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Tecnociência

Quando a tradição funciona

No sertão nordestino, onde chove pouco e o sol castiga as plantações o ano todo, é comum os pequenos sitiantes soltarem seus animais – cabras, ovelhas e umas poucas vacas – para pastarem em terrenos coletivos ao lado de suas propriedades. Há quem ache atrasado e economicamente inviável esse modelo de produção conhecido como fundo de pasto, comum em Pernambuco, Bahia, Ceará e Paraíba. O agrônomo Fabiano Toni, da Universidade de Brasília, analisou esse sistema e constatou que o fundo de pasto tem lá suas vantagens. Em um estudo com Evandro Holanda Júnior, da Embrapa, e Evanildo Lima, da Comissão Pastoral da Terra de Senhor do Bonfim, na Bahia, ele entrevistou 549 pequenos proprietários de doze municípios do semi-árido baiano: 441 criavam animais no sistema de fundo de pasto e 108 em propriedades privadas. Quem usava propriedade privada tinha área de pastagem maior – em média 10 hectares, ante 4 – e um boi a mais que os outros criadores, que possuíam cinco. Mas isso não lhes garantia renda maior nem mais comida. Os que usavam fundo de pasto consumiam mais carne por ano: 53 quilos por pessoa, ante 43 quilos. É que eles em geral têm mais cabritos, animal resistente à seca. “Nas condições locais, em que já existe a cultura de uso coletivo da terra, o fundo de pasto foi mais eficiente”, diz Toni, que apresentou os resultados este ano em Nova Délhi, Índia.

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