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Antropologia

Gênero e diferença

Temas tradicionais, como a violência, ganharam novos tratamentos no Pagu, criado sob o impacto dos estudos feministas

Manifestantes da primeira marcha das vadias em São Paulo, em junho de 2011

MáRCIO FERNANDES / AGêNCIA ESTADO / AEManifestantes da primeira marcha das vadias em São Paulo, em junho de 2011MáRCIO FERNANDES / AGêNCIA ESTADO / AE

A trajetória do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu da Unicamp ficou marcada por pesquisas que questionam a visão polarizada do mundo, a sua compreensão binária por categorias como mulher/homem, negro/branco, homossexual/heterossexual, velho/jovem ou rural/urbano. Segundo a antropóloga Regina Facchini, pesquisadora do núcleo, a partir dos anos 1980 os estudos em ciências humanas passaram a articular gênero a outras categorias de diferença – como classe, raça, geração, nacionalidade e religião –, abrindo novas abordagens às reflexões sobre temas tradicionais, entre eles a violência.

O núcleo foi institucionalizado em 1993, a partir do trabalho de um grupo de estudos de professores e alunos de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Uma das motivações foi a participação, em 1988, da pesquisadora Adriana Piscitelli em um curso da antropóloga e militante feminista Kate Young na Inglaterra. O cadernos pagu, revista quadrimensal, foi criado no mesmo ano, divulgando reflexões sobre pesquisas acadêmicas em diálogo com as teorias de gênero e feministas. Uma das mentoras da criação do núcleo foi a antropóloga Mariza Corrêa, autora do livro clássico Morte em família – Representações jurídicas dos papéis sexuais, que inspirou muitas pesquisas sobre violência contra as mulheres.

A historiadora Iara Beleli, coordenadora do Núcleo Pagu, explica que o nas-cimento do núcleo foi pautado por leituras de teóricas feministas que davam centralidade à categoria “gênero”. Segundo ela, hoje despontam outros interesses, como a análise dos novos feminismos que orientam as “marchas das vadias” – protestos contra a ideia de que vítimas de estupro provocaram a violência em razão de comportamento ou vestimenta “inadequados” – e outras ações mobilizadas pela internet.

O nome Pagu foi sugerido por Elisabeth Souza-Lobo, então professora do curso de ciências sociais na Universidade de São Paulo (USP) que participava do grupo de estudos que originou o núcleo. Pagu era o apelido de Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), escritora e jornalista que defendia a participação ativa das mulheres na sociedade.

O Núcleo Pagu está institucionalmente ligado à reitoria da Unicamp, mas mantém estreita ligação com o IFCH . A contribuição dos professores do Departamento de Antropologia tem sido central no debate de ideias e na realização de projetos. Primeiro antropólogo contratado pela Unicamp, Antonio Augusto Arantes, hoje professor aposentado, conta que, no final dos anos 1960, conheceu os antropólogos Peter Fry e Verena Stolcke – que orientou o mestrado de Mariza Corrêa – durante uma viagem de estudos na Inglaterra. Com eles, fundou o departamento, em 1970. Embora formados pelas teorias centrais da antropologia britânica, os autores incluíram em seus repertórios o pensamento estruturalista de Claude Lévi-Strauss e o trabalho de historiadores como Eric Hobsbawm e Edward Palmer Thompson. O Núcleo Pagu mantém ainda diálogos frequentes com docentes dos departamentos de Sociologia e Ciência Política do IFCH, entre outras unidades.

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