Imprimir Republicar

Stephen Hawking

Morre Stephen Hawking

Físico britânico, de 76 anos, sofria de doença neuromotora degenerativa

NASA Stephen Hawking flutua em gravidade zero dentro de um avião modificado, em 2007NASA

Cinquenta e cinco anos após receber o diagnóstico de que tinha uma doença neuromotora degenerativa e de que tinha entre dois ou três anos de expectativa de vida, o físico britânico Stephen Hawking, provavelmente o cientista mais conhecido da atualidade, morreu nas primeiras horas de quarta-feira (14/03) em sua casa em Cambridge, na Inglaterra. “Estamos profundamente tristes que nosso amado pai tenha morrido hoje. Ele era um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos. Sua coragem e persistência, aliada ao seu brilhantismo e humor, inspiraram pessoas em todo o mundo”, disseram, em comunicado, Lucy, Robert e Tim, os três filhos que o físico teve com sua primeira mulher, Jane Wilde.

Hawking era professor da Universidade de Cambridge e tinha 76 anos. Em razão da progressão da esclerose lateral amiotrófica (ELA), foi perdendo os movimentos do corpo até se ver confinado a uma cadeira de rodas nos anos 1960. Em 1985, teve de passar por uma traqueostomia para não morrer e ficou sem voz. Em seus últimos anos, conseguia apenas flexionar um dedo e controlar o movimento dos olhos. Comunicava-se com a ajuda de um sintetizador, cuja voz metálica tinha sotaque americano, motivo de reclamações bem-humoradas do físico.

A longa convivência com a doença não impediu que Hawking tenha sido um dos físicos teóricos mais bem-sucedidos dentro e fora da academia. Para o público leigo, ele era o autor de um best seller internacional, Uma breve história do tempo (editora Intrínseca), livro lançado em 1988 em que fala do Universo, do tempo e do espaço, e de temas mais específicos, como os buracos negros. A obra vendeu mais de 10 milhões de cópias, foi traduzida para 40 idiomas e o tornou uma celebridade mundial.

Sua figura frágil e encurvada virou notícia no mundo todo. Além de obter sucesso e reconhecimento nos meios da pesquisa em física e em cosmologia, Hawking, com sua imagem de uma mente inquieta aprisionada em um corpo torto e paralisado, transformou-se em um ícone da ciência e da cultura. Escreveu 14 livros e teve sua vida contada em filme de 2014, A Teoria de Tudo, que rendeu um Oscar ao ator que o interpretou, Eddie Redmayne. Ele também apareceu em seriados de televisão, como The Big Bang Theory, e em desenhos, como Os Simpsons.

Do ponto de vista científico, a grande contribuição de Hawking ocorreu entre o início e meados dos anos 1970, antes de ele ter virado uma celebridade. Segundo uma ideia proposta pelo físico britânico, os buracos negros – regiões do espaço extremamente compactas onde a gravidade é tão forte que suga tudo, até a luz – deixariam escapar um tipo de energia, que foi denominada radiação Hawking. Essa radiação seria um efeito quântico que faria um buraco negro perder energia aos poucos por meio da emissão de partículas subatômicas. Ela seria a prova de que os buracos negros poderiam encolher e evaporar. Ou seja, para o físico de Cambridge, os buracos negros poderiam ser destruídos, diferentemente do que advoga a relatividade geral, para a qual esses corpos celestes apenas cresceriam e seriam indestrutíveis.

No entanto, a radiação Hawking nunca foi observada. “Hawking propôs um desdobramento da teoria da relatividade geral, levando em conta a mecânica quântica”, explica o físico George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp). “O problema é que hoje não temos tecnologia para medir essa radiação.”

De acordo com o físico Oswaldo Duarte Miranda, da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), seus trabalhos seguintes focaram na tentativa de construir uma “teoria de tudo” que unificasse a teoria de campos (mecânica quântica) com a relatividade geral de Einstein. “Ao longo dessa jornada, Hawking trouxe um vasto conjunto de importantes resultados que aprofundaram nosso conhecimento sobre o Universo primordial, a própria natureza física do espaço e tempo e a teoria de cordas”, escreveu Miranda em nota da Sociedade Astronômica Brasileira.

 

Republicar