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Tecnociência

Rolhas de vinho descontaminadas

A culpa é de dom Pérignon – monge francês que resolveu inovar, trocando as antigas rolhas de madeira pelas de cortiça, para conservar as bolhas do champanhe produzido em seu mosteiro. Não fosse o sucesso e a proliferação de sua invenção, ninguém talvez tivesse ouvido falar em TCA – ou 2,4,6-tricloroanisole, composto químico que, estima-se, ataca cinco em cada 25 rolhas de garrafas de vinho, deixando a bebida com um gosto geralmente descrito como de jornal molhado.

Tão potente é o efeito que, segundo o enólogo norte-americano Christian Butzke, uma só colher da substância bastaria para contaminar a produção vinícola de um ano inteiro nos Estados Unidos. Desde encapar a cortiça até submetê-la a tratamentos com radiação e microondas, já se tentou de tudo para eliminar ou, pelo menos, amenizar o problema. A última sugestão vem de Sabaté Diosos, fabricante de rolhas de Paris, em colaboração com pesquisadores da Comissão de Energia Atômica da França (CEA). A idéia é produzir um sistema que utilize dióxido de carbono para eliminar as moléculas agressoras, em um processo semelhante ao empregado para descafeinar o café.

Embora mantenham os detalhes em segredo, técnicos da CEA dizem que se trata de submeter a cortiça a um processo de “lavagem” que eliminaria o TCA sem comprometer a elasticidade e a permeabilidade da rolha. O conservadores – que não querem nem ouvir falar na substituição da cortiça por outro material – e os fabricantes – como os de Portugal, maior produtor de cortiças do mundo – cruzam os dedos para que funcione. Mas é difícil evitar a questão: por que não trocar as rolhas de cortiça por roscas de metal ou plástico, inovando, como fez dom Pérignon?

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