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Carta da editora | 135

Frutos suculentos da pesquisa

A notícia saiu ainda na primeira quinzena de abril: 14 pacientes de diabetes juvenil, submetidos a uma agressiva combinação de quimioterapia e transplante de células-tronco previamente retiradas da medula de cada um, encontram-se há meses livres da necessidade de injeções diárias de insulina. Isso quer dizer que um ousado tratamento experimental levado a cabo pioneiramente no Brasil controlou, em níveis surpreendentes, uma doença que sempre constituiu um pesado fardo para seus jovens portadores. A palavra cura, é claro, não deve ainda ser aplicada ao caso. Os promissores resultados da experiência foram detalhados na edição de abril do Jama, o respeitado Journal of the American Medical Association.

Em meio ao júbilo que a notícia produziu na FAPESP – afinal, tratava-se de um belo resultado dos esforços de pesquisa do Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão criados em 2000 sob os auspícios da Fundação e solidamente apoiados por ela -, uma dúvida insinuou-se no espírito da equipe responsável pela produção de Pesquisa Fapesp: a notícia já não seria velha demais para figurar na capa da edição de maio da revista?

Não, não seria, eu tinha convicção. Para uma publicação que, gerada das entranhas de um boletim de notícias relevantes da agência paulista de fomento à pesquisa, nasceu com o compromisso inarredável de trazer à luz os resultados mais significativos da produção científica brasileira – tantas vezes menosprezados e mal compreendidos -, nada havia nessa produção, neste exato momento, que ombreasse a experiência da equipe de Ribeirão Preto coordenada por Júlio Voltarelli. Objeto do relato do editor especial Marcos Pivetta, nenhum assunto estava a rivalizar com esse na disputa pela capa de maio de Pesquisa Fapesp. A novidade, o caráter inédito das coisas, mesmo no jornalismo, nem sempre constituem o critério absoluto para a escolha do que merece ocupar o espaço mais nobre de uma publicação.

Mas resta dizer que era por uma dessas imprevisíveis coincidências que um produto de um Cepid fornecia o tema da capa da revista no mesmo momento em que preparávamos um suplemento especial sobre o trabalho de difusão do conhecimento levado a efeito por esses centros. Já acertado há alguns meses, o suplemento deveria circular junto com a edição de maio. A reportagem tornava-se assim uma espécie de prova cabal, uma reiteração, de que os Cepids incluem-se entre os mais eficazes agentes institucionais de uma talvez ainda mal percebida transformação em curso na estrutura da produção de ciência e tecnologia neste país.

Aliás, há evidências acumuladas nesse sentido pelo menos em duas outras reportagens na seção de política científica e tecnológica. Uma delas trata da criação de uma primeira empresa de propósito específico (EPE) pela Embrapa, que permitirá a essa empresa pública associar-se com parceiros privados para realizar pesquisas. A outra faz um relato sobre novos modelos de associação entre empresas e universidades, articulados pela FAPESP, para a geração de conhecimentos de fronteira e sua aplicação em projetos que tenham efetivo impacto social e econômico e ligado a áreas tão decisivas como, por exemplo, a tecnologia da informação (TI). Os dois textos são da editora de política, Claudia Izique.

Em tecnologia, o destaque desta edição são as novas linhagens de leveduras que, ao dispensar a etapa da centrifugação no processo de fabricação de açúcar e álcool, podem reduzir de forma significativa o custo de produção nas usinas do setor. O relato, é de Yuri Vasconcelos. E para finalizar, um convite ao leitor para que entre sem receio pelos reinos encantados da imaginação desenfreada: o editor de humanidades, Carlos Haag, dá pistas academicamente fundamentadas, sobre as razões de Harry Potter ter se transformado num incrível fenômeno da literatura infanto-juvenil.

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