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Políticas Públicas

A metrópole começa a respirar

Controle da emissão de poluentes poupa vidas em São Paulo

EDUARDO CESARMelhor qualidade do ar, apesar do aumento de 60% na frota de veículosEDUARDO CESAR

Apesar do aumento de 60% na frota de veículos em 20 anos, os níveis de poluição por monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxido de nitrogênio na Região Metropolitana de São Paulo reduziram-se significativamente. A melhora da qualidade do ar decorre da migração das indústrias e da expansão do setor de serviços. Mas é também resultado do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) que, desde 1986, estabelece limites máximos para emissão de gases poluentes.

As novas tecnologias incorporadas pelas montadoras reduziram as emissões de poluentes em mais de 90% nos automóveis e em 80% nos caminhões. Isso foi possível por meio da troca dos carburadores por injetores que controlam eletronicamente a alimentação de combustível, melhorando a combustão e o consumo, bem como a implantação de sistemas de controle de emissões, como o conversor catalítico.

Esses investimentos, além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico da indústria automotiva, retiraram da atmosfera partículas que propiciam o desenvolvimento de doenças como infarto do miocárdio, derrame, bronquite, asma e enfisema pulmonar. Os efeitos da redução da poluição sobre a saúde da população são impressionantes. O Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), avaliou o impacto dessas medidas na Região Metropolitana de São Paulo nos últimos dez anos e concluiu que  foram poupadas 15 mil vidas, conforme afirma Paulo Saldiva, pesquisador do LPAE. O custo social dessas mortes teria sido de US$ 1,5 bilhão.

O ganho em saúde deveria ser o principal argumento para justificar os investimentos em novas tecnologias. “Para  construir uma usina hidrelétrica, são exigidos estudos de impacto ambiental. O mesmo não ocorre quando as ações resultam em poluição do ar”, afirma Saldiva. São Paulo, ele exemplifica, licencia 20 mil novos veículos por mês. “A cada três meses, esses veículos produzem um volume de emissões equivalente ao de uma termelétrica a gás, que é altamente poluidora”.

Novas metas
O Proconve completou 20 anos com sucesso, mas agora tem que estabelecer novas metas para atender os novos padrões preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS, ele exemplifica, está propondo um limite máximo de 20 micrômetros (milionésima parte do metro) para as partículas inaláveis finas, provenientes das emissões de diesel. “São Paulo tem partículas com 40 micrômetros”, ele afirma. Esta diferença, de acordo com a pesquisa da USP, resulta em nove mortes por dia e num custo social de US$ 300 milhões por ano. No caso das partículas emitidas pelo diesel, os maiores vilões da história são os velhos ônibus e caminhões – a frota tem uma idade média de 15 anos – que ainda circulam sem utilizar filtros e catalisadores adequados.

A solução está na inspeção obrigatória de veículos, medida adotada apenas no estado do Rio de Janeiro. “Já existe tecnologia para isso”, sublinha Saldiva.

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