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Resenhas

Um mapa à altura de São Paulo

Metamorfoses paulistanas | Alvaro Comin (org.) | Editora Unesp, 368 páginas, R$ 120,00

Estabelecer conexões com o desenvolvimento econômico e o espaço urbano de São Paulo, procurando explicar a localização de atividades inovativas e as dinâmicas territoriais, não é tarefa fácil, dada a dimensão e complexidade do município e a incipiência de dados.

Os resultados deste estudo indicam que o município possui estrutura produtiva complexa e diversificada, reforçando sua posição primaz no país e contrariando a afirmação de que os setores industrial e de serviço se opõem. Para Comin (cap. 1), na atualidade, evidencia-se forte relação da indústria com uma parcela do setor de serviço, que passou a incorporar, em sua matriz, conhecimento e inovação tecnológica. Investimento em educação é um dos principais desafios para as políticas públicas, propiciando o acesso da população às novas tecnologias e contribuindo para a redução das desigualdades sociais.

Freire, Abdal e Bessa (cap. 2) discutem a relação entre indústrias de alta tecnologia, inovação e conhecimento. Consoni (cap. 4) enfatiza que a sinergia decorrente das articulações entre empresas de P&D e universidades é estratégica para as políticas públicas, pois qualificam a mão de obra especializada, para além do pessoal com nível superior, proporcionando melhores salários e maior renda.

A despeito dos aspectos vantajosos da modernização tecnológica, os mapas espacializam as múltiplas dimensões do tema, denotando “regiões ganhadoras e perdedoras’’, conforme apontam Bessa et al (cap. 5). A localização dos setores produtivos mais modernos, dos empregos qualificados, dos estratos sociais de média e alta renda e das melhores infraestruturas reforçam o centro expandido, em especial o vetor sudoeste, evidenciando que a histórica segregação socioespacial na cidade persiste.

Wissenbach (cap. 8 ) analisa o papel da localização urbana na dinâmica do mercado imobiliário, reconhecendo sua força, e indaga se é possível “conciliar uma política de desenvolvimento urbano que se oriente pela reversão dos problemas crônicos da cidade […] com a existência de um setor imobiliário fortalecido que contribua para a geração de emprego, renda e oportunidades’’.

A mobilidade urbana, tema abordado por Vasconcellos (cap. 9), é problemática em função da má qualidade e oferta reduzida dos transportes públicos nas áreas periféricas. Os deslocamentos intraurbanos possuem custo e tempo inversamente proporcionais à renda dos habitantes. O autor recomenda um conjunto de investimentos em infraestrutura e gestão de transportes públicos, distribuídos de modo equilibrado na cidade, que dependem de acordos institucionais e de articulação entre as instâncias municipal, estadual e federal.

Nakano (cap. 10) discute os desafios do desenvolvimento econômico para o planejamento urbano municipal, a partir da análise de um conjunto de intervenções urbanísticas previstas para áreas estratégicas indicadas no plano diretor de São Paulo. Enfatiza a necessidade do repovoamento intraurbano com usos diversificados e uma distribuição mais equilibrada das atividades econômicas no território.

A questão da macrometrópole e o papel central de São Paulo é fundamental para Tapia e Silva (cap. 11), que evidenciam a necessidade de novos modelos de governança metropolitana, com arranjos institucionais capazes de enfrentar as transformações socioeconômicas em curso.

Enfim, os argumentos expostos, ao longo do livro, sinalizam que as oportunidades ligadas ao desenvolvimento econômico, articulado ao conhecimento e à inovação, dependem de uma melhor distribuição espacial dos setores produtivos modernos na cidade e de uma maior interação entre diversidade econômica e sociedade, estratégias fundamentais às políticas públicas, municipal e metropolitana, em prol de uma cidade justa e equitativa.

Angélica T. Benatti Alvim é arquiteta e urbanista (Belas Artes, SP), mestre, doutora (FAU-USP), professora e atual coordenadora do Programa de 
Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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