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Ficção

Arre lá!

Apre dane-se o misticismo aritmológico do pensamento pitagórico hã estou preocupado coisa nenhuma se Bentinho sambanga brocoió aquele tem a fronte guarnecida por chavelos chifres que tais eh-eh dane-se Esaú alambazado que renunciou à primogenitura por um prato de lentilha ou Simão que quis comprar de São Pedro o dom de fazer milagres fiau! dane-se Prometeu lavadraz encavacado enconchado olímpico que roubou para os homens o fogo do céu hã punfas! pouco se me dá as teorias modernas da expansão e da contração do universo ixe dane-se a tese da origem lógica das figuras abstratas e da geração física das realidades concretas de Filolau canzoal coisa-e-tal puh dane-se a violação dos direitos de hospitalidade dele papangu pastrana Páris arre lá! estou me lixando para o astucioso Hamlet que se faz de zuruó-zoropitó pra garantir a própria segurança hã idem pra ele o zabaneiro-zamboa Édipo que é assassino do homem cujo assassino procura ixe apre aie flat ubi vult danem-se as cinco virtudes as cinco faculdades as dez forças as dezoito substâncias dele bocório boleima Buda ufa xô Salambô aquela que cresceu em abstinências jejuns purificações cousalousa hã interessa nada neca neres saber que o nome do desmangolado David aparece mais de mil vezes na Bíblia eh-eh que o Evangelho dele labrusco lambaio Lucas tem o maior número de parábolas de Jesus puf danem-se as revelações apocalípticas fiau se as coisas da criação são contrárias ao homem e vice-versa arre lá! agüento mais não senhor ouvir que a teoria da relatividade de Einstein se formula num âmbito de uma geometria não-euclidiana pois descreve melhor o universo em que vivemos ixe xô seres brocoiós duma figa tartamudeando ad nauseam sons ininteligíveis apre dane-se a sabedoria campesina dos Erga de Hesíodo hã danem-se os mistérios da transubstanciação arre estou interessado coisa nenhuma nela verdadeira significação da isotopia xô inúteis escaramuças xô sacerdotes sem deus xô seres arrepanhados arreminados fiau jamais souberam abstrair eh-eh xô idéias abstrusas xô esperanças que se esvaem no nada xô a acídia o tédio o torpor aie xô dias frios pobres enfadonhos puf quero saber neca neres de jeito nenhum se a alma é um sopro de Deus se o amor mantém unido os quatro elementos se os anjos são criaturas incorpóreas se a semente vem antes da planta se obliterar significa extinguir apagar fazer desaparecer cousalousa se Hiroxima a propósito não deixa obliterar o poder destrutivo do homem se é possível explicar uma cor a um cego se vale a pena o recolhimento em si mesmo aconselhado pelos estóicos se nada pode ser e não ser simultaneamente se a morte apre arre lá! é tão certa como a bílis é produto do fígado se o crítico é de fato aquele que aprendeu a nadar fora da água eh-eh se o homem de espírito aberto é mesmo livre apre ixe puh sei que ela paixão é uma excogitação diabólica hã estou me lixando pra ela soma dos ângulos dele triângulo que é igual a dois retos oxe xô povaréu cheio dele chove-não-molha fobó quejandos hã xô lucubrações metafísicas apre xô memória razão imaginação aie sei que o ser humano é sim senhor uma só massa condenada eh-eh sabichões aí (pasme) dizem que qualquer coisa que realmente exista existe por absoluta necessidade apre o homem é mesmo um junco pensante quá quá quá humanos todos carecem dela humildade aquela que tempera e freia o ânimo aie pena ixe duas coisas no universo não podem ser absolutamente iguais hã catrâmbias! entendo jeito nenhum linguagem apofântica deles doutores todos aí aie meu Deus ele sim que é a substância das substâncias a idéia das idéias huifa livre-me deles brocoiós todos querido Âmico inventor mítico do pugilato ixe oxe apre acho que não convém viver outra vida que não esta a-hã tudo o que se move é movido por alguma coisa oigalê! ah todos eles aí chibantes cochambrosos chinchorros serão certamente condenados ao nada eterno eh-eh ufa calor dantesco senegalesco cousalousa apre sim senhor sei a-hã os corpos se atraem proporcionalmente ao produto das massas a-hã lei newtoniana a-hã entendi ufa apre xô arre lá! cansei deles enigmas e quebra-cabeças joycianos hã há alguém que está vivendo minha vida diacho e nada sei sobre ele ixe refunfunou o zaragateiro Pirandello eh-eh mestres todos aí modo geral puh ectoplasmáticos fiau não temos claro a alma seráfica dela huifa santa Teresa de Ávila ixe apre puh careca ali eh-eh leitor de Platão Políbio Tácito huummm plus ça change plus cest la même chose eh-eh curioso lembrar agora dele Lichtenberg: um dia será tão ridículo crer em Deus como hoje acreditar em fantasmas aie cruz-credo doutorzinho ali parece eh-eh decorou todos eles 250 mil versos dele Mahabharata hã tudo é um ui calor dantesco ixe impossível alcançar neste forno a ataraxia hã esse est percipere et percipi puf doutorazinha aquela de rabiosque enxundioso hã delírios persecutórios rousseaunianos talvez apre ufa chega dela dialética hegeliana do senhor e do escravo fiau quero imitar nunca-jamais Empédocles aquele que se atirou ao vulcão Etna ixe é o jogo de oferta e procura que equilibra a economia sim senhor hã dane-se a exploração do homem pelo homem quá quá quá estou pouco me lixando para as inquietações e angústias kierkegardianas puf doutora cambanganza ali desde sempre um ser aforismático eh-eh outro ali sim moço candoroso como ele só huifa tempo todo flertando com idealismos delirantes apre xô quero saber neca neres coisa nenhuma se o homem nada é enquanto não fizer de si alguma coisa se Schlemihl perdeu mesmo a própria sombra se in nid beguzarad ou trocando em miúdos se isto também passará se Catão aquecia sua virtude no vinho se a vespa ao picar perde realmente o ferrão para sempre se jamais acorda quem uma vez adormeceu no frio repouso da morte se o polvo colora-se de fato da cor que bem entende segundo as circunstâncias se o homem foi mesmo de forma esférica e logo dividido em duas partes e desde sempre tentando se tornar outra vez redondo e perfeito se devemos acreditar nelas utopias satíricas de Aristófanes se vale a pena viver nas regiões crepusculares do anonimato se eles homens são (au fond) fracos pecaminosos insensatos demais se a variedade é mesmo sintoma de vitalidade se devemos ficar entre a luz de Voltaire e as trevas de De Maistre se Confúcio e Lao-Tsé nasceram na China e Upanishad e Buda na Índia e Zaratustra na Pérsia ixe quero não senhor ver as trevas ouvir o silêncio hã tudo sofismas e ilusões que tais mas diacho convenhamos a vida tem lá o seu não-sei-quê eh-eh mas seja como for danem-se as moléculas os átomos os prótons os nêutrons os elétrons os quarks tudo todos inclusive este revestimento interno calorífico sobre esta sala de reunião de professores desta universidade chavascal em que me encontro purutacotataco preso há mais de um mês diacho.

Evandro Affonso Ferreira é livreiro e escritor, autor dos livros Grogotó! (Top Books), Arãa! (Hedra), Erefuê! e Zaratempô! (Editora 34).

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