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Thomas Skidmore

Morre o brasilianista Thomas Skidmore

Historiador norte-americano foi autor de estudo considerado clássico

SkidmoreColeção Brown UniversityUm dos mais conhecidos especialistas estrangeiros em assuntos do Brasil, Thomas Skidmore, morreu no sábado (11/6) aos 83 anos, dois dias depois de sofrer um ataque cardíaco. Portador do mal de Alzheimer, o historiador vivia desde 2009 num asilo em Westerley, estado norte-americano de Rhode Island.

Doutor em História Moderna Europeia pela Universidade Harvard, Skidmore veio ao Brasil com uma bolsa de pesquisa de pós-doutorado em 1961, dias depois da renúncia do presidente Jânio Quadros. Sua decisão foi incentivada pela direção da instituição, que pretendia suprir a reduzida quantidade de estudos sobre América Latina nos Estados Unidos.

O historiador viria a dizer que ele e outros brasilianistas da época decidiram pesquisar a região movidos pelo interesse despertado pela revolução cubana (1959). Dos três anos que ficou no Brasil resultou um livro considerado clássico, Brasil: De Getúlio a Castello (1930-64), publicado nos Estados Unidos em 1967 e dois anos depois no Brasil. O estudo foi um dos primeiros a tentar compreender os acontecimentos que levaram ao golpe militar de 1964.

Skidmore publicaria em 1988 Brasil: De Castello a Tancredo, uma continuação que cobre o período entre o golpe e a morte do presidente eleito Tancredo Neves, em 1985. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 2012, Skidmore afirmou que soube do golpe na véspera, quando jantou com Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil.

“Thomas Skidmore tem um lugar notório na historiografia do Brasil”, diz o historiador Marcos Napolitano, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). “Por muito tempo, Brasil: de Getúlio a Castello e Brasil: de Castello a Tancredo foram os únicos manuais sobre a história política e social brasileira contemporânea.”

Parte da comunidade acadêmica brasileira criticava Skidmore por apresentar em seus livros a versão norte-americana da história do país e de ter tido acesso a fontes privilegiadas. O pesquisador respondeu a essas críticas em entrevista à Folha de S. Paulo em novembro de 2012 dizendo que a visão exposta em seus livros não era dele, mas de seus amigos e interlocutores brasileiros, entre eles San Tiago Dantas, chanceler do governo João Goulart, e o historiador Caio Prado Júnior. Quando Prado Júnior foi preso pela ditadura em 1970, Skidmore foi um dos signatários de uma carta de protesto. Em 1984 chegou a ser interrogado pela Polícia Federal por causa de uma declaração sobre a política brasileira. “O que se percebe efetivamente em seus livros sobre o Brasil é uma visão de um estrangeiro liberal, a partir de uma perspectiva mais ou menos distanciada, mas nunca neutra, das paixões políticas do país”, opina Napolitano.

Em 1966, Skidmore se tornou professor da Universidade de Wisconsin, onde ficou por 20 anos e editou o periódico Luso-Brazilian Review. Em seguida dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos na Universidade Brown (em Rhode Island) até a aposentadoria em 1999. Ainda sobre o Brasil, Skidmore escreveu Preto no branco (1976), sobre a questão racial, e a reunião de ensaios O Brasil visto de fora (1994).

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