Imprimir PDF Republicar

Brasil

Além das aparências

Há diferenças externas visíveis entre um pé de milho e um tomateiro ou entre uma cana-de-açúcar e um feijoeiro. No entanto, o material genético das plantas classificadas como monocotiledôneas (milho, cana, trigo, aveia e arroz) e o das dicotiledôneas (tomate, feijão, soja e batata) apresenta uma similaridade de 72,5%, mesmo depois de 200 milhões de anos, quando se separaram de um único ancestral, de acordo com um estudo feito por pesquisadores paulistas a ser publicado na Plant Physiology. Em relação à Arabidopsis thaliana, uma dicotiledônea usada como planta-modelo, as proteínas da cana mostraram uma similaridade de 70,5%.

“Os 2% encontrados apenas em outras dicotiledôneas correspondem a genes perdidos daArabidopsis, que provavelmente não são essenciais, mas constituíram uma vantagem evolutiva para outras espécies”, diz Michel Vincentz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Da parte restante, 14% são genes ou conjuntos de genes específicos das monocotiledôneas, alguns com alta taxa de evolução. “Podemos agora trabalhar melhor as hipóteses sobre os processos específicos que governam as monocotiledôneas”, comenta Carlos Menck, da Universidade de São Paulo (USP).

Os 13,5% finais são exclusivos da cana e, de certo modo, respondem à pergunta que motivou essas comparações – o que faz da cana uma cana? -, embora ainda não se conheça a função desses 5.812 grupos de genes. Os pesquisadores também descobriram cerca de 800 genes ainda não descritos de Arabidopsis, a planta mais estudada em genética, com estimados 26 mil genes. Constataram ainda que o genoma da cana é 30 vezes maior que o da Arabidopsis e que o genoma das angiospermas – as plantas com flores, com cerca de 250 mil espécies, divididas em mono e dicotiledôneas – deve ser constituído de um valor entre 35 mil e 38 mil genes. “O genoma é plástico e dinâmico”, diz Menck, “mas capaz de manter uma estrutura básica, com um número similar de genes.”

Republicar