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São Paulo

Exposições marcam inauguração da Biblioteca Brasiliana Mindlin

Os pesquisadores, no entanto, terão ainda de aguardar até o dia 2 de abril para ter acesso aos livros físicos

Ricardo AmadoA biblioteca fica em um edifício moderno de 20 mil metros quadrados dentro da Cidade Universitária, em São PauloRicardo Amado

Agência FAPESP – Um novo capítulo da história da biblioteca formada pelo casal Guita e José Mindlin começa a ser escrito a partir do último sábado (23/03), com a abertura para o público do edifício que agora abriga os mais de 32 mil títulos da coleção brasiliana doados em 2006 pelo bibliófilo e empresário à Universidade de São Paulo (USP).

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin fica em um edifício moderno de 20 mil metros quadrados dentro da Cidade Universitária, em São Paulo, projetado pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb (neto do casal), com assessoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.

A partir de hoje, 25 de março, o público poderá conferir a exposição permanente Não faço nada sem alegria – lema do ex libris da biblioteca –, com painéis incluindo imagens, textos e vídeos sobre a vida do casal, a formação da biblioteca, a construção do edifício, a cultura, a materialidade e a conservação do livro, a história da imprensa e o prazer da leitura.

“A exposição de longa duração foi pensada junto com a arquitetura do edifício; há, por exemplo, imagens de Mindlin lendo trechos de poemas ou do Grande Sertão Veredas”, disse Pedro Puntoni, diretor da biblioteca e coordenador do Projeto Brasiliana USP.

Uma segunda exposição, de curta duração, prevista para seguir até o dia 28 de junho, apresentará os 100 livros e documentos mais valiosos, importantes e significativos da Biblioteca Mindlin, devidamente protegidos em vitrines de vidro e metal.

Obras originais de autores como o viajante alemão Hans Staden (1525-1579), o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), o empresário português Gabriel Soares de Sousa (1540-1591) e os escritores brasileiros João Guimarães Rosa (1908-1967) e Graciliano Ramos (1892-1953) integrarão essa mostra, que inclui ainda 12 iPads, para que os visitantes folheiem virtualmente alguns dos livros expostos – que também estão disponíveis, digitalizados, no site da biblioteca.

Digitalização do acervo
Parte da biblioteca que é inaugurada agora – aproximadamente 3,5 mil títulos – está disponível para download no site da instituição, que é um órgão da Pró-Reitoria e Extensão da USP.

“Temos mais títulos digitalizados, mas estamos colocando aos poucos [no site], porque o maior trabalho não tem sido a digitalização e sim os metadados, a catalogação, a preparação”, afirmou Puntoni, professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

O projeto de digitalização da Brasiliana Mindlin, considerada a mais importante coleção do gênero formada por um particular, contou no seu início com apoio da FAPESP, que, segundo o diretor, foi importante para a montagem do laboratório de digitalização e a criação do site.

“A pesquisa apoiada pela FAPESP resultou também na definição de uma plataforma para a digitalização de livros raros e documentos de acervos memoriais”, disse Puntoni.

Várias outras instituições culturais, como a Biblioteca Mário de Andrade, o Instituto Moreira Salles, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Arquivo Público do Estado de São Paulo, também estão usando ou em vias de usar esse produto desenvolvido com o apoio da FAPESP, a Plataforma Corisco, que é ao mesmo tempo um software, uma política e um conjunto de regras e procedimentos.

De acordo com Puntoni, o projeto da Brasiliana digital obteve apoio da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O apoio da FAPESP nos permitiu avançar com um projeto, consolidá-lo, e o BNDES veio e bancou a continuidade dele”, afirmou. O projeto está organizado em um núcleo de pesquisa coordenado por Puntoni e pelo professor Edson Gomi, da Engenharia da Computação da Escola Politécnica da USP.

A digitalização deve ser retomada agora com mais equipamentos e equipe maior, mas o público já pode fazer o download, por exemplo, da obra completa de autores como Joaquim Nabuco, Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar e Casimiro de Abreu.

Abertura para pesquisa
Os pesquisadores, no entanto, terão ainda de aguardar até o dia 2 de abril para ter acesso aos livros físicos. A partir de então, a consulta poderá ser feita mediante agendamento (regras no site), inicialmente em um horário reduzido, das 13h às 17h.

