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Os trópicos na zona de luz

Os trópicos começam a sair da zona de sombra a que têm sido relegados pela indústria farmacêutica. Em parte, os responsáveis pela mudança são grupos sem fins lucrativo que vêm se dedicando ao combate de doenças tropicais, ao mesmo tempo que denunciam o descaso das multinacionais com as moléstias do Terceiro Mundo Em fevereiro, voluntários da St. Louis University, no Missouri, Estados Unidos, receberam doses de um novo tipo de vacina contra a tuberculose (Financial Times, 2 de março). A experiência é coordenada pela Fundação da Vacina contra Tuberculose Aeras Global, que recebeu subvenção de US$ 83 milhões da Fundação Bill&Melinda Gates para conduzir o estudo.

“A doação é para o desenvolvimento de um produto e não para a pesquisa básica que normalmente ganha as manchetes”, diz Jerry Sadoff, presidente da Aeras. Esses grupos tentam compensar uma terrível mazela do mercado. Segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), apenas 13 dos 1.400 remédios desenvolvidos entre 1975 e 2000 tinham como alvo doenças tropicais – na lógica da indústria, não vale a pena investir em drogas para doentes que não têm dinheiro para comprá-las.

A tuberculose, por exemplo, caiu nesse limbo, embora tenha matado 2 milhões de pessoas em 2003. Como o tratamento é o mesmo há 30 anos, as vacinas e as drogas já não têm o mesmo poder de antes. A Aeras congrega parceiros públicos e privados que levantam doações e financiam projetos. A condição para receber a verba é garantir que o produto final seja vendido a preços baixos nos países em desenvolvimento. As acusações de descaso incomodaram algumas indústrias farmacêuticas – e a boa notícia é que algumas delas tentam combater a má fama.

A GlaxoSmithKline e a AstraZeneca abriram laboratórios para combater doenças infecciosas tropicais, enquanto a Novartis contratou um instituto de pesquisa em Cingapura para trabalhar com tuberculose e dengue. “Está havendo uma mudança de mentalidade”, garante Paul Herring, executivo da Novartis responsável pelo centro de Cingapura. “Percebemos que não podemos ignorar o que está acontecendo nos trópicos ou isso se voltará contra nós, uma visão que a epidemia de pneumonia asiática veio reavivar.”

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