Imprimir PDF Republicar

Tecnociência

Intestino aderente

JAMES GATHANY/CDCÂncora: açúcar permite fixação do parasita no sistema digestivo do mosquitoJAMES GATHANY/CDC

Uma arma secreta para o combate à malária, doença que a cada ano atinge mais de 500 milhões de pessoas no mundo, sobretudo nas regiões mais pobres, pode estar no intestino de um mosquito. Entre os parasitas causadores da doença, Plasmodium falciparum é o mais comum e responsável pela forma mais grave. Mas só completa seu ciclo de vida depois de passar pelo sistema digestivo do pernilongo Anopheles, que consome sangue infectado de mamíferos doentes e depois inocula os parasitas nas vítimas seguintes. O grupo do bioquímico brasileiro Marcelo Jacobs-Lorena, radicado no Instituto de Pesquisa sobre Malária da Universidade Johns Hopkins de Saúde Pública, Estados Unidos, acaba de descrever em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) detalhes de como P. falciparum se fixa ao intestino do mosquito. O segredo está no carboidrato glicosaminoglicana com sulfato de condroitina, que o parasita reconhece e ao qual se liga. Os pesquisadores inibiram a produção desse carboidrato em mosquitos vivos e com isso reduziram em até 95% a infestação por P. falciparum nos intestinos dos insetos. A identificação do sulfato de condroitina pode ser o passo inicial para uma potencial vacina contra a malária, objetivo ainda distante de ser alcançado. Primeiro é preciso descobrir qual proteína do plasmódio reconhece essa glicosaminoglicana para, em seguida, usá-la como alvo para bloquear a transmissão do parasita. É mais munição para o arsenal de Jacobs-Lorena na luta contra a malária: a edição de agosto da PNAS traz outra proteína identificada por seu grupo, a aminopeptidase, que também pode ser alvo de vacina bloqueadora de transmissão.

Republicar