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Ciência aplicada ao campo

Conhecimento repartido

Desde sua criação, em 1887, IAC colocou 700 novas espécies vegetais nas mesas dos brasileiros

Frutos de café arábica cultivados em fazenda do IAC

Eduardo CesarFrutos de café arábica cultivados em fazenda do IACEduardo Cesar

Criado com o apoio dos barões do café no final do século 19, preocupados em melhorar o cultivo da planta, o Instituto Agronômico (IAC) já colocou desde a sua fundação 732 variedades vegetais à disposição da agricultura brasileira com base em pesquisas de café, arroz, feijão, soja, milho, trigo, canade-açúcar, seringueira, frutas, hortaliças, citros e fibras. Esses resultados só foram alcançados porque o instituto tem como rotina um intensivo e contínuo trabalho de melhoramento genético de plantas, por meio de cruzamentos nos laboratórios ou nas casas de vegetação. “Para obter uma nova cultivar de feijão ou soja são necessários de oito a dez anos de pesquisas”, diz Orlando Melo de Castro, diretor-geral do IAC, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. As atividades do instituto criado por d. Pedro II em 1887, chamado então de Imperial Estação Agronômica de Campinas, não se resumem apenas ao melhoramento genético de espécies vegetais que geram novas cultivares.

Dois importantes programas genômicos, o do café e o dos citros, encerrados em 2004, foram coordenados pelo IAC, que também participou do projeto de seqüenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da praga do amarelinho, que traz grandes prejuízos às plantações de laranja. Nesse mesmo ano, a descoberta feita no instituto de um tipo de café naturalmente descafeinado, o cafeeiro arábica, ganhou espaço nas páginas da revista Nature. Para chegar ao café descafeinado, os pesquisadores do IAC, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), analisaram 3 mil plantas de cafeeiro arábica da Etiópia. O trabalho, que teve início em 1999, consistiu da análise de planta por planta em busca de baixa quantidade de cafeína. Foram identificadas três plantas com traços mínimos dessa substância nas sementes – elas apresentam 0,07% de cafeína, enquanto o café comum tem em torno de 1%. O índice encontrado é próximo da quantidade existente no café descafeinado encontrado no mercado, só que obtido por processos químicos.

A descoberta do café descafeinado só foi possível porque o instituto mantém bancos de germoplasma das culturas de interesse. “Esse é o maior patrimônio que um país tem, porque é a base para qualquer programa de melhoramento”, diz Castro. Não por acaso o IAC, que ao longo de sua trajetória não pára de render bons frutos, foi premiado pela Fundação Conrado Wessel na categoria Ciência Aplicada ao Campo.

Embora o conceito de melhoramento genético nem existisse na época em que a primeira estação agronômica do Brasil foi criada em Campinas, já existia a preocupação em melhorar o cultivo do café, principal produto agrícola cultivado na região, que havia migrado do Vale do Paraíba por conta do esgotamento do solo. “Não por coincidência o primeiro diretor do instituto, o austríaco Franz Wilhelm Dafert, era especializado em química aplicada na agricultura”, ressalta Castro. Os primeiros ensaios realizados na época eram focados em adubação, porque já se sabia na Alemanha, onde esses estudos estavam mais avançados, que o solo se esgotava por falta de nutrientes.

Clonagem de plantas pela técnica de reprodução in vitro utiliza pequenas porções de tecido para fazer a micropropagação

Eduardo CesarClonagem de plantas pela técnica de reprodução in vitro utiliza pequenas porções de tecido para fazer a micropropagaçãoEduardo Cesar

A crise do café no final dos anos 1920 contribuiu para a diversificação da agricultura paulista. Os estudos ainda incipientes sobre cana, uva, algodão e outras culturas ganharam força. Em 1928 o instituto havia criado a estação de São Roque para estudar a uva e em 1932 ampliou suas pesquisas com a inauguração da estação experimental de Jundiaí, hoje Centro de Frutas do IAC. Com a diversificação da agricultura, era preciso criar variedades adaptadas às condições brasileiras. Foi quando efetivamente começou o trabalho de melhoramento de plantas, com a criação de uma área de genética no instituto. “A criação de variedades para as nossas condições tropicais fez a nossa agricultura forte”, diz Castro. Nos anos 1940 e 50 foram feitos porta-enxertos tropicalizados de uvas originárias de climas temperados. Esses porta-enxertos deram origem às uvas plantadas no Vale do São Francisco, no semiárido nordestino, que têm como principal destino o mercado externo.

Se antes os programas de melhoramento tinham como foco a resistência da planta a doenças e pragas por motivos econômicos, para que os produtores tivessem menos gastos com defensivos agrícolas, hoje esse objetivo decorre também da pressão ambiental. Dentro dessa linha de atuação, o IAC lançou este ano quatro novas variedades de feijão que, pela resistência às principais doenças do feijoeiro, dispensam ou reduzem o uso de defensivos e, conseqüentemente, diminuem o custo de produção e o impacto ambiental. Entre os lançamentos que merecem destaque encontram- se também uma nova variedade de girassol com 42% de óleo, ideal para produzir biodiesel, além de quatro novas variedades de arroz e quatro novas variedades de cana-de-açúcar, que têm como característica o fato de serem adaptadas para determinadas regiões.

O conhecimento adquirido nesses 118 anos de atividade tem sido desde 1999 repassado para os interessados tanto por meio de um curso de pós-graduação referendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), dividido pelas áreas de Gestão de Recursos Agroambientais, Melhoramento Genético Vegetal e Tecnologia da Produção Agrícola, como por cursos a distância, dias de campo e palestras para produtores.

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