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Chariklo

Astrônomos encontram anéis em objeto celeste

A característica era conhecida apenas em quatro planetas gigantes no sistema solar

A superfície escura de Chariklo é contrastante com o brilho dos anéis

L. Calçada/M. Kornmesser/Nick Risinger / ESO A superfície escura de Chariklo é contrastante com o brilho dos anéisL. Calçada/M. Kornmesser/Nick Risinger / ESO

Um grupo internacional de astrônomos encontrou anéis em torno de um corpo celeste relativamente pequeno do nosso sistema solar chamado Chariklo. A descoberta contraria a noção de que esse tipo de estrutura só pudesse existir em planetas gigantes, já que só tinha sido observada em Júpiter, Urano, Netuno e, é claro, Saturno – o planeta conhecido exatamente por seus anéis. O achado foi publicado ontem (26/3) no site da Nature, em artigo que envolve 11 pesquisadores brasileiros em 7 instituições.

Chariklo foi descoberto em 1997 entre as órbitas de Saturno e Urano e pertence à categoria dos centauros, corpos celestes gelados que habitam órbitas instáveis na região de planetas gigantes.  O achado pode ser indício de que os anéis são mais comuns do que se pensava. “Seria muita sorte encontrarmos anéis logo nas nossas primeiras observações”, diz Felipe Braga Ribas, do Observatório Nacional no Rio de Janeiro, primeiro autor do artigo. “Só agora começamos a estudar os centauros por meio de ocultações estelares”, explica. “Em menos de 10 milhões de anos Chariklo deve sair dessa região”, prevê o pesquisador. É um tempo considerado relativamente curto pelos astrônomos.

Chariklo é importante por ser o maior dos centauros já identificados, com um diâmetro de cerca de 250 quilômetros (km). Ele tem sido estudado por uma técnica conhecida como ocultação, que funciona de maneira semelhante a um eclipse observado por telescópios. Depois de prever quando o objeto passaria em frente a uma estrela brilhante, uma tarefa liderada por Julio Camargo, do Observatório Nacional, o extenso grupo de colaboradores de diversos países voltou sua atenção para suas características, por meio de treze telescópios na América do Sul.

Invisíveis desde a Terra pela distância, os anéis seriam um belo espetáculo se observados da superfície de Chariklos

L. Calçada/M. Kornmesser/Nick Risinger / ESO Invisíveis desde a Terra pela distância, os anéis seriam um belo espetáculo se observados da superfície de ChariklosL. Calçada/M. Kornmesser/Nick Risinger / ESO

A principal observação, que surpreendeu os envolvidos, foi obtida pelo telescópio dinamarquês na montanha La Silla, no Chile. Cerca de 10 segundos antes e 10 segundos depois da ocultação causada pela passagem do objeto na frente da estrela, os equipamentos detectaram eclipses mais sutis. Foram causados pelos dois anéis que circundam o centauro, apelidados pelos pesquisadores de Oiapoque e Chuí, em homenagem aos rios que marcam o norte e o sul do Brasil. “Aproximadamente metade do brilho de Chariklo vem dos anéis”, disse Felipe Braga Ribas em conferência de imprensa no Observatório Nacional. Eles contêm gelo de água, acredita-se que numa proporção de 40%.

O primeiro, mais próximo de Chariklo, tem uma espessura estimada de 6,6 km, enquanto o segundo mede 3,4 km. Um aspecto surpreendente é eles estarem separados por 8,7 km quase sem matéria. A expectativa dos astrônomos é que haja ali alguma lua que mantenha esses anéis confinados – por essa função conhecida como satélite-pastor. Essa hipótese, além da ideia de que os anéis foram formados por uma colisão que espirrou fragmentos para a órbita em torno de Chariklo, deverá ser examinada em futuras ocultações. A próxima está prevista para final de abril.

Também há planos de se fazer observações por meio do satélite espacial Hubble. “Vamos fazer o pedido de tempo”, afirma Braga Ribas. “Se for aceito, a observação deve acontecer em 2015.” Mas ele não aposta muito nessas imagens. “Chariklo está tão distante que a imagem que se consegue obter ocupa apenas 2 pixels do Hubble.” É muito pouco para se enxergar detalhes. Os dados mais reveladores devem vir mesmo de outras ocultações, além de estudos com espectroscopia que revelam a composição do centauro, realizados por outros grupos.

Além de contribuir para avanços científicos importantes, os estudos de ocultações têm a particularidade de serem bastante democráticos. “É uma ciência bonita pela sua simplicidade, mas é muito poderosa”, conta Braga Ribas. “Ela pode ser feita por muitas pessoas, profissionais e amadoras, usando telescópios profissionais e amadores.”

Artigo científico
Braga-Ribas, F. et al. A ring system detected around the Centaur (10199) Chariklo. Nature. On-line 26 mar. 2014.

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