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JUSTIÇA

Onde os crimes acontecem

Projeto desenha o perfil da violência em São Paulo

Estatísticas regularmente publicadas confirmam o que as pessoas percebem a olho nu: segurança está no topo das preocupações dos paulistanos. A maioria tem medo de ser atingida por uma bala perdida nas ruas ou de ser morta durante assalto nos cruzamentos das grandes avenidas. Mas será que o risco de se tornar uma vítima de homicídio reside primordialmente nessas situações? Como é o perfil dos homicídios na capital e onde eles ocorrem com maior freqüência? Quem são os criminosos e as vítimas em potencial? Como combater a violência urbana em São Paulo?

Estudo a respeito do tema vem sendo realizado por três pesquisadoras – Regina Maria Giffoni Marsiglia (coordenadora do projeto), Graziela Acquaviva Pavez e Isaura Isoldi de Mello Castanha e Oliveira – da Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com apoio da FAPESP.

As primeiras respostas revelam, segundo as pesquisadoras, dados surpreendentes: a grande maioria dos homicídios ocorre bem próximo ao local de residência das vítimas, e a concentração desses crimes é muito mais forte nos bairros da periferia, onde a população, em geral de baixa renda, conta com escassos recursos nas áreas de educação, saúde e segurança pública.

O projeto pretende mapear, até julho de 2002, o cenário da violência urbana em três regiões da cidade de São Paulo e investigar as expectativas e necessidades das vítimas de agressões e das famílias que perderam algum parente por assassinato – oferecendo a partir daí subsídios para políticas públicas de segurança. As pesquisadoras contam com a parceria do Centro de Referência e Apoio à Vítima de Violência (Cravi), instituição ligada à Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, e o apoio das secretarias de Saúde e de Assistência e Desenvolvimento Social.

No momento, a pesquisa está em sua segunda fase, a do trabalho de campo, que consiste de entrevistas em domicílio com 3.900 famílias. Elas ze CD-ROM, mas os dados até aqui elaborados são mantidos em sigilo. “Até o término da pesquisa, não podemos publicar os detalhes, tanto para preservar a segurança dos entrevistados como para evitar represálias aos entrevistadores”, justifica Regina.

A idéia do projeto surgiu logo depois que as professoras Graziela e Isaura concluíram, em 1997, trabalho nessa mesma linha, só que circunscrito à região do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo. “Em parceria com o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo, investigamos 12.900 casos de homicídios, verificando os atestados de óbito e entrevistando as famílias de várias vítimas”, contam as pesquisadoras.

Em função dos resultados obtidos, foi criado o Fórum de Defesa da Vida e, há três anos, o Núcleo de Violência e Justiça da Faculdade de Serviço Social da PUC, coordenado pelas duas professoras. “Nesse ínterim, fomos convidadas pelo secretário Belisário dos Santos Júnior, da Justiça e Defesa da Cidadania, para integrar a comissão que criou o Cravi”, lembra Isaura. O Cravi atende às famílias das vítimas de homicídio e oferece treinamento aos profissionais das áreas envolvidas na assistência jurídica, social e psicológica dessas famílias.

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