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Telecomunicação

Ramal inteligente

Telefonia empresarial ganha sistema avançado de automação

EDUARDO CESARMódulos independentes para cada ramalEDUARDO CESAR

A empresa paulistana Conceito desenvolveu uma tecnologia, que vai servir principalmente a telefonia empresarial, na distribuição de linhas telefônicas em ramais que atuem de maneira independente uns dos outros, além de controlarem sistemas de automação predial. São funções realizadas por meio de módulos de telefonia distribuídos no ambiente e conectados a cada ramal. Dessa forma, além de agir como um PABX modular e distribuído, tal sistema privado de telefonia prevê a interação com qualquer aparelho que faz parte do sistema de automação de prédios inteligentes. Assim, ao digitar teclas de um telefone, em qualquer lugar dentro ou fora da empresa, é possível ligar o ar-condicionado, abrir portas e janelas e, por meio de sensores, até descobrir se existe alguém passeando por lá.

O novo sistema foi batizado de Telefonia Modular Inteligente Distribuída (TMID) e possui módulos que o fazem trabalhar de forma independente da comutação realizada pelo PABX. Para realizar todas as funções, os ramais são conectados entre si e à rede Local Operating Network (LonWorks), que realiza a automação predial, compartilhando o mesmo meio físico, como os pares de fios, por exemplo. A idéia de desenvolver os “telefones inteligentes” surgiu enquanto o coordenador do projeto da empresa financiado pelo Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da FAPESP, o físico Miguel dos Santos Alves Filho, desenvolvia sensores com inteligência distribuída para balanças de caminhões, usadas nas estradas, em 1991. Desde então, ele começou a perguntar se não conseguiria fazer um PABX de forma distribuída do mesmo modo que havia feito com os sensores das balanças.

O sistema convencional é composto de Central Telefônica de Comutação Privada, que possui a sigla PABX, de Private Automatic Branch Exchange, e funciona de maneira centralizada. É a partir de um aparelho central que ele administra os ramais da empresa, fazendo as ligações para a central telefônica pública por meio de, pelo menos, duas linhas-tronco e cinco ramais. A depender de seu interesse, a empresa pode comprar mais linhas-tronco e colocar mais ramais. O problema é que as micro e pequenas empresas acabam tendo ramais ociosos, enquanto as  grandes precisam lidar com uma estrutura de conexões muito complexa e com muitos fios.

A simplicidade do sistema TMID está no seu núcleo, chamado de módulo controlador, que possui  um microprocessador de informações denominado Neuron Chip, desenvolvido pela empresa americana Echelon, além de um transceptor, dispositivo que tem a função de garantir o acesso à rede de comunicação do prédio. Por tratar-se de uma tecnologia  modular, o cliente pode adquirir os módulos na medida de seu interesse e necessidade, sempre considerando o custo do que realmente vai usar.

Partindo da tecnologia desenvolvida que está em forma de protótipo, portanto ainda não disponível comercialmente, a empresa produziu e colocou no mercado o Logphone. Conectado ao telefone e a um computador, ele monitora todos os telefonemas recebidos, grava conversas, registra a duração, informa o número de quem ligou ou se o telefone estava ocupado. O aparelho é aplicado de maneira independente em cada ramal e custa R$ 100 cada um.

A empresa também está trabalhando para colocar no mercado o Módulo de Resposta Audível (MRA) que realiza o serviço de espera telefônica personalizada em cada ramal e o atendimento automático, normalmente utilizado por empresas de telemarketing. Esse trabalho pode ser realizado pelo PABX, mas depende de uma estrutura maior e mais dispendiosa: uma unidade de resposta audível para gravar e decodificar a conversa, além de um computador para armazenar as locuções programadas. Como o uso de um PABX é predominante no Brasil, o grupo está desenvolvendo o MRA. que terá entradas analógicas e digitais. “É uma maneira de entrar no mercado aos poucos”, explica Alves Filho.

O grupo também pretende produzir o Módulo Gate Keeper (MGK) para interligar os telefones e os computadores em rede, ampliando o sistema de comunicação. A diferença desse sistema em comparação com o Voice Over Internet Protocol (Voip), ou voz sobre protocolo internet, que possibilita ligações telefônicas na rede, é o envio de informação sincronizada e voz com boa qualidade. No Voip, as informações, ou “pacotes de voz”, que transitam pela internet sofrem atraso e variação na ordem de emissão, resultando em uma comunicação deficitária. “O novo sistema elimina a perda de comunicação dos pacotes e melhora a qualidade da ligação via internet”, explica.

Para Alves Filho, o fato de entrar no mercado não é o suficiente para a nova tecnologia ser disseminada. Ele quer difundir o novo sistema no meio acadêmico. “É importante formar grupos de estudos sobre automação porque não adianta criar a tecnologia e colocar no mercado sem que existam profissionais capacitados para trabalhar com ela”, diz. É por isso que o conhecimento produzido por Alves Filho também está em uso na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) pelo Virtual Network Center of Ecosystem Services (ViNCES), um consórcio de laboratórios que utiliza o controle a distância e a automação de aparelhos para coleta de dados em pesquisas na área de ecologia.

O Projeto
Rede de controle de dispositivos com inteligência distribuída em interfaces de comunicação e automação (nº 01/03449-1); Modalidade Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe); Coordenador Miguel dos Santos Alves Filho – Conceito; Investimento R$ 173.520,37 (FAPESP)

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