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A marca do escândalo na carreira

sandro castelliUm grupo de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, mensurou o prejuízo que a retratação de um artigo científico causa à reputação de seus autores. De acordo com um trabalho publicado na revista Research Policy, um ano depois da retratação há um decréscimo médio de 10% na taxa esperada de citações dos outros papers publicados pelos mesmos autores. Se for evidente que o artigo foi cancelado não por erro, mas por má conduta, a queda na taxa de citações pode chegar a 20%, especialmente na produção científica de pesquisadores de renome e alta produtividade.

“A pergunta que fizemos foi: será que as retratações desencadeiam no âmbito individual algum tipo de mecanismo de infecção por meio do qual o autor é punido ou desacreditado por ter sido desonesto ou incompetente?”, disse ao site do MIT o economista Alessandro Bonatti, professor da MIT Sloan School of Management, que escreveu o trabalho juntamente com Pierre Azoulay, também do MIT, e Joshua Krieger, da Harvard Business School. “Constatamos que esse mecanismo de fato existe e se manifesta por meio das citações”, conclui Bonatti. Segundo ele, a comunidade científica aparentemente reavalia o conceito dos pesquisadores após um episódio de retratação, fazendo menos menções a seus trabalhos em novos artigos.

Para chegar a essa conclusão, a equipe do MIT e de Harvard analisou a produção científica de 376 pesquisadores norte-americanos do campo das ciências da vida que publicaram trabalhos, mais tarde retratados, entre os anos de 1977 e 2007. O desempenho deles, em termos de citações, foi comparado com o de um grupo de controle formado por 759 pesquisadores que não sofreram retratação e haviam publicado trabalhos nas mesmas edições dos periódicos em que ocorreram as retratações do primeiro grupo. É certo que artigos científicos têm um declínio natural no número de citações à medida que o tempo passa. O estudo mostrou, contudo, que os artigos ainda válidos dos pesquisadores tiveram um decréscimo adicional de 10% nas citações após o episódio da retratação, que não se relaciona com o processo de obsolescência dos artigos. O trabalho publicado na Research Policy utilizou a mesma base de dados de uma pesquisa de 2014 do mesmo grupo, segundo o qual escândalos causados por retratações têm impacto negativo em artigos sobre temas correlatos, ainda que assinados por outros autores (ver Pesquisa FAPESP nº 202).

Artigo científico
AZOULAY, P. et al. The career effects of scandal: Evidence from scientific retractions. Research Policy. v. 46, 9, p. 1552-69. nov. 2017.

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