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Boas práticas

Conflitos de interesse mais transparentes

Boas Práticas adaniel buenoUm grupo de especialistas em informática médica propôs a criação de um registro público mundial de declarações de conflitos de interesse feitas por pesquisadores da área biomédica. Tais declarações, exigidas por exemplo quando investigadores submetem um paper a uma revista científica ou um projeto a uma agência de fomento, apontam as ligações do autor com partes potencialmente interessadas na pesquisa, como indústrias farmacêuticas ou grupos de pressão, que em tese poderiam produzir algum viés nos resultados. A proposta do registro mundial foi lançada num artigo de revisão na edição inaugural da revista Research Integrity and Peer Review, assinado por Adam Dunn, editor-associado da nova publicação e pesquisador do Instituto Australiano de Inovação em Saúde, e por colegas da Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

A proposta baseia-se em cinco premissas. A primeira é estabelecer um compromisso entre agências de fomento, empresas e editores de revistas científicas para fazer valer regras já existentes sobre conflitos de interesse, mas que nem sempre são seguidas – a literatura científica citada por Dunn estima que entre 43% e 69% de artigos e relatórios sobre testes clínicos contêm falhas na informação sobre conflitos de interesse. O artigo menciona o exemplo da iniciativa ClinicalTrials.gov, que tornou obrigatório, em 2000, o registro prévio de todos os testes clínicos feitos nos Estados Unidos. Ela, porém, só se tornou efetiva depois de alguns anos, quando agências e instituições públicas passaram a fiscalizar o cumprimento da medida.

A segunda premissa é a definição de regras para o fornecimento e a atualização das declarações, além de um corpo de auditores que verifique a autenticidade dos dados. A terceira é a possibilidade de interligar registros de declarações de conflitos de interesse disponíveis em bancos de dados de revistas científicas, universidades e agências. Uma ideia é adotar nas declarações um sistema eficiente de identificação de pesquisadores, que poderia ser o Orcid, sigla para Open Researcher and Contributor ID (ver Pesquisa FAPESP nº 238). Tal recurso permitiria visualizar facilmente todos os conflitos de interesse envolvendo cada autor. A quarta é a criação de uma taxonomia de conflitos, capaz de distinguir os diversos tipos de interesses envolvidos e ter uma ideia precisa de suas implicações. A quinta envolve o desenvolvimento de ferramentas eletrônicas para preencher de forma automatizada as declarações com base em informações prestadas previamente.

Dunn e seus colegas admitem que a criação do registro público pode não ser suficiente para impedir a divulgação de pesquisas com viés, mas ajudará a compreender melhor os efeitos do problema e dará mais confiança e transparência ao trabalho dos pesquisadores da área biomédica.

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