“Assim que conseguirmos a contratação de mais bibliotecários, vamos atender também pela manhã, de segunda a sexta”, afirmou Puntoni. Atualmente com 16 funcionários, a biblioteca deverá chegar a 33. Mas ela conta ainda com o trabalho de colaboradores, entre bolsistas, professores, alunos de pós e da graduação e estagiários.

Os pesquisadores são “antigos conhecidos” da Brasiliana Mindlin, que a consultavam desde a época em que ela estava abrigada na casa de Guita e José Mindlin, no Brooklin, zona sul de São Paulo. O próprio Puntoni passou a frequentá-la, como pesquisador, quando preparava o seu mestrado sobre a escravidão africana no Brasil Holandês e as guerras do tráfico no Atlântico Sul, no início da década de 1990.

Estudiosos das áreas de história da ciência, história do livro e da leitura, história do Brasil e de humanidades, entre outros, deverão ter interesse especial em investigar o acervo, formado ao longo de mais de 80 anos.

A biblioteca já abriga diversos grupos de pesquisa e tem se destacado como um centro de investigação na área das humanidades digitais, de estudiosos interessados em explorar a produção, a organização e a difusão da informação no meio digital (veja o site do grupo que é coordenado pela professora Maria Clara Paixão de Souza: http://humanidadesdigitais.org).

O curioso é que o acervo não parou de crescer com a morte de José Mindlin, em 2010. Apesar de no documento de doação à USP assinado por ele constar 17 mil títulos, descobriu-se depois, no processo de inclusão no sistema Dedalus de catalogação da USP, que na verdade a coleção era formada por pelo menos 32 mil títulos, correspondentes a cerca de 60 mil volumes.

“Muitos não haviam sido catalogados por José e pelas pessoas que o ajudavam. Fizemos uma assinatura de uma lista complementar de mais de 15 mil títulos”, afirmou Puntoni. Além disso, as doações não pararam de acontecer e a biblioteca também foi autorizada a ter uma verba para novas aquisições.

“Isso mostra um lado importante, que é essa dimensão de que a biblioteca é viva; ela não foi pensada para ser um memorial. Não é uma biblioteca morta, congelada. Não é a coleção do José Mindlin. É a biblioteca que ele criou, que continua viva, que vai continuar se expandindo”, afirmou Puntoni. “Queremos continuar recebendo doações, sobretudo dos bibliófilos, de livros raros e importantes.”

Biblioteca de obras raras

Além do bloco que está sendo inaugurado agora, o edifício da Brasiliana tem uma outra parte que ainda está em obras. Esse segundo bloco, previsto para ficar pronto em junho ou julho próximo, deverá abrigar o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e o departamento técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP, responsável pelo gerenciamento das 70 bibliotecas da universidade e pela Biblioteca de Obras Raras, que está em processo de criação.

“A Biblioteca de Obras Raras foi pensada como um serviço para todas as bibliotecas da USP”, afirmou Puntoni. “Nem todas têm condições de guarda, conservação e segurança dessas obras.”

Assim, as faculdades que quiserem poderão ter as obras mais raras de suas bibliotecas guardadas de forma apropriada e digitalizadas. “Quem quiser trazer para cá terá uma guarda permanente, com câmaras de segurança, ar condicionado e profissionais capacitados.”

A digitalização dos títulos dessa biblioteca também começou. Segundo o diretor, já foram digitalizados quase 2,5 mil títulos de obras raras da USP. “Quando lançarmos a biblioteca física, já teremos uma política e uma biblioteca digital.”

A ideia é ainda promover eventos, como seminários e conferências no auditório do edifício, com capacidade para 300 pessoas, que também será inaugurado no sábado e recebeu o nome István Jancsó, em homenagem ao primeiro diretor da Biblioteca Mindlin, falecido em março de 2010, que concebeu todo o projeto da Brasiliana.

Além do auditório, da Biblioteca Mindlin e das duas salas de exposições, o bloco que será inaugurado agora tem uma terceira sala para exposições, uma livraria da Edusp (já em funcionamento) e um espaço para cafeteria, ainda desativado.

Mais informações, como as regras para agendamento de pesquisas e horários de funcionamento, estão em: www.brasiliana.usp.br.

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