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Obituário 

Inovador da história

Professor emérito da USP, José Sebastião Witter foi pioneiro em estudos sobre o futebol

Witter: “Sempre fui um bom professor. Aprendi a ensinar dando aulas nos cursos primário e secundário”

eduardo cesarWitter: “Sempre fui um bom professor. Aprendi a ensinar dando aulas nos cursos primário e secundário”eduardo cesar

O historiador José Sebastião Witter, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), morreu no dia 7 de julho, aos 81 anos, em Mogi das Cruzes (SP). Formado em história pela FFLCH-USP, Witter foi orientando no mestrado e no doutorado do professor catedrático Sérgio Buarque de Holanda, de quem foi assistente.

Especializado em história do Brasil, publicou ao longo de sua carreira 15 livros e grande número de capítulos em obras coletivas e artigos em revistas especializadas e sobre temas culturais. Entre os temas de pesquisa de Witter estavam a imigração alemã, a fundação do primeiro partido republicano, arquivos históricos – e o futebol. Dirigiu o Arquivo Público do Estado de São Paulo de 1977 a 1987, o Instituto de Estudos Brasileiros da USP de 1990 a 1994 e o Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, de 1994 a 1999.

“Trata-se de um raríssimo inovador na área à qual dedicou sua vida, que inovou a cultura de todas as instituições por onde passou, trabalhando intensamente pela sua modernização e sem ficar refém das adversidades, empreendendo sempre. Também foi um autor inovador – pioneiro, por exemplo, nos estudos acadêmicos do futebol”, afirmou à Agência FAPESP o colega e amigo José de Souza Martins, também professor emérito da FFLCH-USP e membro do Conselho Superior da FAPESP.

Professor primário num colégio público de Mogi das Cruzes, Witter graduou-se em história na USP com a ajuda de uma prerrogativa instituída nos anos 1940. Ela permitia a professores aprovados no vestibular da USP o afastamento de suas funções para que pudessem fazer o curso superior na área escolhida. Entre a sua diplomação como professor primário e a sua contratação no Departamento de História, convidado por Sérgio Buarque de Holanda, Witter lecionou sempre em escolas públicas, como ressaltou em entrevista à Pesquisa FAPESP em junho de 2006. “Sempre fui um bom professor, não tenho falsa modéstia. Aprendi a ensinar dando aulas nos cursos primário e secundário”, afirmou.

Nos anos 1970, inovou ao dar tratamento acadêmico ao futebol. Como professor do Departamento de História da FFLCH, ministrou o primeiro curso de história do futebol na USP. Mais tarde, organizaria obras como Futebol e cultura, em colaboração com José Carlos Sebe Bom Meihy, e escreveria O que é futebol e Breve história do futebol brasileiro. Ao lado desse curso, trabalhou sempre como professor na área de história do Brasil colonial, imperial e republicano nos cursos de graduação.

Witter trabalhou na preservação e proteção dos acervos documentais e na modernização dos arquivos históricos. “Dono de uma concepção inovadora na proteção e disponibilização de acervos documentais, é o grande responsável pelo enorme salto nas condições de realização da pesquisa histórica no estado de São Paulo. Sem ele, ainda estaríamos não muito longe das modestas condições de pesquisa que aqui havia nos anos 1950”, disse José de Souza Martins.

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