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Especial Einstein

Einstein Revisitado

A exposição de um cientista singular ajuda a expandir a cultura científica

Albert Einstein foi analisado, examinado e debatido de muitas maneiras entre 11 de outubro e 14 de dezembro de 2008 no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A revolução que o genial cientista produziu na física no começo do século XX e o poderoso impacto de suas teorias no conhecimento científico em geral, tanto quanto os passos concretos aparentemente incoerentes que o conduziram a uma biografia de raro brilho e os ecos de suas criações intelectuais em variados campos das artes e das humanidades, foram criteriosamente esquadrinhados por respeitados pesquisadores em 26 palestras organizadas por Pesquisa Fapesp. Essas falas compuseram a programação cultural paralela da exposição Einstein, organizada pelo Instituto Sangari no pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira, e constituíram a base de três suplementos especiais publicados pela revista nas edições de novembro e dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Agora todos os textos dos suplementos, reunidos na presente publicação especial de Pesquisa FAPESP, aparecem reordenados de modo a permitir aos leitores um percurso com maior organicidade, primeiro, pelo trabalho do físico propriamente, em seguida, por outras facetas laboriosas deEinstein, como a do inventor de pequenos aparelhos e engenhocas e, por último, pelo lugar que o trabalho desse cientista ocupa no conhecimento e na cultura – mais claramente estabelecido pelas relações de suas proposições com muitas outras, contemporâneas, e vindas de variados campos teóricos.

Sobre a exposição Einstein, diga-se, antes de mais nada, que ela foi vista por 145 mil pessoas, entre 24 de setembro e 14 de dezembro de 2008 (a Revolução genômica, mostra anterior montada pelo Instituto Sangari, atraiu 150 mil pessoas do final de fevereiro a meados de julho de 2008). É sem sombra de dúvida um belo resultado num país em que exposições científicas e visitas a museus de ciência não estão ainda na agenda normal da maior parte da população, reconhece o diretor científico do instituto e coordenador científico da mostra, Marcelo Knobel. Concebida originalmente no Museu de História Natural de Nova York, mas com um importante acréscimo de conteúdo de seus organizadores brasileiros, a exposição visivelmente fascinou pessoas de todas as idades, em especial nas instalações mais interativas, como a “teia de luz” e a “máquina do tempo”. Na primeira, propunha-se ao visitante o desafio de atravessar uma sala cortada por feixes de luz sem tocá-los, seguindo a brincadeira contida numa frase de Einstein: “E se corrêssemos com um raio de luz”? Na segunda, ao fornecer a data de seu nascimento, o visitante podia observar em vários relógios, num grande painel,  que idade teria se desde então estivesse viajando em diferentes frações da velocidade da luz (como seríamos tão mais novos se estivéssemos nos deslocando quase à velocidade da luz…).

Quanto às palestras da programação cultural – “a alma desse tipo de exposição, porque permite o contato direto do público com os especialistas e estimula o debate sobre a ciência na sociedade” –, elas tiveram um público muitas vezes mais modesto: 859 assistentes, ao todo, em 18 datas diferentes, o que dá uma média de quase 48 pessoas por sessão (nas palestras da Revolução genômica, também organizadas por Pesquisa FAPESP, o público total estimado foi de 1.100 pessoas para 26 diferentes datas, ou seja, pouco mais de 42 por sessão). Consideradas todas as fortes barreiras culturais à afluência a esse tipo de programa, admita-se, como Knobel, que “foi um bom público”. No entanto, “ainda não se conseguiu um horário adequado para que as palestras ligadas a temas científicos possam competir com outras atividades”, pondera esse professor titular do Instituto de Física Gleb Wataghin e coordenador do mestrado de Divulgação Científica e Cultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As palestras da exposição Einstein, do mesmo modo que ocorrera com as da Revolução genômica, foram programadas para as tardes de sábado e final das manhãs de domingo, e, entre centenas, às vezes milhares de frequentadores do parque, não eram tantos assim os que se dispunham a trocar atividades externas, especialmente em dias ensolarados, por um mergulho em densas reflexões sobre ciência numa sala fechada – mas foram o bastante para estimular especialistas brasileiros e estrangeiros a apresentar com vigor suas ideias e debatê-las, às vezes acaloradamente, com o público.

Na verdade, há muito a fazer além de descobrir os melhores horários para o público e os melhores atalhos para sensibilizar os editores dos guias de fim de semana para palestras, debates e exposições científicas. “Acho que há um trabalho lento e longo a ser feito, ampliando também a sensibilidade das novas mídias, dos blogs, para esses eventos e assim batalhando para que criem raízes em nossa cultura”, diz Marcelo Knobel. Enquanto se vai fazendo isso, é animador saber que Pesquisa FAPESP recebeu de docentes e pesquisadores 145 solicitações de envio de DVDs com a íntegra de todas as palestras apresentadas no ciclo Einstein, o que faz supor que a filmagem desses eventos, longe de se encerrar no próprio registro, tem um claro desdobramento educativo, talvez de prazo mais longo do que podemos imaginar. E é também animador perceber que das 80 mil a 90 mil visitas mensais que o site da revista recebe, um percentual muito significativo de visitantes se detém nos vídeos de alguns minutos que resumem as palestras. Com as imagens e palavras ditas por um meio audiovisual ou com o registro escrito das ideias, Pesquisa FAPESP procura juntar-se ao esforço de muitos para ampliar a cultura científica ainda escassa na sociedade brasileira.

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