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Brasil

Vinhas da ira no Brasil

O extermínio quase completo do Cerrado em São Paulo é considerado iminente pelos autores do livro Viabilidade de conservação dos remanescentes do Cerrado, coordenado por Marisa Bitencourt, da USP, e por Renata Mendonça, do Departamento Estadual para a Conservação dos Recursos Naturais (DEPRN). Embora proteja reservatórios subterrâneos de água, essa vegetação encontra-se extremamente fragmentada – e quase sem proteção legal. São poucas as unidades de conservação e a maioria das ilhas de Cerrado encontram-se em propriedades particulares, cujos donos as vêem como o mato que atrapalha a expansão das plantações e das pastagens. Já se considera impossível manter em pé as matas próximas às cidades, por causa da pressão por novos loteamentos. “Tenho a impressão de que só sobreviverão as áreas protegidas na forma de unidade de conservação”, comenta Giselda Durigan, engenheira florestal e uma das autoras do livro. Em maio, ela e a bióloga Marinez Siqueira percorreram cerca de 7 mil quilômetros de Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Goiás. Viram um cenário semelhante. “Ainda que muitas vezes o desmatamento seja feito dentro da lei, é doloroso ver enormes trechos de vegetação natural serem substituídos pela soja”, observa Giselda. “As paisagens lembram As vinhas da ira [romance do escritor norte-americano John Steinbeck publicado em 1940], o vento açoitando a terra nua depois da colheita e formando uma manta de poeira que cobre toda uma região agora totalmente desprovida de árvores.”

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