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fapesp week beijing

Espaço para cooperação

Simpósio realizado pela FAPESP e pela Universidade de Pequim busca incentivar colaboração entre pesquisadores do Brasil e da China

Palácio de verão, em Beijing

Ricardo ZorzettoPalácio de verão, em BeijingRicardo Zorzetto

de Beijing

Com a exposição Brazilian Nature Mystery and Destiny, a FAPESP iniciou nesta terça-feira, 15 de abril, em Beijing, capital da China, mais uma etapa de seus esforços de aumentar a projeção internacional da ciência brasileira e de estimular a cooperação com grupos estrangeiros, além de atrair talentos de alto nível para o país. Ao lado de fotos atuais de plantas, flores e frutos dos diferentes ecossistemas brasileiros, as reproduções de pranchas da Flora brasiliensis – a mais importante obra de referência sobre as plantas do Brasil elaborada no início do século XIX pelo botânico alemão Carl Philipp von Martius – permanecerão expostas ao público até 29 de abril no primeiro andar da biblioteca da Peking University (PKU), a maior e mais bem classificada instituição superior de ensino e pesquisa da China segundo rankings internacionais.

A abertura da exposição foi acompanhada por um seleto grupo de pesquisadores de áreas da ciência estratégicas para o Brasil e a China, além de chineses que estudam português na PKU, e marcou o início da FAPESP week Beijing. Realizada em parceria com a PKU, essa é a primeira edição do evento que a FAPESP promove este ano – e a sétima desde 2011 – com o objetivo de estimular a internacionalização da ciência brasileira. Durante a FAPESP week Beijing cerca de 30 pesquisadores de alto nível dos dois países se reúnem até o dia 18 deste mês na capital chinesa para apresentar uma visão do que seus grupos vêm produzindo de mais avançado em áreas do conhecimento tão diversas como ciências de materiais, fontes renováveis de energia, clima, ambiente, medicina e agricultura, consideradas essenciais para o futuro dos dois gigantes em desenvolvimento.

Integrantes dos chamados Brics, a China e o Brasil são, respectivamente, a segunda e a sétima maiores economias do mundo. E começaram nos últimos tempos a perceber a necessidade de aumentar e fortalecer a cooperação na área de ciência e tecnologia. A produção científica brasileira e chinesa partiram de níveis semelhantes e muito modestos no início dos anos 1980 – era da ordem de centenas de artigos publicados em revistas indexadas na base de dados Web of Science, da Thomson Reuters – e cresceu aceleradamente desde então, em ritmo vertiginoso na China. Em 2011 a produção brasileira alcançou cerca de 30 mil artigos por ano (2,6% da produção mundial), enquanto a chinesa ultrapassou os 150 mil artigos por ano (11% da produção mundial), segundo o estudo Building Bricks, publicado pela Thomson Reuters em fevereiro de 2013. Características econômicas e políticas de cada um desses países justificam a diferença no ritmo de crescimento. Com uma população seis vezes menor que a chinesa, o Brasil tem pouco mais de 100 mil pesquisadores – na China esse número está na casa de 1 milhão.

Alguns pesquisadores atribuem o crescimento superacelerado da ciência chinesa a uma forte política de estado adotada nas duas últimas décadas. “As autoridades chinesas “reconheceram que a pesquisa científica e a educação em nível superior são essenciais para conquistar a liderança global”, escreveram os pesquisadores Philip Altbach, do Centro para Educação Superior Internacional do Boston College, Estados Unidos, e Qi Wang, da Escola de Educação da Universidade Shangai Jiao Tong, na China, em artigo publicado em 2012 na revista Scientific American. Nesse período, o número de estudantes do ensino superior saltou de 860 mil para 23 milhões e o de estudantes inscritos no doutorado de 280 mil para 1,6 milhão na China.

“A cooperação com a China é uma prioridade e este simpósio é um passo importante para estabelecermos uma colaboração”, afirmou Celso Lafer, presidente da FAPESP, na manhã do dia 16, durante a abertura do ciclo de conferências da FAPESP Week Beijing.

“Hoje um sonho se torna realidade”, disse Enge Wang, presidente da PKU, ao contar sobre a visita que fez ao Brasil e à FAPESP em outubro de 2013 para começar a conversar sobre a possibilidade de cooperação entre os pesquisadores dos dois países. “Acreditamos sinceramente que o simpósio que começa hoje seja um novo passo para uma colaboração duradoura”, completou Yansong Li, vice-presidente PKU.

“A ideia do encontro é colocar em condições de igualdade os pesquisadores líderes do Brasil e da China para compartilhar a visão específica dos temas do simpósio e verificar que há espaço para trabalho e cooperação”, afirmou Celso Lafer, que lembrou ainda que este ano se completam quatro décadas do restabelecimento das relações diplomáticas do Brasil com a China. “Minha crença pessoal é não só de que há esperança para trabalho em comum como há prioridade na colaboração”, disse Valdemar Carneiro Leão, embaixador do Brasil na China, presente ao evento.

“A China tem cerca de 1,5 milhão de estudantes no exterior”, contou Jun Fang, vice-diretor-geral do Departamento de Cooperação e Troca Internacional do Ministério da Educação. Segundo Fang, a comunidade de estudantes brasileiros na China em 2013 era de apenas cerca de 1.500 pessoas. “Há muito espaço para aumentar o intercâmbio entre os estudantes dos dois países”, disse.

Logo após a sessão de abertura, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da FAPESP, apresentou uma visão geral sobre a fundação, a economia de São Paulo e a produção científica paulista, que corresponde a quase metade da brasileira. E Shiyi Chen, vice-presidente da PKU, abordou as estratégias da Universidade de Pequim, a mais proeminente universidade de pesquisa da China, com 39 mil estudantes (8,5 mil deles de doutorado), para se tornar uma instituição de ensino e pesquisa de nível internacional nos últimos anos.

À tarde as apresentações se concentraram na área de ciências de materiais e nanotecnologia. Zhongfan Liu, diretor do Centro de Ciência e Tecnologia em Nanoescala da PKU, apresentou o trabalho de seu grupo que tenta aprimorar a produção de grafeno de alta qualidade. Formado por folhas de carbono de apenas um átomo de espessura, o grafeno é um material promissor para a indústria eletrônica por suas propriedades elétricas e resistência à tensão. Lianmao Peng, do Laboratório de Física e Química de Nanoequipamentos, também da PKU, controu sobre os experimentos que seu grupo tem feito associando nanotubos de carbono (folhas de grafeno enroladas) de diferentes diâmetros para a capacidade de absorção e emissão de luz em equipamentos optoeletrônicos, enquanto Fei Wei, do Laboratório de Engenharia de Reação de Química Verde de Beijing e da Universidade Tsinghua, falou dos possíveis usos industriais que os nanotubos de carbono podem ganhar à medida que se aumente a escala de produção e se reduzam os custos. Em sua apresentação, Fernando Galembeck, diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia, falou da descoberta da higroeletricidade (o surgimento expontâneo de diferença de potencial elétrico em gotas de água) por seu grupo e dos padrões de distribuição de cargas elétricas sobre a superfície de diversos materiais. Já Fernando Alvarez, do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas, abordou as técnicas usadas para o preparo de superfícies para a produção de nanopartículas metálicas auto-organizadas.

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