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Leucemia

Quando a leucemia resiste à quimioterapia

Yunes et al.Células do estroma sozinhas (A) são procuradas (B) pelas leucêmicas (cor clara). Em alguns casos, migram para baixo das leucêmicas (setas) para se proteger contra a quimioterapiaYunes et al.

Uma equipe de pesquisadores do Centro Infantil Boldrini, em Campinas (SP), descobriu um mecanismo de interação que torna a leucemia linfoide aguda, câncer desenvolvido na medula óssea, resistente à quimioterapia. Com o estudo, os pesquisadores esperam desenvolver novos tratamentos para os pacientes que não conseguem se recuperar da doença por esse motivo. Publicado na revista Leukemia na terça-feira (18), o trabalho mostra como alguns genes desse tipo de tumor interagem com uma família específica de células da medula óssea.

Três tipos de leucemia se desenvolvem em crianças e adolescentes: mieloide aguda, mieloide crônica e linfoide aguda – sendo esta o câncer mais comum entre eles. Cerca de 70% a 80% dos jovens acometidos pela leucemia linfoide aguda conseguem a cura por meio da quimioterapia. Nos demais, as células cancerígenas se mostram resistentes ao ataque da quimioterapia, ocasionando uma recaída do paciente com relação à da doença. O mecanismo descoberto agora pode ser uma das explicações para essa falha do medicamento e uma direção para novas medicações no futuro.

Coordenado por José Andrés Yunes, do Centro Infantil Boldrini e da Universidade Estadual de Campinas, o estudo aborda a influência das células de estroma (família de células responsáveis por formar a estrutura básica de um órgão) sobre as células leucêmicas. Mais especificamente, os pesquisadores estavam interessados em analisar o efeito do estroma sobre genes da leucemia relacionados à resistência aos quimioterápicos. Os pesquisadores mostraram que a atividade de alguns genes de resistência das células leucêmicas aumentou ao entrar em contato com o estroma. Ou seja, ele acaba colaborando com a doença, estimulando genes da célula cancerosa a produzirem em conjunto com a insulina uma proteína chamada IGFBP7, que potencializa a resistência do tumor ao tratamento quimioterápico.

O trabalho revelou uma ’cumplicidade’ entre as células leucêmicas e as células do estroma, graças a essa proteína. As células do estroma atuam sobre as leucêmicas que por sua vez estimulam o metabolismo das primeiras, dificultando a ação da quimioterapia. Isso acontece porque, apesar de o medicamento quebrar um aminoácido essencial para o desenvolvimento das células cancerosas, a IGFBP7 faz com que o estroma forneça quantidades maiores do aminoácido. Assim, a proteína conduz a uma alteração do microambiente tumoral que atrapalha a ação do quimioterápico, beneficiando a leucemia.

“Entender esse funcionamento pode abrir a possibilidade de se desenvolver drogas capazes de neutralizar esse efeito”, conta um dos autores, Angelo Laranjeira, doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com o Boldrini. “Resultados preliminares nos levam a crer que a IGFBP7 também possa estar envolvida na resistência a outros quimioterápicos”, diz. Segundo Yunes, medicamentos contra o diabetes talvez possam auxiliar a quimioterapia no tratamento desses casos de câncer.

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