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Imunologia

Nova estratégia inibe replicação do zika

Pesquisadores desenvolvem peptídeo capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e reduzir a quantidade de partículas do vírus no cérebro de camundongos

David Goodwill/Wikimedia Commons Representação do vírus Zika e do revestimento de seu envelope lipídico, estrutura de origem proteica que garante a integridade de seu material genéticoDavid Goodwill/Wikimedia Commons

Um grupo internacional de pesquisadores, entre eles brasileiros do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG), desenvolveu uma nova estratégia terapêutica para destruir o vírus zika no cérebro. Esse agente infeccioso é especialmente danoso ao sistema nervoso e está por trás de uma ampla gama de doenças neurodegenerativas, como a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré, distúrbio imunológico que leva à destruição da bainha de mielina dos nervos e que pode causar paralisia.

Em um estudo publicado nesta segunda-feira, 22, na revista Nature Materials, eles descrevem o desenvolvimento de um peptídeo (fragmento de proteína) capaz de transpor a barreira hematoencefálica que isola o sistema nervoso central e de reduzir a concentração de partículas virais infecciosas no cérebro, inibindo sua disseminação.

Coordenados pelo engenheiro Nam-Joon Cho, da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, os pesquisadores sintetizaram em laboratório um peptídeo chamado AH capaz de desestabilizar o revestimento do envelope lipídico do zika, estrutura que garante a integridade de seu material genético. “A proposta era de que ele se ligasse à camada lipídica do vírus e desestruturasse sua membrana, desestabilizando seu material genético e inibindo a sua disseminação”, explica Vivian Costa, professora do ICB-UFMG e uma das autoras do estudo.

Entrevista: Vivian Costa
     

A estratégia foi testada em experimentos com camundongos geneticamente modificados que não apresentavam o receptor para uma molécula com atividade antiviral conhecida como Interferons do tipo I. Na falta dessa molécula, o vírus se replica de modo mais agressivo no organismo, gerando uma infecção grave. O tratamento começou três dias após os animais terem sido infectados. Os pesquisadores administraram duas injeções diárias do AH. Todos os 12 animais do grupo-controle, que não foram tratados com o peptídeo, morreram em até sete dias após serem infectados. No outro grupo estavam outros 12 camundongos. Tratados com o peptídeo, 80% sobreviveram.

A administração terapêutica do AH reduziu a carga viral no sangue, no baço, no cérebro e no nervo óptico dos animais. Os pesquisadores também testaram a eficácia do AH contra outros vírus, como o da dengue, febre amarela e chikungunya. O peptídeo se mostrou eficaz contra todos esses agentes infeciosos, reduzindo em até 50% a carga viral em experimentos in vitro. O próximo passo, segundo a pesquisadora, é testar a estratégia contra os vírus da dengue, febre amarela e chikungunya em camundongos. “Em relação à aplicação do AH contra o zika, já estamos avaliando-o em experimentos com primatas”, comenta Vivian. Apesar dos resultados promissores, ainda há um longo caminho até que a terapia seja convertida em uma estratégia efetiva contra a infecção causada por esses vírus em humanos.

Artigo científico
JACKMAN, J. A. et al. Therapeutic treatment of Zika virus infection using a brain-penetrating antiviral peptide. Nature Materials. on-line. 22 out. 2018.

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