantas já realizado por uma instituição pública em todo o mundo, reuniu, pela primeira vez numa empreitada comum, laboratórios de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Alagoas. “Todos os laboratórios tiveram acesso ao banco de dados e puderam estudar os genes identificados”, afirmou Arruda. A segunda fase do projeto que agora se inicia é a da aplicação dos resultados do genoma. “Daqui a um ou dois anos, talvez possamos anunciar a primeira planta já produzida como resultado do genoma.”

Genoma Câncer
O Projeto Genoma Humano do Câncer conseguiu identificar, em menos de um ano de pesquisas, 1 milhão de seqüências de genes de tumores mais freqüentes no Brasil. Esse número corresponde a um terço das seqüências genéticas produzidas por instituições públicas em todo o mundo e equivale ao que o projeto Genoma Câncer norte-americano, CGAP, conseguiu em três anos. Os investimentos de US$ 10 milhões, inicialmente previstos para o financiamento do projeto patrocinado pela FAPESP e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, já somam US$ 20 milhões.O projeto começou em abril de 1999.

“No início, passamos meses aprendendo novas tecnologias. Em 2000, o projeto decolou e chegamos a essa marca seis meses antes do prazo previsto”, afirmou Andrew Simpson, coordenador do projeto. “Não é a primeira vez que o governador de São Paulo vibra com as nossas conquistas”, disse Simpson, dirigindo-se a Covas. “O senhor fez a sua parte e nós agradecemos profundamente seu esforço.”Os dados obtidos no Projeto Genoma Humano Câncer começam agora a ser analisados em outro projeto, o do Genoma Clínico do Câncer.

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