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Resenhas

A inovação em três países

Diplomacia, desenvolvimento e sistemas nacionais de inovação | Ademar Seabra da Cruz Junior | Funag, 292 páginas, R$ 59,00

O livro Diplomacia, desenvolvimento e sistemas nacionais de inovação: estudo comparado entre Brasil, China e Reino Unido propõe uma abordagem comparativa ambiciosa para um tema de grande interesse no mundo da inovação: os sistemas nacionais de inovação de três países muito diferentes – Brasil, China e Reino Unido.

O autor Ademar Seabra da Cruz Junior possui uma formação e uma trajetória ecléticas: formação secundária em área tecnológica (química), cursou diferentes graduações (economia, letras, direito), antes de realizar estudos de pós-graduação em ciência política (nas Universidades de São Paulo e de Brasília), filosofia (London School of Economics), sociologia (de novo na USP) e alcançar o doutorado no Altos Estudos do Instituto Rio Branco.

A formação vasta e variada deu lugar a uma tese (e um livro) igualmente vasta e variada, pelas abordagens que o autor realiza, combinando a sua extensa formação universitária e a experiência profissional, incluindo as influências muito variadas que ele indica nos (generosos) agradecimentos. Há sem dúvida uma visão (ou várias visões) da economia, uma interpretação muito pouco canônica dos fatos econômicos que conformaram o sistema econômico internacional e os países sobre os quais o autor se debruça; há elementos dos sistemas políticos e das políticas nacionais; e há uma destacada importância acordada às relações internacionais e às políticas nacionais para essas relações internacionais, uma presença esperável, claro, em vista da militância profissional do autor no Ministério das Relações Exteriores.

No primeiro capítulo o autor apresenta a sua revisão das teorias da inovação, com ênfase em elementos que lhe permitem desenvolver as suas ideias sobre o sistema nacional de inovação. Embora seja uma visão universal, o olhar do autor volta-se principalmente para os sistemas úteis para a compreensão dos sistemas nacionais que se aproximam do brasileiro, abordado de modo mais detalhado no segundo capítulo, onde os nexos entre globalização e inovação permeiam o desenvolvimento feito pelo autor.

Os capítulos que compõem a segunda parte do livro dedicam-se à análise dos sistemas de inovação dos países que são objeto da comparação: Brasil, China e Reino Unido. Se o Reino Unido é o primeiro modelo nacional de sistema de inovação, a China é o caso espetacular, com “a dramática mudança de perfil a partir da reforma institucional de 1985, ou de alguns poucos anos antes, quando o Partido Comunista Chinês (PCC) transformou completa e radicalmente a estrutura produtiva do país”. Ambos os casos descritos por Seabra da Cruz oferecem o termo comparativo para o exame do sistema brasileiro.

O sexto capítulo apresenta a hipótese-tese, que o autor suaviza com o termo “exploratório”: o papel protagonista do Ministério das Relações Exteriores “na conformação e desenvolvimento dos respectivos sistemas nacionais de inovação”. Nas palavras do autor, eis a tese que pretende demonstrar: “É o Itamaraty quem ostenta, portanto, no Estado brasileiro e no âmbito do SNB [sistema de inovação brasileiro], as melhores condições para conhecer a realidade e disponibilidade, não somente de cooperação, mas de transferência de tecnologia e de apropriação de experiências de inovação bem-sucedidas no exterior, mormente no quadro dos países da OCDE e das economias emergentes”. Seabra da Cruz reconhece em seu livro ser essa tarefa “das mais desafiadoras”. Mas isso não esmorece a sua fé na missão, pois “[o] Itamaraty dispõe (…) de vocação para o desempenho dessa tarefa”. A tarefa ingente de montar um sistema nacional de inovação vigoroso e dinâmico só pode beneficiar-se desse valioso alicerce.

Pode ser baixado em www.funag.gov.br

João Furtado, economista, é coordenador adjunto de inovação tecnológica da Diretoria Científica da FAPESP.

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