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Especial Einstein

Cássio Leite Vieira: Gostos e desgostos

Aversão ao militarismo e paixão pela música são alguns traços da personalidade de Einstein

Leite: entre Mozart e castelos de cartas

marcia minilloLeite: entre Mozart e castelos de cartasmarcia minillo

A grande dificuldade de Einstein para aprender idiomas, como francês e grego, apesar de ser um excelente aluno em outras disciplinas, a aversão demonstrada precocemente pelo militarismo alemão e suas manifestações, o apego pela irmã mais nova, Maja, e o carinho com que tratava as crianças são traços da personalidade do físico alemão. O físico e jornalista da revista Ciência Hoje, Cássio Leite Vieira, falou sobre “Os gostos e desgostos de Einstein” na apresentação do dia 6 de dezembro e traçou um painel da vida do físico alemão, iniciado com a famosa imagem em que ele mostra a língua. A pose irreverente foi uma resposta a um pedido de um fotógrafo feito em 1951, no dia do seu aniversário de 72 anos. Einstein gostou tanto da fotografia que pediu cópias para o autor e passou a mandá-las autografadas para os amigos.

Vieira mostrou imagens de várias fases da vida do físico contrapondo gostos e desgostos, entre elas a fotografia mais antiga conhecida do cientista, ainda criança ao lado de sua irmã, Maja, dois anos mais nova. “Segundo a irmã, que depois escreveu uma biografia muito interessante sobre ele, sua brincadeira preferida era construir castelos de cartas.” Dos pais, herdou o gosto pelos cálculos e pela música. O pai gostava muito de matemática e a mãe tocava piano. Desde criança ela o incentivou a tocar violino, instrumento pelo qual teve grande paixão durante toda a vida, assim como por Mozart, seu compositor preferido. Também precocemente, Einstein demonstrou não gostar de militares. Durante um desfile, disse: “Como é que alguém pode crescer e virar uma pessoa assim, mecânica, sem alma?”. Além de construir castelos de cartas, observar os bichinhos e as plantas do jardim, ele também tinha grandes explosões de raiva. “Sua irmã dizia que nessas ocasiões ele ficava com a bochecha muito vermelha e o nariz amarelo”, relatou Vieira. Quando adulto, essas explosões se repetiram em pelo menos duas circunstâncias. “Em 1920, em Berlim, quando o movimento nazista começava a sua ascensão, físicos que haviam aderido ao nazismo criticavam em jornais a física de Einstein, em parte por ser muito inovadora e em parte porque ele era judeu”, disse. Quando via essas críticas, ele rasgava e jogava o jornal no chão.

Um desses ataques, presenciado por um físico famoso, amigo e colaborador, ocorreu em meados da década de 1930, ao receber a resposta de uma revista científica para publicação de um artigo que havia escrito sobre ondas gravitacionais. “Nunca, até aquele momento, um trabalho de Einstein havia passado pelo chamado parecer técnico por pares”, explicou Vieira. A resposta da revista, de que seria necessário a revisão de alguns pontos, foi recebida com palavrões. Einstein, inconformado, rasgou o trabalho e jogou os pedaços na lata do lixo. “O pior de tudo é que o amigo dizia que o parecer técnico sobre o artigo tinha fundamento, porque realmente havia pontos falhos”, completou Vieira.

Einstein adorava crianças, que lhe escreviam muitas cartas. Em uma delas, uma criança diz: “Eu e meu pai vamos construir um foguete para ir a Marte ou Vênus. Queremos que o senhor vá porque precisamos de um bom cientista, que saiba guiar o foguete”. Em outra, uma sugestão: “Tenho 6 anos, vi sua foto e quem sabe o senhor não ficaria melhor com um corte de cabelos?”.

Os gostos e desgostos de Einstein
Cássio Leite Vieira, físico e jornalista, autor de Einstein, o reformulador do Universo (Odysseus)

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