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SAÚDE PÚBLICA

Retrato de casa em casa

Sob investigação, vida e hábitos da população

A população de São Paulo utiliza os serviços públicos de saúde com freqüência? Está satisfeita? Quanto os cidadãos gastam com médicos e remédios? Costumam se submeter a exames preventivos? Como vivem e se alimentam? Estão expostos a fatores de risco? Vacinam suas crianças adequadamente? Quantas mulheres grávidas se preocupam com o pré-natal? Como anda, afinal, a saúde da população paulista, no interior e na capital? O que deve ser feito para melhorar? A elaboração de políticas de saúde pública deveria passar necessariamente pela resposta a essas questões. No entanto, “são formuladas somente a partir dos números de mortalidade e das morbidades registradas pelos serviços públicos de saúde”, diz Chester Luiz Galvão Cesar, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. Pretendendo mudar esse quadro, Galvão Cesar coordena ampla pesquisa de inquéritos domiciliares.

O projeto, apoiado pela FAPESP, vem sendo executado em conjunto com pesquisadores da USP, Unicamp e Unesp, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde. As informações calcadas nas estatísticas de morbi-mortalidade mostram-se cada vez mais insuficientes. “Esses dados provêm da rede pública de saúde, contemplando apenas as pessoas que foram atendidas pelos serviços médicos e ambulatoriais do Estado ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, conta Galvão Cesar. O governo, em conseqüência, não tem a menor idéia do que acontece com os que não passaram pelo sistema. Não é pouca gente: de acordo com a Pesquisa de Condições de Vida (PCV) realizada pela Fundação Seade entre 1994 e 1998, menos da metade da população do Estado de São Paulo (48,9%) recorria, à época, às instituições públicas de saúde – números que tendiam a diminuir a cada ano, com a paulatina migração dos paulistas para os serviços de medicina privada.

Paralelamente a isso, o desenvolvimento da medicina vem exigindo o conhecimento cada vez mais diversificado sobre os hábitos das pessoas, suas condições e estilo de vida. “Os tradicionais dados obtidos pela técnica da demanda atendida estão dando lugar à moderna técnica dos inquéritos com base populacional”, diz o pesquisador. Os inquéritos domiciliares baseiam-se em extensos questionários, aplicados diretamente por um equipe de entrevistadores. No caso deste projeto, foram selecionadas quatro grandes regiões: o distrito do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo, os municípios de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra, na região metropolitana, o município de Campinas, e o município de Botucatu. Uma equipe de 25 pessoas executa o trabalho de campo, iniciado em abril deste ano e com término previsto para março de 2002 – e deve aplicar entre 6.400 e 7.000 questionários, que incluem muitas inovações.

“Um exemplo são as perguntas sobre hábitos alimentares, estudo que está sendo feito com a ajuda dos docentes do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP.” Os números resultantes da pesquisa vão gerar um Índice de Adequação Alimentar para o Estado de São Paulo, importante para o desenvolvimento de políticas em nutrição. O trabalho de campo resultará num amplo mapeamento, de grande utilidade para pesquisas, ensino e governo. “Inquéritos com base populacional são tradicionalmente usados em países como a Inglaterra, os Estados Unidos e o Canadá para a formulação de políticas e para a melhoria dos serviços de saúde.

No Brasil isso é novidade”, conta o pesquisador. Nos municípios de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da Serra, Galvão Cesar já havia feito uma pesquisa semelhante há exatos dez anos. Embora seja mais abrangente, a pesquisa atual permitirá comparar a evolução na última década. Será possível, por exemplo, conhecer, em números, o impacto da construção de um hospital público em Itapecerica da Serra, erguido anos depois da primeira avaliação da região. No distrito do Butantã, que “está virando um distrito-escola de saúde, em função de uma parceria da USP com a prefeitura de São Paulo”, os resultados terão aplicação imediata na formulação de estratégias de ação.

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