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Tecnociência

Motim no reino das abelhas

A ordem costuma ser rígida na colmeia: a rainha põe ovos e produz a força de trabalho que executa as demais tarefas, como buscar alimento, combater invasores e cuidar da cria. Mas nem sempre é assim. Entre as abelhas sem ferrão brasileiras da espécie Melipona scutellaris, também conhecidas como uruçus, mais de 20% dos machos não são filhos da rainha. A insurreição não é inédita — machos alheios já tinham sido encontrados em outras espécies. São filhos de operárias reprodutivas, cujos ovos não fertilizados só podem dar origem a machos devido a particularidades genéticas das abelhas. A surpresa maior do trabalho, parte do doutorado da bióloga Denise Alves na Universidade de São Paulo, foi descobrir que 80% desses machos também não foram produzidos pelas operárias ativas na colônia. São filhos de operárias da rainha anterior, um caso de parasitismo reprodutivo. A pesquisa, feita em colaboração com Tom Wenseleers, da Universidade de Leuven, na Bélgica, mostra que as operárias reprodutivas têm vida três vezes mais longa do que a das trabalhadoras verdadeiras, o que lhes permite sobreviver a uma rainha morta e povoar com filhos seus, que serão criados pelas novas operárias, o reino da nova monarca (Molecular Ecology).

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