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Carta da editora | 266

Algoritmos, chips e elites

A revista britânica The Economist publicou em dezembro passado trechos de um artigo escrito por um programa de inteligência artificial que havia sido alimentado com reportagens do semanário. O resultado mostrou o poder e as limitações do aprendizado de máquina: o texto imitava o estilo de escrita dos jornalistas e falava de temas frequentemente cobertos pela revista, usando frases gramaticalmente corretas – mas que não faziam sentido.

Os algoritmos por trás dos programas ainda não são capazes de escrever este editorial, mas essas sequências de regras e procedimentos lógicos, aplicadas a um conjunto de dados, levam à solução de problemas cada vez mais variados: do caminho para casa com menos trânsito, passando pela recomendação de músicas e filmes até a compra e venda de ações na bolsa e o controle dos estoques, a manutenção e a logística de plantas industriais.

A reportagem de capa desta edição conta como são criados os algoritmos e traz algumas de suas aplicações presentes e futuras. Sua onipresença se deve à facilidade de coletar e armazenar grandes quantidades de informações (Big Data), processadas por computadores cada vez mais rápidos.

Os chips, ou circuitos integrados, são o elemento básico de praticamente todos os equipamentos eletrônicos, incluindo os computadores. Em um mundo cada vez mais dependente desses equipamentos, integrar a indústria mundial de fabricação de chips é um passo importante para o desenvolvimento de equipamentos e soluções inovadores. A partir do anúncio da norte-americana Qualcomm de instalar no Brasil uma fábrica para produzir um chipset, ou série de chips, o repórter Yuri Vasconcelos apresenta um retrato abrangente das tentativas brasileiras de entrar nesse segmento industrial.

A Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) nasceu para elevar a importância da inovação nas estratégias das empresas industriais. Fórum organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a MEI completa 10 anos com uma agenda que busca fortalecer os esforços para incorporar a inovação no cotidiano das empresas. Sua atuação, objeto de reportagem à página 39, procura influenciar políticas públicas e o ambiente institucional, assim como compartilhar experiências de sucesso que permitam acelerar a adoção de estratégias de inovação.

A MEI congrega a liderança empresarial do setor industrial; as elites brasileiras são o objeto de pesquisa da socióloga política Elisa Reis. A posição institucional é a chave do seu conceito de elite: ela é formada por pessoas que controlam recursos materiais e simbólicos, ocupando altos postos com capacidade de influenciar ou tomar decisões importantes. Em entrevista ela fala do seu principal objeto de pesquisa: entender, frequentemente por meio de estudos comparativos com outros países, como a elite brasileira se relaciona com a pobreza e a desigualdade.

Doutora pelo MIT em uma época na qual a instituição contava com poucas mulheres e estrangeiros, Reis é ativa em organizações científicas internacionais. Às vésperas de se aposentar, pretende manter a pesquisa e a docência – “um momento em que me sinto constantemente desafiada é quando dou aulas” – e defende a produção de conhecimento como um esforço coletivo. Reconhece o anseio pela originalidade, mas considera que a tendência contribui para uma fragmentação excessiva, que dificulta a consolidação e generalização de resultados: “O trabalho em equipe é fundamental para a pesquisa acadêmica”.

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