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CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ

USP faz o Brasil ser um país melhor

A USP faz o Brasil ser um país melhor. Não é pouco. Além disso, no âmbito do ensino superior é certamente a instituição que mais contribui para esse objetivo nacional.

Em consequência da estratégia de internacionalização da pesquisa paulista, tenho visitado muitas entidades estrangeiras ligadas à pesquisa. Invariavelmente a USP já é conhecida dos pesquisadores, e existe sempre grande interesse em interagir e colaborar com pesquisadores da USP. Grande é também o interesse em receber estudantes da universidade.

Com todas essas realizações, e muitas outras que são mostradas neste suplemento da revista Pesquisa FAPESP, não surpreende que os brasileiros e os paulistas esperem mais ainda da USP. Afinal, daqueles comprometidos com a excelência e capazes de entregar resultados excelentes, espera-se sempre mais e melhores resultados.

O problema é que as pressões muitas vezes são antagônicas: uns querem mais vagas, outros demandam mais engenheiros, outros ainda demandam melhores engenheiros. Será que sempre será possível oferecer mais e melhores engenheiros? Qual será o limite do razoável? Alguns setores demandam mais interação com empresas, outros esperam mais apoio da universidade a sindicatos e organizações não governamentais. Quase todos gostariam que mais pacientes fossem atendidos nos hospitais da universidade.

Muitas vezes os mesmos que criticam o alto custo da USP a criticam porque não aparece entre as 50 primeiras de rankings universitários internacionais, sem perceber que, nas universidades que costumam aparecer nas melhores colocações, como Berkeley, Davis ou Stanford, o dispêndio anual por professor, para usarmos um indicador intensivo e não extensivo, é de duas (Berkeley, Davis) a cinco (MIT, Stanford) vezes maior do que na USP.

Com uma fortíssima interação entre ensino e pesquisa, motor reconhecido da qualidade acadêmica, a USP forma mais doutores do que qualquer universidade no Brasil e é, nisso, uma das primeiras do mundo. Anualmente autores da USP publicam 22% dos artigos científicos com autores no Brasil, o que representa mais que o triplo do que publicam os autores da UFRJ ou da UFMG, que são as maiores universidades federais no país. Representa também um percentual duas vezes maior do que o que o sistema da Universidade da Califórnia representa no total da produção científica dos Estados Unidos.

Em termos de impacto científico, os artigos de autores na USP recebem citações na literatura especializada em intensidade bem superior à média nacional, aproximando-se da média mundial, sendo que na área de física, em anos recentes, os autores da USP superaram largamente a média mundial. Anualmente a USP gradua em torno de 7.400 profissionais e responde por 6% do total de engenheiros formados em todas as 111 universidades públicas no Brasil.

A interação com a sociedade é intensa, mesmo que algumas vezes pouco reconhecida até mesmo internamente à universidade. Egressos da USP ocupam posições de liderança em todas as esferas da vida nacional, seja na política, nos negócios, na indústria, na agricultura, na pesquisa científica e tecnológica, nas artes e na cultura, no jornalismo, na educação ou na vida acadêmica. Os contratos de pesquisa com empresas representam 5% do total de recursos destinados à pesquisa na universidade, valor igual à média das universidades norte-americanas em 2012.

O que faz da USP uma universidade mundialmente reconhecida é seu histórico compromisso com a busca da excelência acadêmica, como acontece nas melhores universidades do mundo. Essa busca aparece em cada pequena ação da universidade, aparece nas intermináveis discussões que precedem as decisões, nas reversões de rumo e nas manutenções de rumo, nas contradições e nas concordâncias. Porque muitas vezes a excelência não é um alvo sólido e concreto, parece mudar à medida que dele nos aproximamos, como se fosse uma miragem. Frequentemente o funcionamento de uma universidade parece, aos que olham de fora, uma confusão sem objetivos. Para quem as conhece é mais fácil ver que o método parece mesmo confuso, mas com objetivos bem definidos e resultados que levam ao progresso acadêmico.

A intensidade da atividade de pesquisa, especialmente após a criação do regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa no início dos anos 1960 e com a institucionalização da pós-graduação, no final da mesma década, permitiu à universidade criar um ambiente enriquecedor do ensino e da aprendizagem, fortemente conectado internacionalmente.

O regime de autonomia constitucional com vinculação da receita orçamentária à arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 1989, permitiu novo impulso, com crescimento nas vagas, nas matrículas, no número de concluintes e na qualificação da pesquisa e da pós-graduação. Desde 1989, enquanto o número de professores cresceu 6% (de 5.669 para 6.008), o de alunos de graduação cresceu 82% e o de alunos de pós-graduação, 116%. O número de concluintes na graduação cresceu 97% e o de titulados na pós-graduação aumentou 260%! Após a instalação do regime de autonomia, foi como se a USP criasse dentro de si, e em benefício do contribuinte paulista, o equivalente a uma Unicamp, ou uma UFMG, em termos de resultados educacionais e acadêmicos, sem aumentar o número de professores e o de funcionários.

Volto ao início para concluir. A USP faz o Brasil ser um país melhor. Não é pouco, e há muito a comemorar. Parabéns à USP. Nos próximos 80 anos esperamos muito mais do que nos primeiros 80.

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