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Boas práticas

Chantagem e propostas antiéticas

augusto zambonatoO Committee on Publication Ethics (Cope), fórum de editores científicos com sede em Londres que é referência em temas ligados à integridade científica, detectou o que pode ser um tipo emergente de golpe: a ação fraudulenta de empresas e instituições que se propõem a ajudar pesquisadores a publicar artigos científicos ou prestam consultoria sobre ética na pesquisa. O Cope está pedindo a pesquisadores de todo o mundo que enviem relatos de eventuais chantagens e constrangimentos impostos por tais organizações. “Não vamos investigar casos individualmente, mas gostaríamos de compreender a extensão do problema”, informou um anúncio publicado no site do fórum.

O alerta foi dado em março, num texto publicado no site Retraction Watch por um grupo de quatro pesquisadores liderado por Chris Graf, vice-presidente do Cope, que apresentou várias denúncias. Uma delas envolvia uma empresa chinesa de redação científica que propôs a Richard Holt, editor da revista Diabetic Medicine, um “negócio colaborativo” – ele receberia US$ 1 mil por artigo aceito para publicação. O e-mail da empresa argumentava que era difícil para médicos chineses publicarem em revistas de prestígio, em virtude das barreiras linguísticas, e pedia que Holt usasse sua influência para facilitar o caminho dos manuscritos. O editor respondeu que a proposta era antiética e a comunicaria ao Cope.

Em outro caso, Tamara Welschot, diretora de integridade científica da editora Springer Nature, relatou a reclamação de um pesquisador chinês que foi alvo de ameaças. Ele recebeu um e-mail de uma organização “que trabalha na promoção da ética na pesquisa científica”, alertando que haviam sido encontradas evidências de falsificação em imagens publicadas num artigo de autoria do pesquisador e insinuando que o Ministério da Educação e a Academia Chinesa de Ciências se interessariam em saber do caso. O pesquisador não respondeu, mas logo recebeu outra mensagem, com chantagem explícita. “Você decidiu ignorar o nosso e-mail. Antes de investigar todas as suas publicações, gostaríamos de lhe dar uma chance”, dizia o remetente, que exigia o pagamento de US$ 2 mil num prazo máximo de dois dias. Uma investigação mostrou que o site da entidade era falso.

Por fim, Matt Hodgkinson, coordenador de integridade científica da editora Hindawi, recebeu um e-mail de alguém que se apresentava como um negociante de papers da Rússia e parecia não ter ideia de como funciona a revisão por pares em revistas científicas. Informava que sua empresa tinha a meta de publicar entre 500 e 1.500 papers em 2017 e oferecia“artigos pré-selecionados de alta qualidade” que poderiam“ser escritos pelos principais cientistas da Rússia”. A certa altura, perguntava: “Quais são as condições e prazos? Aceita pagamentos via PayPal?”, referindo-se ao sistema de transferência de dinheiro que passa ao largo dos cheques e dos boletos bancários. Hodgkinson também enviou o caso ao Cope.

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