Imprimir PDF Republicar

Tecnociência

Botos em alto-mar

Os botos-cinza (Sotalia fluviatilis guianensis) – o menor dos golfinhos, com peso médio de 60 kg e quase 2 metros de comprimento – não vivem apenas em manguezais, estuários e baías do litoral da América Central e do Sul, de Honduras a Florianópolis, Santa Catarina. Uma equipe do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), de Caravelas, sul da Bahia, identificou um grupo de botos que freqüentam o arquipélago de Abrolhos, a 70 quilômetros do continente. “Abrolhos era visto apenas como uma ponto de passagem dos botos, mas provavelmente exista lá uma população residente, que se beneficia das baixas profundidades, da água relativamente quente e da abundância de alimentos como peixes, lulas e crustáceos, associados ao ambiente de recifes de corais”, comenta Marcos Rossi-Santos, pesquisador do IBJ que ajudou a identificar os animais individualmente, com base nas marcas da nadadeira dorsal de cada um.

“Nossa área de estudo é o único lugar que se conhece onde podemos observar o boto-cinza vivendo em ambiente de recifes de corais”, diz ele. Outra constatação recente é que os botos entram no estuário do rio Caravelas, também no sul da Bahia, com mais freqüência quando a maré está subindo e é maior a entrada de peixes no rio. Como a variação da maré está diretamente relacionada com as fases da Lua, foi observado que o número de integrantes dos grupos aumenta sob as luas minguante e crescente, com menor variação de maré e de correntes – os animais evitam as correntezas que surgem com a lua cheia e a maré alta.

No sul da Bahia, entre os municípios de Nova Viçosa e Caraíva, os botos formam grupos de até 22 indivíduos, de acordo com um estudo coordenado por Rossi-Santos, que se baseou em 450 horas de observação. Já no litoral do Rio Grande do Norte, o tamanho do grupo variou de dois a seis animais – e, quanto maior, maior a interação social e as brincadeiras, como saltos, mergulhos e batidas de cauda, de acordo com um estudo realizado por Rodrigo Sartório e Maria Emilia Yamamoto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Durante 13 meses, eles seguiram uma fêmea adulta, Lunara, com o propósito de acompanhar a mobilidade de grupos de botos que vivem ao longo do litoral brasileiro. Descobriram que Lunara – assim chamada por causa de marca em forma de meia-lua na nadadeira dorsal – passa a maior parte do tempo na companhia de um macho adulto e um filhote. Sartório e Maria Emilia verificaram que Lunara se desloca 20 quilômetros entre os pontos mais distantes, as enseadas de Tabatinga, município de Nísia Floresta, e do Curral, em Tibaú do Sul, no litoral potiguar, em busca de alimento e de lugares calmos para cuidar dos filhotes.

Republicar