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Cérebro

Neurônios engajados

Tecnocienciasdaniel buenoEm 2005, a proibição do comércio de armas de fogo no Brasil foi rejeitada por quase dois terços dos eleitores num referendo. Por semanas, campanhas publicitárias argumentaram sobre os perigos da venda de armas ou, no campo oposto, ressaltaram a ineficácia desse tipo de controle no país. Mas esses argumentos, contra ou a favor, não influenciaram os votos dos eleitores, sugere um estudo recente. Sob coordenação de Armando Freitas da Rocha e Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da USP, os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral de 1.136 indivíduos enquanto respondiam a um questionário sobre o plebiscito (Journal of Behavioral and Brain Science, dezembro de 2014). Os resultados mostraram que os argumentos favoráveis à proibição do comércio de armas foram considerados verdadeiros por 50% dos participantes, mas apenas 20% das pessoas disseram que os argumentos apresentados pela mídia justificariam a intenção de voto. Um detalhe interessante é que os cérebros dos indivíduos ativaram circuitos cerebrais diferentes ao analisarem argumentos favoráveis e contrários ao livre comércio de armas. Argumentos favoráveis ativaram neurônios de regiões relacionadas à memória retrospectiva e episódica e à avaliação da intenção dos outros. Já os argumentos contrários eram processados por neurônios de regiões ligadas à avaliação de questões de interesse próprio. No geral, a análise de argumentos favoráveis à proibição ativou uma quantidade maior de neurônios, sugerindo ser esse tipo de análise mais complexo que a de argumentos contrários à proibição.

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