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Brasil

Danos agora visíveis

A Amazônia voltou a chamar a atenção no mês passado, por duas razões: a seca mais intensa em quatro décadas e a constatação de que o ritmo do desmatamento nos últimos anos pode ser maior que o imaginado. O impacto da ação humana, provocado pelo corte seletivo de árvores, chega a dobrar a perturbação ambiental na área. “Realmente, os dados causaram surpresa”, informa José Natalino Silva, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e um dos autores do artigo Selective logging in the Brazilian Amazon, publicado na revista norte-americana Science. “Nós já tínhamos algumas estimativas, calculadas pelo consumo de madeira retirada da floresta. Agora conseguimos desenvolver uma ferramenta eficiente e útil para estabelecer as políticas públicas da região”, diz Silva.

Os números gerados pela nova metodologia, que consegue enxergar pelo meio das copas das árvores, impressionam. Entre 1999 e 2002, os dados analisados para os estados do Acre, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima mostram que a área atingida pelo método do corte seletivo variou de 12.075 a 19.823 quilômetros quadrados. Isso equivale de 60% a 123% das áreas identificadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) como desflorestadas pelo corte intensivo de espécies de madeira, dentro do mesmo período.

“Em algumas situações, o impacto realmente dobra”, afirma Silva. A situação no Mato Grosso foi a mais grave. “Nosso estudo usou novas técnicas de análise de dados obtidos por satélite”, explica Gregory Asner, do Instituto Carnegie da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e principal autor do artigo. “Compilamos essas informações com o que foi gerado por outros três sistemas complementares de satélite. Com isso tudo, conseguimos mapear o corte seletivo.” Segundo Asner, a metodologia está baseada em técnicas avançadas de processamento computacional.

Apesar dos resultados impactantes, o pesquisador norte-americano não acredita que o método do corte seletivo de árvores, visto por muitos ambientalistas como o ideal para a exploração da madeira amazônica, deva ser deixado de lado. “Mas, se o corte seletivo for feito de forma descontrolada, os impactos negativos serão grandes tanto para a sustentabilidade das atividades humanas como para toda a ecologia da região”, diz Asner. Silva, da Embrapa, concorda. “O problema não é o método, que é bom. O risco está na visão das pessoas. Se os agricultores, principalmente do setor da soja, e os pecuaristas, por exemplo, respeitarem os 20% de reserva legal já está muito bom”, explica o pesquisador, que é especialista em manejo vegetal. “Coibir as ações ilegais é fundamental. Muitas das explorações detectadas pelo estudo revelam que o corte seletivo está sendo feito em reservas indígenas, por exemplo”, conta.

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