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Resenha

Desafios no campo internacional

Relações internacionais – Olhares cruzados Corival Alves do Carmo | Érica Winand, Israel Roberto Barnabé e Lucas Miranda Pinheiro (orgs.) | Fundação Alexandre de Gusmão, 623 páginas

Relações internacionais – Olhares cruzados Corival Alves do Carmo, Érica Winand, Israel Roberto Barnabé e Lucas Miranda Pinheiro (orgs.) Fundação Alexandre de Gusmão 623 páginas | R$ 28,00 Disponível para download gratuito em funag.gov.br/lojaEduardo Cesar

As intensas mudanças pelas quais passaram as relações internacionais e a projeção internacional que o Brasil ganhou nas últimas décadas atraíram olhares de fora e abriram caminhos para novas interpretações sobre nosso papel no mundo. Nesse contexto, formaram-se grupos de jovens pesquisadores em diferentes regiões do país que têm tido iniciativas de destaque.

Relações internacionais, olhares cruzados, resultado de um seminário internacional de pesquisa e extensão da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que contou com apoio da Fundação Alexandre de Gusmão, traz uma contribuição relevante para refletir sobre a área de relações internacionais, não só do ponto de vista dos novos temas, mas também no que se refere aos desafios para consolidar a imagem de um país capaz de influenciar o cenário internacional, ao mesmo tempo que o Brasil busca novas parcerias com atores regionais e globais.

Nessa coletânea, diferentes interpretações se cruzam para mostrar uma diversidade de abordagens teóricas e epistemológicas sobre temas que foram adensando as agendas de pesquisa que hoje são referência para pensar o Brasil. O livro está dividido em seis partes e reúne pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e de países vizinhos.

A primeira parte, dedicada a três autores das teorias clássicas das relações internacionais – Carr, Aron e Abade de Saint-Pierre –, percorre o realismo e o idealismo e mostra como conceitos fundadores são atuais para pensar a política contemporânea. O desafio trazido por novos atores leva à retomada dos clássicos para repensar a sociedade internacional. A segunda parte do livro dá continuidade à análise da nova ordem internacional a partir da perspectiva da reconfiguração de poder mundial. Olhar para as regiões e países que ganharam poder de influência nas últimas décadas é fundamental para um país como o Brasil que busca ampliar suas parcerias para ganhar mais visibilidade internacional. Nesse sentido, Europa e China não poderiam faltar como capítulos deste livro.

A terceira e quarta parte são dedicadas a olhar para os países vizinhos, a partir das novas perspectivas de integração regional, da relação que o Brasil mantém com parceiros estratégicos, como Argentina e Venezuela, e da percepção que se tem das possibilidades de cooperação. A criação do Conselho de Defesa Sul-americano pode ser tomada como um incentivo à cooperação regional, baseada na criação de uma identidade entre os atores sul-americanos. Os estudos nessa área, como se observa nesta obra, contribuem para pensar políticas de defesa à luz das novas questões de segurança.

As duas últimas partes dedicam-se a analisar a evolução da política externa brasileira no período pós-redemocratização. Não há como negar que as relações com os Estados Unidos são um parâmetro importante para revisar nossas próprias ações internacionais, e, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que essas relações mudaram e se tornaram mais complexas. Essas mudanças das relações com países do Norte estão inseridas no contexto de retomada do discurso diplomático brasileiro da “autonomia pela diversificação”. Autonomia marcada pela aproximação do Brasil com países emergentes, como Índia, China, Rússia e África do Sul.

O livro traz ainda dois capítulos de debate conceitual e empírico que permitem refletir sobre o significado que ganhou a atuação do Brasil nos regimes internacionais, analisando como políticas domésticas cada vez mais passaram a influenciar a construção da nossa imagem internacional e como a inserção do país nos regimes levou à formulação mais apropriada de políticas públicas.

Para um país como o Brasil, que busca ocupar um espaço de relevância na governança global e ainda enfrenta desafios na consolidação das suas instituições democráticas, não é possível desvincular o doméstico do internacional. Sua política externa e suas parcerias estratégicas só podem ser pensadas a partir do olhar para dentro.

Este livro representa uma contribuição para refletir sobre diversos temas, hoje centrais para as relações internacionais do Brasil. Trazer, para fundamentar esta análise, olhares cruzados de pesquisadores experientes e jovens docentes reunidos nesse seminário da UFS contribui para responder perguntas que continuam nos desafiando no campo internacional.

Janina Onuki é professora associada do Instituto de Relações Internacionais e pesquisadora do Caeni-IRI/USP.

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